Cruz Vermelha publica relatório alarmante sobre refugiados

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72 milhões de pessoas obrigadas a deixar a casa onde vivem por culpa dos conflitos, dos desastres naturais ou da fome: É o balanço da edição deste ano do relatório mundial dos desastres, publicado pela Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.

Este número significa que mais de uma pessoa em cada cem, no mundo inteiro, tem de deixar a casa onde vive ou mesmo mudar de país. As causas principais são a guerra, como a da Síria, que obrigou a 100.000 deslocados, essencialmente para a Turquia, mas também as catástrofes naturais.

Às condições de viagem, muitas vezes difíceis e perigosas, juntam-se condições de vida dramáticas e uma triste incerteza sobre o amanhã.

De todos os deslocados, um pouco por todo o mundo, cerca de 14% não têm quaisquer perspetivas para o futuro.

É o caso dos refugiados da Birmânia, de etnia Katchin, apanhados numa encruzilhada entre o país natal e a China. Fugiram ao conflito entre o exército birmanês e os rebeldes Katchin e refugiaram-se na China, mas a China quer agora enviá-los novamente para a Birmânia, embora a situação ainda não esteja pacificada.

Sobre este relatório agora publicado pela Cruz Vermelha e Crescente Vermelho, e a situação global dos refugiados, o repórter da euronews Chris Cummins falou com o autor, Roger Zetter.

Uma das coisas que quisemos saber é como a ajuda internacional responde às situações de emergência, nesta altura de crise e redução nos orçamentos.

Chris Cummins, euronews:

Roger Zetter, editor do Relatrio Mundiial de Desastres, obrigado pelo seu tempo. O relatório deste ano está focado nas pessoas obrigadas a deixar as casas por causa de conflitos ou desastres naturais. Por que razão a Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho decidiu destacar este tema em particular?

Roger Zetter:

Penso que vem do facto de reconhecermos que cerca de 73 milhões de pessoas são obrigadas a deslocar-se por causa dos conflitos, dos desastres naturais e dos processos de desenvolvimento, a par dos temas da vulnerabilidade, do aumento das necessidades de proteção e da cada vez maior complexidade da migração forçada.

Chris Cummins, euronews:

No seu relatório fala do aumento da resistência dos políticos no apoio aos deslocados. No entanto, 164 governos assinaram a resolução que obriga os deslocados a serem tratados com respeito e dignidade, independentemente do estatuto legal. Essa resolução está, visivelmente, a ser ignorada. Porquê?

Roger Zetter:

Penso que as preocupações globais com a segurança e a crise económica global tornaram as coisas mais difíceis para os políticos e talvez eles estejam agora mais relutantes em ajudar os migrantes forçados, os refugiados em particular.

Chris Cummins, euronews:

Muitas destas pessoas em dificuldade saem duma situação difícil para outra ainda pior. As comunidades de acolhimento hostis sentem-se ameaçadas e e os governos frágeis simplesmente não têm meios para lidar com este fluxo de pessoas. Que ações podem ser levadas a cabo para mudar a atitude para com estas pessoas?

Roger Zetter:

A verdade é que os refugiados consomem recursos, precisam de materiais de construção para as casas, precisam de comida e outros bens de consumo, mesmo a um nível básico. Todos estes padrões de consumo são formas de estimular as economias locais, os agricultores locais podem produzir mais comida e os empreiteiros locais podem aumentar o trabalho, de forma a construírem os abrigos para os refugiados.

Chris Cummins, euronews:

Temos um terrível conflito na Síria. Gostaria também de falar dos problemas na região do Sahel, que pioram de dia para dia, com violência, fome e seca a provocarem a migração forçada de dezenas de milhares de pessoas em situações extremamente difíceis, no deserto. Como está a comunidade internacional a responder?

Roger Zetter:

Penso que a comunidade internacional é obrigada a responder lentamente, por causa de uma variedade de razões.

De um ponto de vista global, não é uma questão política urgente, como por exemplo a migração em larga escala no Médio Oriente. A nível internacional, o impacto na agenda não é tão grande.

Chris Cummins, euronews:

Mas as pessoas continuam a morrer. Em toda a Europa, vemos os governos a cortar nos orçamentos, nesta era da austeridade. Mais uma vez, são os mais pobres que sofrem mais.

A insegurança financeira está a dificultar as operações de organizações como a Cruz Vermelha, nas áreas difíceis?

Roger Zetter:

A resposta é sim, a um nível global, não só em relação à Cruz Vermelha, como a todo o setor humanitário. Mas, ao mesmo tempo, temos que ver a forma como as organizações se adaptam, face aos orçamentos apertados.

Por exemplo, a Federação de Sociedades Nacionais está a reforçar as políticas de resistência para as comunidades que se tornam vulneráveis aos conflitos, à fome e aos desastres. Por isso, quando esses desastres acontecerem, as comunidades estarão menos vulneráveis à migração forçada.

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