O futuro depois de Hugo Chávez

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Esta foi uma das últimas vezes que Hugo Chávez apareceu em público em forma e triunfante. Na noite da vitória em outubro passado, quando foi reeleito para um novo mandato. A dúvida é se estará presente na tomada de posse, no próximo dia 10 de janeiro.

Chávez está debilitado há algum tempo. E os rumores sobre o seu estado de saúde correm rápido desde as ruas de Caracas para todo o mundo. O futuro é apelidado como incerto tendo o comandante já nomeado anteriormente um sucessor.

Nicolas Maduro, o atual vice-presidente, é o herdeiro político de Chávez, mas o seu companheiro de partido, Diosdado Cabello, o presidente do Parlamento, também está na corrida. Dois homens envolvidos numa luta secreta, mesmo revelando cumplicidade em público. Contudo não têm o mesmo percurso. Cabello é um militar sem ligação a Cuba. Já Maduro é um civil, ex-líder sindical e muito próximo dos irmãos Castro, tal como Chávez. Se Hugo Chávez for incapaz de prosseguir com o mandato será Maduro quem o sucede, após as eleições feitas em 30 dias.

Se Chávez não marcar presença a 10 de janeiro, será Cabello a assumir a presidência interina antes das eleições. Em qualquer caso, haverá luta entre “chavistas” e os oponentes.

Eduardo Gamarra, professor de política internacional na Universidade internacional da Florida: “Ele (Chávez) fornece um elemento de estabilidade à Venezuela, num contexto em que temos um género de grande batalha, não só entre as pessoas que são pró-Chávez, que são “chavistas”, mas também no contexto daqueles que temem que a oposição tente eliminar todos os benefícios que o “chavismo” teoricamente conquistou, ao longo da última década.

No lugar da oposição está Henrique Capriles. O jovem líder de direita terá uma imposição difícil numas eleições, provavelmente marcadas pela emoção já que seriam feitas apenas 30 dias após a morte ou afastamento do líder venezuelano.

Enquanto Chávez permanece hospitalizado, reina a incerteza política na República Bolivariana. O governo tem-se limitado a apelar aos venezuelanos para que estejam preparados para lidar com qualquer circunstância.

Sergei Doubine, euronews: “Como pode evoluir a situação na Venezuela? Que caminho vai seguir o país? Questionamos o professor Boris Martynov, vice-diretor do Instituto Latino-Americano da Academia Russa de Ciências, em Moscovo.

Primeira pregunta, sobre o futuro próximo: a 10 de Janeiro está prevista a investidura de Hugo Chávez, mas poucos acreditam que estará presente. Devemos esperar novas eleições, como dita a Constituição, ou a cerimónia vai ser adiada?”

Martynov: “Penso que serão seguidas as normas constitucionais, qualquer outra opção irá prejudicar os interesses das autoridades. Mas é difícil de dizer, concretamente, como vai acontecer. Pode ser um cenário de continuidade, em que Chávez entrega todo o poder ao vice-presidente, Nicolás Maduro, que convoca eleições no prazo de 30 dias. Ou, então, o poder passa para o recentemente eleito presidente da Assembleia Nacional, que de qualquer forma estabelece as próximas eleições no espaço de 30 dias, de acordo com a Constituição.”

euronews: “A oposição pode tornar-se mais ativa, poderemos assistir a uma evolução violenta?”

Martynov: “Sim, a oposição pode tornar-se mais ativa. Apesar das vitórias recentes de Chávez, conseguiu fazer sérios progressos, primeiro que tudo, ao encontrar um candidato comum. No que diz respeito a cenários extremos, isso só pode prejudicar a posição da Venezuela. O país está firmemente integrado em estruturas latino-americanas, nas quais a democracia é proclamada como norma. Violações dos princípios democráticos podem resultar em sanções, basta ver o exemplo recente do Paraguai.”

euronews: “Se Chávez, devido à doença ou morte, for incapaz de governar, o que sabemos do sucessor, Nicolás Maduro?”

Martynov: “Infelizmente, não sabemos grande coisa. O que é certo é que partilha as ideias e ideais de Chávez. De qualquer forma, o “chavismo” têm muitas alternativas. Por isso, seja Maduro eleito como próximo presidente, ou o líder do Parlamento Diosdado Cabello ou outra pessoa, aquilo que devem fazer, primeiro que tudo, é iniciar um diálogo com a oposição.”

euronews: “Se Chávez deixar de estar presente, qual é o caminho que vai seguir a Venezuela?”

Martynov: “Convém não esquecer que foi a Venezuela e Chávez quem deu o primeiro impulso da chamada viragem à esquerda na América Latina. Foi seguido, de uma forma ou outra, pelo Brasil, pela Argentina, pela Bolívia, pelo Equador… Mas, independentemente da diversidade desta ala de esquerda, é composta por poderosas estruturas estatais com uma componente social, uma economia de mercado – apesar das diversas variantes – e interesses nacionais que ditam a política externa. Penso que, apesar de continuar nesse molde de desenvolvimento, a Venezuela vai gradualmente afastar-se do radicalismo à maneira de Chávez, do seu anti-americanismo exacerbado e de todos os lemas socialistas, que já não são populares, porque o tempo para a oposição socialismo-capitalismo, esquerda-direita, foi ultrapassado. O que vem agora é a era das políticas orientadas de forma nacionalista, civilizacional.”

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