Rasmussen: "Nato não é o polícia do mundo"

Rasmussen: "Nato não é o polícia do mundo"
Direitos de autor 
De  Euronews
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button

Norte de África, Turquia, Síria e Afeganistão foram os temas para uma entrevista com o secretário-geral da Nato, na sede da organização, em Bruxelas. E falámos também da situação dos reféns,na Argélia.

euronews – Senhor Rasmussen, obrigado por receber a Euronews, na sede da Nato. Estamos todos atentos à evolução da situação no norte de África. Em primeiro lugar, qual é sua avaliação que faz da situação dos reféns na Argélia?

Anders Rasmussen – Condeno, com a maior veemência, o ataque, os assassinatos e a tomada de reféns. Apresento as minhas mais sinceras condolências às famílias e amigos dos trabalhadores que foram mortos. E expresso a minha forte solidariedade, para com os países afetados.

euronews – Há indícios de uma nova abertura frontal para Nato, em toda a região – na Somália, Mali e Argélia e talvez, no Níger e Mauritânia. Está de acordo com isto?

AR – Não vejo o papel da Nato assim. Obviamente, nós acompanhamos a situação de perto. Na verdade, fomos postos em causa, durante muitos anos, na região de Sahel, pelas atividades de grupos terroristas, extremistas, pelas organizações criminosas. Esta também é uma razão porque me congratulo com a rápida ação tomada pela França no Mali, a pedido do Presidente do Mali. A minha avaliação clara é que era necessário tomar medidas para pavimentar o caminho, para uma força africana de estabilização.

euronews – Obviamente a França é membro da Nato. A Nato está a ajudar esta operação, com aviões AWACS, drones, armas inteligentes. Afinal, há uma partilha de rercursos.

AR – Eu não vejo o papel da Nato como organização no seu todo, mas apenas de um número de aliados da Nato que, individualmente, estão a ajudar a França, com logística, com capacidade de transporte, reconhecimento…

euronews – Mas, de alguma forma, devem coordenar os seus esforços, através de Bruxelas. Por isso, a Nato está envolvida, neste sentido, como um núcleo.

AR – A Nato, como organização, não está envolvida…

euronews – E, agora, a União Europeia está a treinar soldados malis. Está a fornecer instalações médicas e outras coisas. Isto não é trabalho da Nato? Porque é que a União Europeia está a fazer isto?

AR – Há uma grande necessidade de treino e formação das forças armadas do Mali. Saúdo, pois, esta missão de formação da União Europeia. Não podemos permitir que o Mali se torne um terreno fértil para o terrorismo.

euronews – A Nato tem experiência, num “terreno fértil para o terrorismo”, como o Afeganistão. Porque não no Mali?

AR – A Nato não pode ser o policia do mundo, viajando de país para país, para resolver todos os problemas. Por isso, acho uma boa ideia, esta divisão do trabalho. E deixe-me lembrá-lo que o Conselho de Segurança das Nações Unidas tem exigido uma força de estabilização africana, para atuar no Mali.

euronews – E a Nato, nos dias de hoje, está a ajudar um país membro, como a Turquia, a defender-se, com recurso a mísseis Patriot. Mas a Turquia não está sob ameaça de invasão militar, ou ataque sistemático. Não são os mísseis Patriot uma arma excessiva, para esse tipo de ameaça? Não acha?

AR – Não, é uma medida absolutamente adequada , uma medida puramente defensiva. Vimos incidentes de segurança, ao longo da fronteira turco-síria. Vimos bombardeamentos, através da fronteira, perderam-se vidas, no lado turco da fronteira. Temos visto o lançamento de mísseis, no território sírio, perto da fronteira com a Turquia. Portanto, há uma ameaça real. Esta é a razão porque os aliados da Nato decidiram demonstrar uma clara solidariedade, com a Turquia, e aumentar a defesa aérea, na Turquia, para podermos assegurar uma proteção eficaz do território turco e Povo turco.

euronews – Mas os Patriot também poderiam ser usados para outras ações defensivas, como nas zonas aéreas interditas. Existem planos para os usar, ou qualquer outra arma, em ações militares, se houver uma escalada da situação, na Síria?

AR – Nós não temos qualquer intenção de intervir militarmente na Síria. E vamos deixar claro, desde já, que a instalação dos mísseis Patriot é uma medida puramente defensiva. Não temos intenção de usá-los, para preparar uma zona interdita aos voos. Tecnicamente, o Patriot não foi concebido para preparar ou impor zonas de exclusão aérea.

euronews – No entanto, ele altera o equilíbrio estratégico. É uma pressão adicional sobre o regime de Damasco e de encorajamento para os rebeldes – a instalação destas armas?

AR – A finalidade dessa instalação é a efetiva defesa e proteção da população turca e do território turco. Mas há a ideia de que é, naturalmente, um fator de dissuasão claro, para que o regime de Damasco não pense atacar a Turquia. E exorto o regime de Damasco a acolher as legítimas aspirações do povo sírio e parar a repressão da população civil. É a isso que temos assistido, na Síria.

euronews – Já falámos do Afeganistão. Uma intervenção que já vai numa fase muita adiantada. Depois de 2014, vai ficar pessoal da Nato, no Afeganistão, ou haverá uma “opção zero”, como sugerem alguns diplomatas e altos fundionários americanos?

AR – Decidimos que vamos ficar no Afeganistão, para além de 2014. Seguimos o nosso plano. Um plano que prevê a entrega gradual de responsabilidades de segurança, aos afegãos. Este processo já foi iniciado e será concluído, até ao final de 2014. Assim, até o final de 2014, será concluída a nossa atual missão de combate da ISAF. A partir de 1 de janeiro de 2015, estabeleceremos uma missão de treino e aconselhamento, para ajudar e treinar as forças de segurança afegãs. Esta é a nossa ambição.

euronews – Tem números do pessoal?

AR – Não podemos ter ainda, porque não decidimos o tamanho dessa missão de treino. Vamos tomar essa decisão, num futuro muito próximo. Estamos ainda num processo de planeamento dessa futura missão.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

ONU abandona Mali no momento em que os Wagner cimentam posição

Ressurgimento do terrorismo no Mali

Família italiana libertada após quase dois anos em cativeiro no Mali