Cardeais pedem transparência

Cardeais pedem transparência
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A sucessão de um Papa na igreja Católica Apostólica Romana raras vezes foi tão incerta.
Pelas extraordinárias condições em que Bento XVI terminou o pontificado, os cardeais não residentes que participam no Conclave estão excecionalmente curiosos quanto ao desenrolar do processo.

Identificar os problemas e encontrar soluções é a sua prioridade para que o novo Sumo Pontífice ponha em marcha as mudanças necessárias. Os norte-americanos têm insistido bastante na necessidade de mais transparência e têm dado conferências de imprensa desde segunda-feira.

Daniel Nicholas Dei Nardo, arcebispo de Houston: “Obviamente, queremos saber e aprender o que pudermos relativamente ao governo da Igreja e a Curia é uma parte. Em consequência, queremos debater e aprender e vamos insistir enquanto os outros cardeais sentirem que precisam de informação”.

O caso é que Bento XVI, enquanto Papa, vetou o acesso ao dossiê “Vatileaks”.

O caso vai passar para a mãos do sucessor, apesar dos cardeais norte-americanos terem tido acesso a uma fonte privilegiada, o arcebispo, Carlo Maria Viganò, embaixador do Vaticano em Washington.

Viganò recriminou Bento XVI por o ter afastado de Roma em alegada represália da denúncia, há dois anos, da corrupção e do secretismo que reinavam na Santa Sé.

A verdade é que os cardeais do Novo Mundo querem terminar com todas as intrigas de uma Igreja Católica que consideram demasiado ‘europeia’.

Um continente que representa apenas uma quarta parte dos católicos do mundo.

Com 59 cardeais eleitores, os europeus constituem mais da metade dos membros do Conclave e muitos apoiam as petições dos delegados norte-americanos.

O próximo Papa vai precisar de muitos apoios fora do Velho Continente para atingir os 77 votos que permitem lançar o fumo branco.

Sob pressão das críticas, Bento XVI nomeou seis cardeais não europeus em novembro de 2012.

Um fator que pode jogar a favor de um inesperado favorito no Conclave.

Estamos com Fabio Zavattaro foi jornalista no “Avenire”, principal jornal católico italiano. Tornou-se no principal vaticanista da RAI Uno e seguiu todas as viagens do Papa, desde 1983. Foi o jornalista que mais contacto teve com a Santa Sé durante o longo calvário de João Paulo II e durante o Conclave que elegeu Bento XVI.

Fabien Farge, euronews – Como explica a atitude rebelde de uma parte dos cardeais durante a congregação? Eles vão ter um peso maior nesta inesperada eleição do próximo Papa?

Fabio Zavattaro, vaticanista – Acho que os cardeais querem sobretudo compreender o que os espera, ou seja, chegarem a um acordo, saber quais serão as prioridades que a Igreja e o Papa enfrentará, assim que o sucessor de Bento XVI seja nomeado. Parece-me que o objetivo é entender bem os problemas que há a resolver. Só depois das respostas é que se poderá nomear, em consciência, a pssoa mais idónea para encontrar as soluções.

euronews – A Igreja enfrenta imensos desafios. Como pode avançar no mundo atual?

FZ – Atualmente, faz falta um Papa que reúna ao mesmo tempo, o carácter pastoral tradicional (por exemplo) de Karol Wojtyla, e a capacidade intelectual de Bento XVI. Um Papa que se situe bem na Curia e que, ao mesmo tempo, eleve o debate e volte a dar sentido aos valores que ficaram à margem. Como quando Bento XVI quis dar vida a esta nova ideia de evangelizacão, porque na Europa, no Velho Continente, sente-se uma distância que se deve superar. As congregações gerais vão ter este ponto de vista.

euronews – Entre as recentes nomeações de cardeais por Bentoo XVI, em novembro, vemos que não há nenhum italiano mas sim um nigeriano, John Onaiyekan, que figura entre os elegíveis. Trata-se de um sinal?

FZ – Na minha opinião é que sim, que se trata de um sinal da Igreja que já com Paulo VI e com o Concilio (Vaticano II) quis abrir-se ao mundo. Há uma imagem que gosto de recordar. Quando João XXIII abriu o Concilio, no interior da Basílica de São Pedro, a Igreja ainda estava fechada nos seus muros. Paulo VI fez a missa de encerramento do Concílio na Praça de São Pedro. Passou a abrir a Igreja ao mundo. E é um bom sinal que haja um cardeal elegível africano. Entre outros, o cardeal Onaiyekan, arcebispo de Abuja, na Nigéria, onde, como sabemos, os cristãos vivem uma situação difícil. Bento XVI quis lançar um sinal inequívoco a toda a Igreja.

euronews – Tem um favorito? FZ – Tenho muitos favoritos. Há cardeais que vêm dos países do centro da Europa. Poderia citar dois nomes como Schoenborn e Erdo. Outros vêm da América Latina, Scherer ou Norberto Rivera Carreira, o arcebispo de México… realmente não vejo os italianos na primeira linha mas, decerto, os cardeais Scola ou Ravasi são duas pessoas a ter em conta no Conclave.

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