Conselho dos Guardiães afasta reformistas e moderados da lista de candidatos presidenciais no Irão

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A decisão do Conselho dos Guardiães da Constituição de eliminar da corrida para as presidenciais o único candidato que podia mobilizar as vozes reformistas é, em qualquer caso, cómoda para estas eleições.

Oito candidatos passaram o teste. Alguns são figuras muito importantes, outros menos, mas em todo o caso, cinco entre eles são homens de confiança do Guia Supremo, que preferiu blindar as eleições com candidatos exclusivamente conservadores. O único reformista em campanha, Mohamed Reza Aref, não tem praticamente nenhuma possibilidade.

Quem tinha todas as possibilidades era Akbar Hachemi Rafsanjani, que se apresentou às presidenciais, de surpresa, no dia 11 de maio, apoiado por grande parte dos reformistas do país, entre eles, o ex-presidente Katami. As razões da desqualificação diferem, segundo o campo político a que pertença o analista…

Emad Abshenas, jornalista conservador:

“A razão pela qual o Conselho dos Guardiães anunciou que Rafsanjani não pode candidatar-se é por ser muito velho. A presidência requer um elevado nível de atividade.”

Alireza Khamesian, jornalista reformista:

“A decisão de Rafsanjani de se inscrever nas listas, no último momento, molestou muitas fações políticas e deitou a perder muitos planos.”

O campo reformista, dizimado pela repressão nas grandes manifestações de 2009, depois da contestada vitória de Ahmadinejad, contava com Rafsanjani, que sem nenhuma dúvida está a pagar pelo seu apoio, mesmo que ambiguo, ao movimento de protesto.

Rafsandjani: “O mais importante agora é recuperar a confiança da população que levou ao poder muitos dos atuais dirigentes. Atualmente essa confiança está minada. Este devia ser o nosso objetivo sagrado: Na situação atual, não faz sentido manter detidas determinadas pessoas. Deixemos que se reúnam com as famílias.”

Rafsanjani foi um revolucionário irrepreensível, íntimo do Ayatolá Komeini, primeiro foi presidente do Parlamento, e depois da República de 1989 a 97. É uma personagem rica e influente. Tem uma rede de apoios considerável.

Em 2005 tentou regressar à presidência. Apesar de ter sido o mais votado na primeira volta, na segunda, foi derrotado por uma ampla margem, pelo conservador Mahmoud Ahmadinejad. Foi a pior derrota da sua carreira.
Desta vez, os apoiantes esperavam que o seu empreendedorismo tirasse o país da crise económica e contavam com o seu pragmatismo para melhorar as relações com os Estados Unidos.
Mas sem o apoio do Guia Supremo e do clero conservador, que depois de oito anos de tensas relações com Ahmadinejad queriam um homem dócil na presidência, Rafsanjani não tinha o perfil adequado.

Os nomes não apresentados publicamente, foram os nomes das figuras afastadas.

O Conselho dos Guardiães da Constituição do Irão publicou a lista dos candidatos às presidenciais, mas desqualificou Akbar Hashemi Rafsanjani, presidente do Conselho de discernimento do interesse superior do regime e duas vezes presidente da República Islâmica, o que foi inesperado. Para analisar este afastamento falámos com Hassan Shariatmadari, analista político em Hamburgo, na Alemanha.

euronews – Hashemi Rafsanjani teve um papel muito importante na formação da República Islâmica, apesar disso, foi desqualificado. Como se interpreta?

Hassan Shariatmadari, analista político – Por um lado, a desqualificação de Rafsanjani é de facto a desqualificação da Revolução Islâmica, em que ele teve um papel determinante. Pelo menos até ao segundo mandato presidencial, foi uma das figuras principais deste regime. Depois, converteu-se em presidente do Conselho de discernimento e diretor do Comité de Peritos, que são postos extremamente importantes na República Islâmica.
Por outro lado, Rafsandjani deve ter sido desqualificado pelo Guia Supremo, Ali Khamenei. Com esta candidatura, Kamenei pode tê-la compreendido como uma diminuição dos seus poderes, pois deixaria, forçosamente, de ter o mesmo ascendente sobre a totalidade do do executivo.
Por esta razão, tratou de colocar fora do caminho os candidatos políticos que não se submetem a ele, ou então está a limitar o coração do sistema apenas aos homens de confiança e em que pode mandar.

euronews – Personalidades políticas como a filha do Ayatollah Khomeini, o fundador da República Islâmica, pediram ao Guia Supremo para intervir e reintegrar Rafsandjani na corrida presidencial. É uma hipótese credível?

HS – Há muito poucas possibilidades. Mas se realmente acontece, um Rafsanjani que passe sob as ordens do líder estaria em dívida com Kamenei, que defende políticas que evitam a abertura do leque político, que evitou a colaboração com o ocidente sobre a transparência do programa nuclear iraniano e também tem dificultado a cooperação para resolver os problemas do país.

euronews – A candidatura de Esfandiar Rahim Mashaï também foi recusada. Era previsível?

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HS – Na minha opinião, Rahim Mashaee não tinha muitas possibilidades. Pensou-se que Ahmadinejad, Rahim Mashaee e seus apoiantes iam mobilizar a sociedade e revelar certas informações confidenciais se o delfim do presidente cessante fosse afastado. As ameaças persistem mas, pelo que se verificou até agora, o Conselho de Guardiães decidiu correr o risco.
Nos próximos dias saberemos se a decisão foi de Kamenei ou não. Provavelmente sim, para não coabitar com dois mandatos de Masahee. Decidiu que queria um regime monopolítico.Seja como for, o novo presidente do Irão terá sempre os mesmos problemas com o Guia Supremo, por isso a hegemonia será difícil de concretizar.

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