Sima Samar, a voz das mulheres afegãs

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De  Euronews
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Sima Samar é pioneira da luta pelos direitos das mulheres no Afeganistão. Já foi várias vezes apontada como um dos possíveis laureados para o Nobel da Paz. A sua luta começou em 1979, quando o marido foi preso. Desde então, nunca mais o viu.

“Tinha 23 anos quando fiquei viúva e com um filho para criar”, conta. “Quando apareceram em minha casa, às dez da noite, e levaram o meu marido, que era professor na Universidade de Cabul, prometi-lhe que iria lutar pela liberdade e que iria manter viva a causa.”

Sima Samar cumpriu a promessa e bateu-se contra o regime talibã pelos direitos das mulheres. Médica de formação, percorreu as aldeias mais pobres do país, mas as ameaças de morte forçaram-na a fugir para o Paquistão.

No exílio, criou a fundação Shuhada, que dirige vários hospitais e escolas no Afeganistão e no Paquistão. Uma luta marcada por obstáculos permanentes. “Andavam atrás de mim porque eu falava sobre os direitos humanos e sobre a igualdade de direitos entre homens e mulheres”, descreve. “Criei um hospital no Afeganistão em 1988. Construímo-lo com dinheiro norueguês e o hospital foi saqueado três vezes. Bateram nos funcionários e num dos meus irmãos. Não aceitavam que não lhe déssemos o dinheiro nem o comando do projeto. Depois, comecei a construção de uma escola para raparigas e fizeram o mesmo: roubaram o cimento e queimaram os livros…”, conclui.

Apesar das dificuldades, Sima Samar é, hoje, uma das mulheres mais influentes do Afeganistão. Em 2001, após a queda dos talibãs, a médica regressou ao país e foi nomeada vice-presidente do governo interino de Hamid Karzai e ministra dos Assuntos da Mulher. Os ataques no seio do próprio governo levaram-na a deixar o executivo.

Atualmente, preside à comissão afegã independente pelos direitos do homem, a primeira organização a investigar as violações de direitos humanos no país. Mais uma vez, o cargo é sinónimo de ameaças e obriga-a a viver à sombra de guarda-costas. Os pesadelos são constantes: “Não me lembro de nenhuma noite em que não esteja sobressaltada. Estou sempre a tentar fugir, correr, saltar e encontrar um sítio para me esconder. É quase como algo normal mas não é normal, é uma tensão permanente.”

Até há quem a tente atacar através das preces das sextas-feiras: “Dizem que represento os valores ocidentais que incitam as mulheres a terem um mau comportamento, a não respeitarem a lei islâmica, e esse tipo de coisas. Só que isso não funciona”, relata.

Sima Samar confessa que trabalha em nome de todas as mulheres que sobrevivem a tremendas injustiças e tragédias sem que as suas vozes sejam ouvidas. “Elas são muito, muito fortes. Imaginem as mulheres que viram as suas casas, pequenas e lamacentas, destruídas, que viram os filhos a serem assassinados e que ainda têm força para continuar, para viver na pobreza, para lutar todos os dias contra todos os problemas que têm… E ninguém está lá para lhes dizer: ‘toma uma aspirina para a dor de cabeça.”

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