Para acabar com a cacofonia, Itália tem de mudar lei eleitoral

Para acabar com a cacofonia, Itália tem de mudar lei eleitoral
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Nesta edição de NEWS + falaremos das consequências do voto italiano. Primeiro apresentamos uma reportagem e depois uma entrevista com o nosso convidado de Roma.

O sóbrio Bersani, o cómico Grillo, o regressado Berlusconi e o austero Monti…os eleitores tinham de escolher entre a deceção e a esperança, a austeridade e o populismo.

Em novembro de 2011, na festa da despedida de Sílvio Berlusconi em Roma, alguém foi contra o princípio de “jamais dizer nunca” e … enganou-se. O primeiro-minsitro cessante acenou a um país em recessão profunda e todos pensavam que era um adeus.

Um ano mais tarde, reapareceu para “ajudar a Itália a sair das sombrias perspetivas impostas pelos tecnocratas”.

Baixas de impostos, criação de emprego, amnistia para os que fugiram ao fisco, abolição do imposto imobiliário criado por Monti…o programa agradou e uma grande massa de eleitores permitiu-lhe um regresso que deixou os opositores estupefactos.

Este foi um cenário absolutamente imprevisível para o centro-esquerda de Bersani que contava ganhar as duas câmaras, mesmo que não tivesse maioria no Senado…então, Pierluigi Bersani, tão discreto, também falou de mais quando garantiu que
“Berlusconi não ia ganhar; ia perder estas eleições”.
O candidato estava persuadido da incapacidade do adversário poder sequer assombrar a vitória do centro-esquerda.

Beppe Grillo, foi o humorista mais levado a sério depois de Roberto Benigni, que ganhou dois Óscares com o filme “A Vida é Bela”.
E, coincidência ou não, estas eleições “em tempo de óscares” deram o melhor prémio a que podia aspirar um cómico: o seu “Movimento 5 estrelas” contra o status político dos governantes corruptos, dos deputados a mais, do euro, etc…ganhou a simpatia dos contestatários italianos nas urnas e tornou-se o maior partido político de Itália.

Mario Monti pode ser muito bom em finanças mas não tocou o coração dos italianos. Só três milhões apreciram o esforço do Senador para salvar a Itália do descalabro económico.

Conseguiu fazer algumas reformas e restabelecer a confiança dos parceiros europeus, mas não teve tempo para tirar a Itália da recessão.
Não prometeu nada, não falou demais, não ficou empatado com ninguém nem pode ajudar o possível aliado a obter uma maioria. Mas, incrivelmente, a cacofonia dos eleitos e dos eleitores pode estar a sufocar a Itália.

Luccio Caracciolo é um dos maiores especialistas italianos de geopolítica e conferencista na área de estudos estratégicos em vária universidades italianas.´Fundou a revista geopolítica “Limes”, que dirige atualmente. Está connosco em duplex de Roma.

Segundo os analistas estrangeiros , a grande vitória de Beppe Grillo é a vitória da antipolítica, do populismo. Mas que fará Grillo com a Itália e a Itália com Grillo?

LC – Não sei o que é a antipolítica, mas a verdade é que Grillo é um político que mantem a distância do Parlamento, mas hoje é o líder do principal partido político italiano, pode mesmo ser do único partido político, já que os outros demonstraram ser construções virtuais. De modo que eu tomaria a sério o senhor Grillo e também a possibilidade de que, dentro de seu movimento, num futuro não muito longínquo, se possam expressar novas forças de governo.

euronews – A presença, mesmo simbólica, de Mario Monti numa possível coligação, pode dar garantias à “Europa da austeridade”?

LC – De certeza que não. Primeiro porque Bersani e Monti não conseguiriam a maioria e segundo Monti ficou desacreditado como chefe de um governo tecnocrata e como senador vitalicio, candidatando-se como se fosso um pequeno chefe democrata cristão. Por isso não acho que Monti vá ter futuro em Itália ou na Europa.

euronews – Quais são, do seu ponto de vista, os assuntos que inevitavelmente, o próximo governo tem de enfrentar a nível internacional?

LC – Primeiro terá de se formar um governo, pois sem governo é difícil ter um programa. Segundo, vai ter se decidir uma política económica, principalmente fiscal. E em terceiro, terá de conseguir convencer um público extremamente desorientado a aceitar o que for decidido. Estas são tarefas muito difíceis mas os italianos têm muita imaginação….

euronews – Num futuro próximo, depois de ter ganho uma verdadeira credibilidade, qual será o peso internacional de Itália nos próximos anos?

LC – O peso de Itália nos próximos anos será seguramente inferior ao atual, porque neste momento é o país mais importante do mundo no sentido de que é o que pode desacreditar todo o sistema. No futuro, ou ficamos fora do sistema ou entramos nele e acatamos as regras. Nos dois casos, estou certo de que seremos menos influentes do que hoje.

euronews – Durante a campanha eleitoral falou-se pouco ou nada sobre política externa. A Itália ainda tem política externa?

LC – Eu diria que não

euronews – Então o que se pode fazer?

LC – Simplesmente navegamos sem rumo. Claro que não há uma estratégia, que não há um programa e que terá de se reagir caso a caso. A primeira coisa a fazer é ter um pouco de imaginação para formar governo, seguramente um governo de minoria, pois não há maioria. Penso que será um governo fundamentalmente técnico, apoiado pelos principais partidos, que poderá mudar a lei eleitoral, definir um novo modo de escrutínio. Mas isto é um projeto ainda indefinido. Se não se fizer assim, teremos de voltar a votar com as mesmas regras eleitorais, pelo menos durante os próximos dez anos.

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