Candidatos egípcios às eleições presidenciais

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Esta semana os egípcios realizam a primeira volta de uma eleições presenciais históricas para o país.

Que rumo vai tomar esta nação de 82 milhões de habitantes? A campanha foi dominada pelos islamistas, vencedores das recentes legislativas e pelos candidatos do antigo regime que querem assumir o regresso à estabilidade, entre eles, Ahmad ShafiK.

Nomeado primeiro-ministro nos últimos dias de Mubarak e até à sua demissão, um mês depois, Ahmed Shafik é um puro produto do sistema político-militar egípcio. Antigo piloto e com reputação de bom técnico, Shafik fez da luta contra o crime e a segurança o seu cavalo de batalha. Ainda que assegure que o passado militar é uma vantagem, neste período de transição, parte da população quer uma presidência independente do exército.

Amr Moussa apresenta-se como o garante de um Egito pluriconfessional e aberto à modernidade. Ex-secretário-geral de Liga Árabe, e chefe da diplomacia de Mubarak, durante dez anos. Moussa passou meses em campanha, percorrendo o país de lés a lés.

Também acena com a experiência política para cativar o eleitorado, mas para os adversários é outro “fouloul”, um vestígio do antigo regime.

Apoiado pela ala militar da Irmandade Muçulmana, Mohammed Morsi, pode aproveitar um pouco do do domínio do Partido da justiça e da Liberade, que têm mais de metade de dos assentos parlamentares.

Mas esta força não se traduz na composição do governo de transição, e ao mesmo tempo, provoca receio de um poder legislativo e executivo nas mãos dos islamistas. Morsi apresenta-se como o único candidato com um programa islamista, esquecendo deliberadamente Moneim Aboul Foutouh. Este antigo membro da Irmandade Muçulmana foi excluído do movimento no ano passado, depois de ter demonstrado ambições presidenciais numa época em que esta organização fundamentalista islâmica assegurava que não apresentariam candidatos.

Aboul Foutouh, que tem centrado a campanha na previdência e na educação, dirige-se tanto aos salafistas como aos liberais de Tahrir, e tenta mostrar-se como um expoente de unidade.

Connosco, a partir de Paris, junta-se a nós Álvaro de Vasconcelos, director do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia, para comentar as presidenciais egípcias. O senhor é especialista das relações euromediterrânicas publicou recentemente o livro “Listening to Unfamiliar Voices”.

Olivier Péguy, euronews – Os egípcios vão às urnas a partir desta quarta-feira na primeira volta das presidenciais. As eleições desenrolam-se num contexto ainda tenso. Regularmente, a capital é palco de confrontos violentos. O que pode garantir que as eleições corram bem?

Álvaro de Vasconcelos:
– É evidente que o poder militar tem de respeitar a transição democrática e que os resultados das eleições devem ser aceites. Também é necessário um consenso absolutamente essencial entre os partidos islamistas e os partidos liberais, as forças políticas liberais, porque há esta divisão bastante complexa no Egipto, por um lado os que fizeram a revolução, e por outro os que ganham as eleições, os partidos islamistas que consideram, com razão, que têm legitimidade democrática.

euronews – Uma das incógnitas é o resultado que vai obter Mohamed Mursi, o candidato da Irmandade Muçulmana. A Irmandade, através do partido Liberdade e Justiça é a primeira força política do país. Mas o candidato para as presidenciais não é necessariamente o melhor. O senhor pensa que esta eleição lhe pode escapar ou pode escapar do controlo da Irmandade Muçulmana?

Álvaro de Vasconcelos:
– Sim, creio que sim. Como recordará, a Irmandade Muçulmana não tinha a intenção de apresentar um candidato às eleições presidenciais.
Tinha decidido que não devia abarcar tudo, que era demasiado cedo para controlar todos as alavancas do poder, ter por um lado o Parlamento e por outro a presidência, seria complicado, que seria mal aceite tanto no Egipto como no exterior. Por isso apresentaram um candidato só depois dos salafistas apresentarem o seu.

Tiveram medo que o candidato dos salafistas ganhasse com os votos dos islamistas porque, para a Irmandade Muçulmana, o aumento do poder dos salafistas é um grave problema. E por isso apresentaram um candidato. Mas ele não foi aceite pelos militares, que consideraram que não reunia todas as condições porque tinha sido julgado no passado, durante o antigo regime. Por isso apresentaram um outro candidato que não teve um grande sucesso eleitoral.

euronews - E pensa que a Irmandade Muçulmana aceitará que a vitória eleitoral lhe escape?

Álvaro de Vasconcelos - Sim, porque a Irmandade Muçulmana está numa dinâmica de legitimidade democrática.

euronews Considera que Amro Musa, ex ministro dos Negócios Estrangeiros de Hosni Mubarak e ex- secretário geral de Liga Árabe vai desempenhar algum papel?

Álvaro de Vasconcelos – Acho que Amro Musa vai ser aceite pelos que estão do lado da legitimidade revolucionária e por aqueles que têm a legitimidade democrática, isto é, a Irmandade Muçulmana, como um candidato que representa o antigo regime.

Será apoiado por gente do antigo regime, das zonas rurais, e gente de sectores menos envolvidos em política do que que a população do Cairo, mas evidentemente, terá muitas dificuldades e não acho que possa ganhar as eleições por isto.

euronews - Entre os candidatos, quem é o herdeiro da revolta popular do ano passado?

Álvaro de Vasconcelos – O antigo membro da Irmandade Muçulmana, Abul Futuh, é talvez o candidato com mais possibilidades de conseguir um consenso amplo.
Por um lado, para a Irmandade será muito difícil na segunda volta das eleições não apoiar um candidato que saiu das suas fileiras. E por outro lado, os jovens liberais vêem-no como alguém próximo. Nesse sentido, poderia ter mais possibilidades de representar um consenso mais amplo.

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