Boyco Borissov: "Cada um dos meus dias e ações são transparentes para o povo búlgaro"

Boyco Borissov: "Cada um dos meus dias e ações são transparentes para o povo búlgaro"
De  Euronews
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A Bulgária e a entrada para o espaço Schengen. As dificuldades em lutar contra o crime organizado e a dependência energética da Rússia são questões abordadas pelo primeiro-ministro búlgaro em entrevista exclusiva à Euronews.

Antigo autarca de Sofia e atual chefe do Governo de centro-direita, Boyko Borrisov sublinha os esforços em matéria económica e não poupa palavras em relação a determinados Estados-membros da União Europeia.

Hans von der Brelie, Euronews:
Dr. Borrisov, o observador da livre concorrência, a Comissão Europeia, abriu uma investigação à Gazprom. O fornecedor russo de gás natural está ou não a cumprir com a concorrência leal na Bulgária?

Boyko Borrisov, Primeiro-ministro búlgaro:
“Dos Estados-membros da União Europeia, a Bulgária foi um dos países mais afetados pela crise do gás. Nessa altura era Presidente da Câmara de Sofia. A temperatura oscilava entre os 12 e os 15 graus negativos. Nós estivemos sem gás entre dez a 15 dias e ninguém nos ajudou.

Estamos a colaborar com a Comissão Europeia na investigação à Gazprom. Todos os documentos relacionados que estão na posse das empresas Bulgargas e Bulgartransgas, foram entregues à Comissão Europeia há alguns meses.

Aprendemos as nossas lições e é por isso que começámos agora a interligação de um gasoduto com a Roménia. A construção da interligação entre a Bulgária e a Grécia encontra-se em fase avançada e estará concluída dentro de um ou dois meses.

Estamos prestes a começar a construção de uma interligação com a Turquia e com a Sérvia. No entanto, a maior fonte de diversificação para a Bulgária são os depósitos de gás e petróleo no Mar Negro. Não tenho preocupações com a diversificação das reservas de energia da Bulgária em três ou quatro anos.”

euronews:
Continua a apoiar o projeto europeu Nabucco, para a construção de um gasoduto, ou é algo que está morto? Está a apoiar o projeto russo South Stream?”

Boyko Borrisov:
“Não esperava essa pergunta, mas por coincidência em cima da minha secretária deve estar um mapa. O mapa é a resposta à pergunta que colocou. Isto é a Bulgária. Ali pode-se perceber de onde é que vamos conseguir a diversificação das nossas fontes de energia. Esta é a área onde estão prospetadas reservas de petróleo. Abastecerá a Bulgária com gás. É o grande depósito. Ali encontra-se o projeto do gasoduto russo South Stream. Aquele é o projeto do gasoduto transanatoliano Tanap e do Nabucco. E o gás asiático vindo do campo de gás de Shah Deniz seguirá esta rota.

E porque é que o fazemos? Para mim é muito importante que o gasoduto Tanap alcance a Bulgária e o Nabucco o oeste e o gasoduto do Sul-Leste da Europa avance para o velho Continente.

A outra rota chamada Tap. É uma ligação para avançar em Itália. Por isso, estamos a dar o melhor no melhor trabalho preparatório, para fazer avançar ambos: Nabucco a oeste e também o projeto do gasoduto Sul-Leste da Europa (trazendo gás da fronteira ocidental da Turquia para a Hungria.)

No que respeita ao projeto do Nabucco, a Bulgária fez de tudo. Temos a aprovação do Parlamento para construir. Assinámos todos os documentos necessários e podemos até começar já amanhã os trabalhos de construção. Estou ansioso com o arranque do projeto do gasoduto Nabucco.”

euronews:
Atendendo ao fato de estarmos a falar de geografia e da Bulgária estar atualmente muito exposta à Grécia e aos problemas económicos do país, quais são as consequências dos problemas gregos na economia búlgara?

Boyko Borrisov:
“A Grécia é um bom vizinho e amigo. No entanto, a União Europeia foi muito rigorosa com a Bulgária e a Roménia, mas totalmente tolerante com a Grécia. E todos nós sofremos com este laxismo. O mais importante é responder aos critérios de Maastricht. Têm de ser respeitados.

O que é que a Bulgária fez no espaço de três anos? Implementámos uma reforma do sistema de pensões. Aumentámos a idade da reforma. Congelámos pensões e salários. O défice orçamental neste momento é de 1,2%. A dívida externa está nos 14% e a inflação nos 0%.

Os países europeus próximos da nossa performance económica (atendendo aos critérios de Maastricht) são a Dinamarca e a Finlândia.”

euronews:
Está preparado para o euro? O ministro búlgaro das Finanças disse que vão adiar a adesão à moeda única. Confirma?

Boyko Borrisov:
“Enquanto a Bulgária cumpre os critérios de Maastricht e junto com a Alemanha cumpre o procedimento da redução do défice, há outros países que não cumprem. Porquê?

Porquê o populismo e o nacionalismo contra aqueles que estão no caminho certo? Deveriam antes tentar por a casa em ordem.

Espero que isto se materialize dentro de um ou dois anos. Depois de acontecer juntar-nos-emos à zona euro.

Mas penso que não é justo para a Bulgária, o país mais pobre da União Europeia, aderir agora à zona euro e pagar por Estados que têm uma conduta laxista.”

Hans von der Brelie, Euronews: A Bulgária não faz parte do espaço Schengen. A entrada é adiada ano após ano. Começa a ficar aborrecido com este processo?

Boyko Borrisov:
“O que é bom para a Bulgária, atendendo à questão do espaço Schengen, é que os Estados-membros saibam que a fronteira de Schengen está melhor guardada do que nos próprios países. Os cidadãos podem dormir tranquilos. A fronteira Schengen da Bulgária está bem guardada. Intercetámos quantidades astronómicas de droga e toneladas de cocaína, centenas de toneladas de narcóticos. Tudo em apenas alguns meses. É uma prova do nosso empenho.”

euronews:
No entanto, no último relatório da Comissão Europeia, a Bulgária é severamente criticada pela incapacidade em combater eficazmente a corrupção e o crime organizado.

Boyko Borrisov:
“Se tivermos de julgar a transparência dos procedimentos de contratos públicos, então a transparência na Bulgária é muitas vezes melhor do que a de outros países europeus. Em relação aos grupos de crime organizado, os chefes já estão detidos ou são procurados pela Interpol em algum lugar do mundo.”

euronews:
Estive reunido com o antigo primeiro-ministro e atual líder da oposição búlgara. Sergei Stanishev disse que tem receios em relação às próximas eleições, porque durante as recentes eleições locais assistiu à compra de votos.

Boyko Borrisov:
“Ele tem razões para tal, porque surpreendemos o partido dele em Sliven a fazer precisamente isso. Neste momento, estará já a pensar no que vai argumentar quando perder novamente as próximas eleições.”

euronews:
Atendendo ao facto de que o período de transição na Bulgária foi muito difícil, o seu passado foi muito colorido. Conhece pessoalmente pessoas relacionadas com o crime organizado?

Boyko Borrisov:
“Tenho um passado excelente. Há contactos do senhor Sergei Stanishev e os cúmplices. Cada um dos meus dias e das minhas ações são transparentes para o povo da Bulgária. Não dependo de ninguém.”

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