Apesar de 80% dos romenos que foram às urnas, este domingo, terem votado a favor da saída do Presidente, Traian Basescu vai manter-se por enquanto no cargo. O período de férias pode ter contribuído para o nível de abstenção superior a 50% no referendo, que impede a destituição presidencial e deixou muitos romenos frustrados.
“Em primeiro lugar, estou descontente com o nível de participação no referendo. As pessoas deveriam ter mostrado mais civismo e ido às urnas, votar sim ou não”, disse um habitante de Bucareste ouvido pela euronews.
O governo ainda tentou mudar a lei do referendo, mas foi travado pelo Tribunal Constitucional e Basescu aproveitou a decisão para apelar ao boicote.
O presidente já prometeu trabalhar pela reconciliação do país e conta com a simpatia dos que viram neste processo uma nova deriva comunista.
“Estou muito satisfeito. Foi uma decisão do povo, e estou muito satisfeito. Não esperava que tentassem derrubar o presidente desta maneira”, disse outro habitante da capital com quem falou a euronews.
De facto, a União Europeia, a que o país pertence desde 2007, também criticou o processo de destituição. Para aprofundar as consequências do referendo, a euronews falou com Alina Mungiu Pippidi, analista política, jornalista e escritora romena.
“Diria que o fator que mais determinou o resultado do referendo foi a decisão da União Europeia de exigir ao governo romeno que respeitasse a regra antiga de que o referendo é válido quando se verifica a participação dos eleitores que constam do censo mais antigo. (…) O facto é que tivémos mais de oito milhões de pessoas que compareceram às urnas e votaram claramente contra o Sr. Basescu, mas cuja votação não será validada por causa de uma questão técnica”, explicou Alina Mungiu Pippidi.
Sobre o futuro próximo do país, a analista considera que será marcado por forte instabilidade.
“O Sr. Basescu tem agora 80% dos votos contra ele e ele ainda tem quase dois anos de mandato para cumprir. A Roménia tem eleições legislativas no Outono que, com certeza, resultarão numa maioria contra ele. Isso significa que, nos próximos dois anos, os romenos vão estar sujeitos a uma campanha eleitoral contínua, numa contínua crise política e numa instabilidade que afetará o valor da moeda e toda a situação económica.”