Cisjordânia: miragem ou milagre económico?

Cisjordânia: miragem ou milagre económico?
De  Euronews
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Enquanto o FMI e o Banco Mundial louvam os desempenhos da economia palestiniana, alguns falam de uma falsa aparência. Será que a Palestina tem os meios para a independência que se prepara para pedir?

Ramallah, é a capital económica da Cisjordânia, onde as construções novas abundam. Uma cidade tida como símbolo da prosperidade económica da Palestina. Estima-se que o crescimento do PIB ronde os 10 por cento.

A autoridade palestina prepara-se para requerer um lugar e um reconhecimento de Estado à ONU.

Mas será que a independência política vai trazer autonomia económica para outras regiões, para além de Ramallah?

O director-geral da Bolsa de Valores da Palestina afirma que esta é a Bolsa mais poderosa do mundo árabe.

Um sucesso relativo, acrescenta, pois deve ser entendido no contexto da ocupação israelita.

“Quase não houve perdas nos câmbios, devido à primavera árabe e à segunda crise financeira mundial. Principalmente porque a nossa relação com os mercados locais e internacionais é extremamente limitada. Na economia palestiniana há muitas restrições na atividade económica, por isso não estamos suscetíveis a fluxos de capital internacional. Pode haver crescimento do PIB, mas é basicamente devido a gastos do governo, à ajuda externa para às autoridades palestinas e a dinheiro investido na economia. Não acredito que vá haver um crescimento acentuado no investimento por parte do setor privado. É muito simples, não podemos ter desenvolvimento económico significativo, sem o fim da ocupação”. Paltel é o maior grupo de telecomunicações a operar na Palestina, e também a maior empresa cotada na Bolsa.

O director-geral nota que o mercado tem crescido bastante nos últimos anos, mas, por outro lado, as perspectivas de desenvolvimento são limitadas por causa do contexto político.

“Os acordos políticos com Israel têm permitido às autoridades israelitas colocar o foco no lado das áreas palestinianas. Nós, até agora, não temos uma rede de terceira geração de telemóveis. Se alguém tiver um smartphone como um iPhone, ou blackberry, essa pessoa só poderá usá-los para enviar e-mails, e nunca para navegar na web.
Além disso, os transmissores da empresa estão todos localizados no estrangeiro o que dificulta o nosso trabalho. E, para uma empresa beneficiária, que gera lucro, este tipo de impeditivos tem provocado algumas perdas.”

Depois de ter perdido tudo na sequência da última revolta do povo palestiniano, em 2000, Anan Taher, natural de Nablus, tem feito crescer a sua empresa de distribuição de móveis em Ramallah. Vende para o mercado da Palestina móveis de escritório provenientes de Israel e, sobretudo, de Itália.

“Estamos a utilizar os portos de Israel, o que por vezes cria algumas dificuldades. Os embarques para eles são liberados dentro de um a dois dias. Mas nós, Palestina, temos de esperar por algo que chamamos de controlo de segurança, que pode demorar cerca de uma semana, obrigando-nos a pagar uma taxa de armazenamento durante esses 7 dias. Isto é demasidado para nós.”

Ainda assim, o negócio parece correr bem, se os custos forem devidamente controlados, diz Anan, e se não investir a longo prazo.

“Em todo o lado pode-se planear o futuro. Mas na Palestina, ninguém sabe se amanhã não existirá uma nova revolta, ou uma nova invasão dos israelitas. Há muitas incertezas para as quais temos de estar preparados.”

Tempos de incerteza, é o que muitos sentem na Cisjordânia, onde a taxa de desemprego atingiu quase 20 por cento.

Mas se o número de bloqueios entre Ramallah e o resto da Cisjordânia diminuiu, aqueles que permanecem, e o dito muro da separação, contribuem para desacelerar a expansão económica.

As medidas de segurança impuseram também recuos aos produtores de Hebron, cidade a sul de Jerusalém, e um importante pólo industrial da Cisjordânia.

Farhat Syad, dirige a maior fábrica de calçado na Cisjordânia. Diariamente são produzidos 6 mil pares de sapatos
e uma parte é destinada ao exércitio israelita.

Farhat anseia pela independência da Palestina, mas teme que o pedido de adesão às Nações Unidas tenha impacto negativo.

“Israel é o nosso maior cliente. Eles compram metade ou mais da metade da nossa produção. Temos medo que surja algum problema e que se revoltem contra nós … porque eles podem dizer: “querem um Estado? Fiquem com o vosso Estado e nunca mais venham bater-nos à porta”.

Se a economia da Palestina encontra oportunidades nos países emergentes e no mundo árabe, em paralelo depende fortemente de Israel. Alguns querem desenvolver uma nova forma de relações comerciais.

A israelita Mellanox, é uma empresa de fabrico de chips, localizada em Telavive, e no norte do país que tenciona abrir uma filial em Ramallah.

“Procuramos ter mais funcionários para nos tornarmos mais eficientes. Uma das alternativas era ir para a Índia e China, ou outros locais em Israel. Mas apercebi-me que havia a possibilidade de fazê-lo em território palestiniano, em Ramallah.

O custo de vida é muito mais barato do que em Israel. Temos bons funcionários a baixo custo. Esta é uma boa oportunidade, não só em termos de negócio, mas também em termos políticos. Acho que se fizermos mais negócios juntos, a possibilidade de paz e convivência será muito maior”.

Um tipo de parceria ainda limitado, mas que o responsável pela Câmara do Comércio entre Israel e a Palestina continua a promover, para lá das barreiras políticas.

“O potencial é enorme. É enorme, porque os israelitas abriram-se aos mercados ocidentais, e os palestinianos estão nos mercados árabes. Se Israel e a Palestina conseguissem unir forças poderiam entrar nesses dois grandes mercados, e isso é um exemplo da mais-valia de estarmos juntos”.

Prespectivas, no entanto, muito remotas para uma parte da população palestiniana, como aqui em Khan al Ahmar, a 10 km a leste de Jerusalém.

Uma área conhecida como zona C, território palestiniano sob o controlo de Israel.

Naturais de Negev, sul de Israel, este nómadas são os refugiados de 1948.

Rodeado pelas colónias israelitas, que exigem a demolição da aldeia, construída sem autorização, estão ameaçados de expulsão.

Um exemplo extremo das condições precárias em que vivem muitos refugiados. E bem distante da aparente prosperidade de Ramallah.

“Aqui são 200. Foram deslocados de uma colónia de 2300 pessoas que estava aqui ao lado. São uma comunidade de 27.000, cujo destino também preocupa a opinião pública europeia, que paga pelo trabalho do ECHO, braço humanitário da União, desenvolvido connosco.

O que acontece é que os ocupantes que estão no poder, segundo a convenção de Genebra, têm a obrigação de providênciar serviços básicos de água, estradas, electricidade, gás, educação … Mas não só as autoridades israelitas não fornecem esses serviços como as obrigam a deixar a sua terra”.

Presos entre as colinas e a zona de exclusão imposta pelos militares, a comunidade rejeita a proposta de Israel para se deslocarem para uma área de aterros públicos.

A pressão aumentou desde a construção desta escola, que tem evitado as crianças
de fazerem todos os dias uma deslocação de 20 quilómetros até Jericho.

Como o resto da aldeia, a escola tem já uma ordem para a sua demolição.

Quando interditaram as áreas de cultivo, foi o fim do seu crescimento e uma enorme pressão para um povo que vive da agricultura.

A falta de agricultura é uma forma de os expulsar indirectamente daqui. Desde que construímos a escola, há 3 anos, houve um decreto dos chefes das colónias, que proíbiu qualquer nomáda de trabalhar. Do lado palestino, eles não contrataram ninguém daqui. Instruídos ou não, ninguém trabalha nos serviços, departamentos e estruturas que dependem da autoridade palestiniana. Estes nómadas foram abandonados por todos, ninguém os defende”.

Um problema, diz Aid, que não terá resposta no próximo dia 20 de Setembro, quando a autoridade da Palestina pedirem o seu lugar nas Nações Unidas.

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