Herman Van Rompuy: "É preciso recuperar a confiança"

Herman Van Rompuy: "É preciso recuperar a confiança"
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Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, terá de convencer 25 países a aceitar a reforma do Pacto de Estabilidade e a governação económica proposta pela França e pela Alemanha. O assunto irá dominar a cimeira europeia desta quinta e sexta-feira. A euronews entrevistou Herman Van Rompuy antes de iniciar uma tarefa que sabe ser difícil.

Sergio Cantone, euronews:
Qual será o seu papel agora que a França e a Alemanha vão propor uma revisão, uma reforma do Pacto de Estabilidade?

Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu:
Há as posições de certos países e há as posições de outros. Eu devo encontrar um compromisso. É esse o meu papel. Não se trata de impor o meu ponto de vista. Quando o fizer, tornarei um compromisso ou um consenso impossíveis, por isso, não o farei.

euronews:
Mas o que pensa do conteúdo da proposta que saiu de Deauville?

H. Van Rompuy:
Criámos a impressão que o acordo de Deauville, como lhe chamam, implica uma atenuação do sistema de sanções. Não. O que se disse em Deauville não é mais do que uma repetição do que está no Tratado. O Tratado estipula, claramente, que para sancionar um país com uma situação de défice excessivo é necessária uma decisão do Conselho de Ministros, ou seja, dos Vinte e Sete, com uma certa maioria. Mas sempre foi assim, é o Tratado. Não há nada de novo. A nossa proposta, a proposta da “task force”, também se insere no Tratado.

euronews:
O que se disse também é que a Alemanha teria renunciado a sanções automáticas, ou a uma certa forma de automatismo das sanções porque, justamente nesta revisão do Tratado, considera que há a possibilidade de criar um fundo monetário permanente, que permitiria a restruturação da dívida. É verdade? O que pensa?

H. Van Rompuy:
Bem, eu não estive em Deauville e por isso não posso falar. Eu posso falar da “task force”. Falamos de um sistema permanente de crise, depois do sistema que conhecemos, os famosos 750 mil milhões sobre os quais chegámos a acordo no início de Maio. Se queremos prolongar este sistema, para lá de 2013, é preciso um sistema permanente, mas um sistema permanente com certas condições. Evocamos a participação ou o papel do sector privado.

euronews:
Na sua opinião, caminhamos para a criação de duas zonas euro diferentes, para um euro a duas velocidades?

H. Van Rompuy:
O objectivo final é que haja mais convergência. É o oposto. Mais convergência na zona euro, mais convergência no desenvolvimento económico e mais convergência nas políticas económicas. É para isso que instaurámos esta governação económica e, mais uma vez, o relatório da task force prova que para o conseguir, é agora preciso executar, implementar e pormenorizar.

euronews:
Mas se usarmos as taxas de juro como instrumento, digamos, de sanção, teremos um tratamento diferenciado no seio da zona euro…

H. Van Rompuy:
Tem razão quando fala da actual situação, há…

euronews:
…mas mesmo no futuro, porque se fala de reestruturação da dívida, por exemplo?

H. Van Rompuy:
Eu não falo…

euronews:
Ela foi evocada….

H. Van Rompuy:
Os diferenciais das taxas de juro são diferenciais, na nossa opinião, temporários. Uma vez restaurada a confiança em certos países, os spreads, como dizemos, a diferença entre as taxas de juro de um certo país e as taxas de juro alemãs, vão diminuir. Mas é preciso que antes se recupere a confiança. E essa confiança não será recuperada se não virmos resultados tangíveis no plano económico e orçamental. Os mercados esperam resultados. Por exemplo, com a Grécia, os primeiros resultados são bons. As avaliações da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional são positivas. Mas é preciso continuar com os esforços e esse esforço vai durar ainda dois, três anos.

Para a Grécia existe um pacote de 110 mil milhões para cobrir a fase difícil e durante esse período é preciso implementar reformas. O governo grego fê-lo. Apesar dos grandes problemas a nível interno, dos problemas sociais, dos problemas políticos, a Grécia mantém-se firme. Passa-se o mesmo com outros países. Espanha, Portugal, França e outros iniciaram reformas profundas, que são impopulares, mas os governantes tiveram a coragem de tomar decisões difíceis.

euronews:
O que espera da próxima cimeira com os Estados Unidos em Lisboa? Trabalha bem com a administração Obama?

H. Van Rompuy:
Os Estados Unidos têm uma responsabilidade face ao país e face ao mundo. Lançaram-se, efectivamente, num vasto programa de estímulo orçamental, que também ajudou a economia mundial, mas, como qualquer outro país, os Estados Unidos terão, pouco a pouco, de forma gradual, de reduzir o seu défice.

euronews:
Uma última pergunta. Pensa que os europeus, os cidadãos europeus, terão de habituar-se a reformar-se muito mais tarde?

H. Van Rompuy:
Acredito que é essa a tendência. Um pouco por toda a Europa e no mundo desenvolvido deveremos trabalhar mais, as carreiras serão mais longas. Haverá um impacto na idade da reforma, mas em geral, deveremos trabalhar mais para sustentar o nosso modelo social. Mas é preciso também, e é igualmente importante, que haja um crescimento económico mais importante, um crescimento estrutural mais importante. É, por isso, que devemos aumentar a produtividade, é preciso investir na inovação, é preciso investir na educação – o que ajuda ainda mais.

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