Médio Oriente com nova conjuntura

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Gaza, janeiro de 2009. A operação militar israelita batizada “Chumbo fundido”, lançada no mês anterior, saldou-se pela morte de 1400 palestinianos e 13 israelitas. Aos raides aéreos e bombardeamentos sucedeu-se a ofensiva terrestre de Israel.

Quatro anos mais tarde, Israel continua a ser uma potência militar, mas a Primavera Árabe alterou algumas peças do xadrez estratégico da região.
O Estado Hebreu ficou com uma margem de manobra diplomática mais limitada nas negociações com vista ao cessar fogo com o Hamas.

O panorama geopolítico da região mudou radicalmente. No Egito, Hosni Mubarak, considerado um bom aliado de Israel, foi substituido por Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana. O presidente egípcio já marcou a distância em relação à diplomacia de Mubarak.

No início do mês, enviou o primeiro-ministro, Hisham Kandil a Gaza, para transmitir o seu apoio ao Hamas. O Egito é uma peça chave, um intermediário entre o Hamas e Israel. O cessar fogo vai depender da vontade do Cairo de limitar o aprovisionamento de armas do Hamas.

Se o conflito prosseguir, Mohamed Morsi também pode decidir de abrir mais a fronteira aos palestinianos e aumentar a pressão política sobre Israel e sobre os Esttados Unidos.

Outro sinal da nova conjuntura, foi dado pela histórica visita do Emir do Qatar a Gaza, em véspera de escalada de violência.
Oficialmente, foi uma visita humanitária para inaugurar projetos em construção calculados em 250 milhões de dólares. Al Thani enviou uma mensagem política muito forte ao quebrar o isolamento político a que estava votado o Hamas. Protagonizou a primeira visita de um chefe de Estado à Faixa de Gaza desde 1999.

A Turquia também se afastou diplomaticamente de Israel. O primeiro-ministro Recep Erdogan já se pronunciou:

“Uma vez mais, antes das eleições em Israel, Gaza passou a ser de novo um alvo, com desculpas sem fundamento. Estão a morrer crianças. Se alguém considerar os ataques palestinianos ilegítimos e ilegais, estará a encorajar Israel a continuar com os massacres”.

Israel e a Turquie assinaram uma aliança em 1996, mas as relações bilaterais degradaram-se desde o assalto da Mossad a um navio turco que transportava ajuda humanitária para Gaza em 2010.

Ahmed Oleiba esclareceu Riad Muasses, para a euronews:

Entre a operação ‘Chumbo Fundido’ e a última ofensiva, chamada ‘Pilar Defensivo’ passaram-se quatro anos, durante os quais o panorama político do médio oriente se alterou.
Considera que a ‘Primavera Árabe’ teve repercussão no conflito israelo-palestiniano e, em especial, no Hamas?

Ahmed Oleiba – Seguramente a ‘Primavera Árabe’ teve consequências no Movimento Hamas e no conflito israelo-palestiniano. E há que assinalar que o conflito, agora, é árabo-israelita, e não o inverso.

Se houve mudanças, elas tiveram início, precisamente, no Egito, que se tornou o peso da balança na gestão das negociações entre as duas partes, e os contactos internacionais entre o Cairo e outras capitais do mundo.

É o regresso do Egito à diplomacia ativa porque se modificaram os eixos do poder.

O Hamas saiu da Síria, rompeu relações com o regime sírio e perdeu o apoio de Bachar al Assad. Também há uma certa tensão entre o Hamas e o Irão.

euronews – O senhor acaba de regressar da faixa de Gaza e esteve com a delegação egípcia. Pensa que Israel tinha outro alvo quando respondeu aos roquetes palestinianos?

AO – Imagino que a nível da teoria da imunidade nacional, Israel tenta enviar mensagens aos atores externos, incluindo os países da Primavera Árabe. Israel precisa testar a reação egípcia, compreender como atua a nova administração egípcia a nível da política e da segurança.
As relações entre o Egito e o Hamas podem ser um indício de influência nas relações entre o Egito e Israel, forjadas durante mais de 30 anos depois dos Acordos de Paz de Camp David, ou então esta é uma das táticas do Estado egípcio para favorecer os próprios interesses políticos actuando de uma forma pragmática.

euronews – De acordo com os movimentos árabes e internacionais, há perspetivas de chegar a uma solução pacífica ou uma trégua a longo prazo, enquanto não se resolve definitivamente o conflito?

AO – Coloquei a questão aos dirigentes de Hamas, na minha visita a Gaza, e mesmo a opinião pública, na rua, é favorável a testar primeiro as intenções das duas partes numa primeira fase. Também se sabe que tudo tem um preço. Em relação ao processo de trégua, os dirigentes das fações palestinianas dizem que o preço pode ser considerável e que é impossível os israelitas aceitarem. Os palestinianos exigem as fronteiras do 1967 e Jerusalém. Quando questionei sobre Jerusalém Leste, responderam com a exigência de toda a Jerusalém, o que é impossível.

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