Bülent Arınç: Turquia vai "usufruir do direito de procurar petróleo no Mediterrâneo"

Bülent Arınç: Turquia vai "usufruir do direito de procurar petróleo no Mediterrâneo"
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A intenção de Chipre, membro da União Europeia, de explorar, em conjunto com Israel, gás e petróleo no litoral da ilha dividida levou à advertência por parte da Turquia.

Ancara não aceita que a República de Chipre inicie explorações no Mediterrâneo, previstas para outubro, com a empresa americana Noble Energy.

A Turquia alega que as autoridades cipriotas, que controlam apenas o sul da ilha, não têm o direito de explorar os recursos naturais de Chipre enquanto a ilha não estiver reunificada.

O governo de Ancara ameaçou iniciar sua própria exploração sob proteção militar.

euronews, Gülsüm Alan:
Senhor Bülent Arinç, é o vice-primeiro-ministro e o porta-voz de um país que há quase meio século tenta aderir à União europeia. Seja bem-vindo a Bruxelas. O Chipre está à procura de recursos naturais no Mediterrâneo Oriental, acredita que está assim a desenvolver uma política comum com Israel?

Bülent Arınç:
A procura de petróleo no Mediterrâneo Oriental não diz respeito apenas a Israel ou ao sul de Chipre. Diz respeito, também, aos países que têm direitos sob a lei internacional e um deles é a Turquia. Mas, recentemente, entrámos em desacordo pois nós pensamos de maneira diferentes destes dois países que se uniram e começaram à procura de petróleo. Essas atividades, que feriram a sensibilidade da Turquia, devem ter um significado político.
A Turquia não pode ficar passivamente a observar. Temos, também, interesses económicos e por isso vamos usufruir do nosso direito de procurar petróleo nestas águas.

euronews:
O primeiro-ministro turco, Recep Tayip Erdogan anunciou o envio de navios de guerra para o Mediterrâneo. Qual é o ponto da situação? Quais as expectativas da UE?

Bülent Arınç:
Não enviámos os nossos navios de guerra para fazer a guerra, é uma questão de defesa. Não precisamos de lutar ou guerrear com ninguém. Além disso, não temos qualquer intenção ou necessidade. Só esperamos que a outra parte se comporte de modo adequado para que não sejamos obrigados a usar a força.
Em relação à União Europeia, deve apressar-se a corrigir o seu erro. O erro é este: O facto de ter permitido que o lado cipriota grego aderisse à União, como se fosse toda a ilha é, talvez, um dos maiores erros história da UE. O importante agora é definir um estatuto de igualdade de condições para as duas comunidades de forma a uni-las. Sempre fomos a favor de um Chipre unido e acreditamos que as negociações diplomáticas devem continuar.
A realidade é esta. O lado cipriota grego existe mas não representa a totalidade da ilha. É por isso que se eles fizerem a prospeção em nome de toda a ilha, a União Europeia de intervir e dizer “parem pois não têm o direito de fazer isso.” Quando a Turquia quiser usufruir dos seus direitos, a UE deve concordar e dar-lhe apoio. Se a União os acolheu, então deve assumir as consequências Não falo de batalha ou conflito de interesses mas de oferecer sugestões e críticas para unir a ilha.

euronews:
A Turquia afirmou que quando o Chipre assumir a presidência rotativa da UE, vai congelar as negociações. De que forma vão fazer isso e qual será o alcance dessa medida?

Bülent Arınç:
Em qualquer caso, não vamos continuar as negociações (…) Até agora, as acusações da França, as objeções dos cipriotas gregos impediu-nos de ouvir alguns capítulos. Não houve negociações sobre isso. Muito poucos foram abertos e, em seguida, fechados temporariamente.
Numa altura em que não reconhecemos o lado cipriota grego, torna-se controverso quando eles assumem a presidência. Conhecemos bem as suas objeções e os obstáculos que colocam. Dizemos: “Primeiro tentem chegar a um acordo para unir a ilha e depois gostaríamos de nos sentar a uma mesa convosco”. Dissemos isso de maneira muito clara!
Por todas essas razões, em relação às negociações, encorajamos Christofias e Eroglu a chegarem a acordo antes do final deste ano.
Mas o lado cipriota grego, de modo incompreensível, faz de tudo para que não haja acordo sobre essas negociações.

euronews:
Houve um considerável interesse da população durante a visita do Primeiro-Ministro turco aos países da primavera árabe. Uma visita seguida de perto pela comunidade internacional. A que atribui esse interesse?

Bülent Arınç:
Conhecemos muito bem os efeitos que a crise económica mundial tem sobre a Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda, Islândia e França. Hoje, na Grécia, os salários não podem ser pagos. A Turquia tem uma taxa de crescimento muito elevada e, economicamente, está melhor. Tanto as exportações como capacidade de produção aumentam o rendimento nacional. A Turquia é hoje um ator no palco mundial.
O facto de a Turquia se preocupar com os oprimidos no mundo, dá-lhe grande credibilidade e confiança.

euronews:
Nos últimos tempos afirma-se em Bruxelas que a Turquia pretende retomar as raízes do Império Otomano que tem como base a resolução dos problemas através da força. Acredita que a Turquia está a desempenhar um papel acima das suas forças?

Bülent Arınç:
A Turquia está a evoluir tendo por base a república, a democracia e a liberdade sem, com isso, negar o passado ligado ao Império Otomano. Não sonhamos com o Império Otomano, não trabalhamos com esse propósito.

euronews:
Senhor Arınç, o escudo antimísseis da NATO, que a Turquia concordou em albergar, está lá para defender os interesses de Israel?

Bülent Arınç:
A NATO instalou, há já muito tempo, um sistema de radar na localidade de Kürecik, em Malatya. Isto não é novo. Foi há 25-30 anos. Atualmente, as atividades continuarão como a base do radar. Não se conhece o objetivo. Pode ser Israel ou o Irão, mas é um sistema de defesa. Os radares instalados podem prevenir um ataque com mísseis.
Os radares vão enviar um sinal e acionar os mecanismos de defesa. Não podemos dizer que é para Israel o Irão ou outro país. Não está mencionado no protocolo que assinámos, que isso foi feito a favor ou contra determinados países. Nenhum país foi mencionado.

euronews:
Quais são as linhas gerais das relações, tensas, entre Israel e a Turquia?

Bülent Arınç:
A Turquia já se pronunciou sobre o assunto. Nós não estamos em conflito com o povo judeu. A Turquia foi um dos primeiros países a reconheceram o Estado de Israel, por isso ninguém pode afirmar que somos inimigos de Israel. Mas estamos diante de um governo que está dividido, que oprime e que abateu, de modo cruel, nove cidadãos turcos que estavam num barco que se dirigia para Gaza, com a ajuda humanitária. Temos preocupações em relação ao governo israelita, mas não com o povo judeu.

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