"Os laicos não entendem os islâmicos e os islâmicos não entendem os laicos", Etyen Mahçupyan

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Etyen Mahçupyan é analista político e jornalista na Turquia. A Euronews fala com ele para compreender a sua leitura dos acontecimentos no país.

Euronews:

Há 15 dias que há incidentes na Praça Taksim. À muitas pessoas que não conseguem entender o que está a acontecer. Qual é a sua análise sobre a situação?

Etyen Mahçupyan:

Neste momento é uma questão que abrange diferentes setores. Há muitos atores integrados. Tudo começou a partir de uma fação laica da sociedade, um movimento jovem. Ao mesmo tempo, há um outro ator, a plataforma de Taksim, que é composta por habitantes do bairro Taksim. Criaram um movimento para proteger Taksim e o Parque Gezi. Depois juntaram-se outros grupos que representam os diferentes setores da política turca. O problema é que tornou-se difícil diferenciar esses grupos. O principal, neste movimento, é um grupo espontaneo e não têm líder. E eles não estão dispostos a usar as ferramentas e métodos tradicionais da política. Por isso não não podem ser considerados de forma institucional. Esta situação abriu caminho a outros, que têm instituições, a dominar a situação. Criou-se ali uma cultura. A cultura da não associação. Eles estão lado a lado, não se tocam ou empurram uns aos outros e e não estabelecem uma relação entre eles. Isto criou um mosaico e causou duas coisas: primeiro, politizou-se, parcialmente, a questão e segundo a situação começou a degenerar.

Euronews

Como avalia a perceção do governo? Parece que o governo vê esta questão como uma tentativa de um golpe militar mas haverá, de um dos lados, uma ação que não está relacionado com isso?

Etyen Mahçupyan:

Na verdade, no início, o governo não entendia o que estava a acontecer. Especialmente durante os primeiros três dias. Mas, com uma análise mais profunda, entendemos que há um enorme fosso entre islâmicos e laicos em termos de descodificação dos seus códigos culturais. É por isso que os laicos não entendem os islâmicos e os islâmicos não entendem os laicos. Eles não conseguem entender o porquê das revoltas dos jovens, porque a sua juventude não gosta da juventude laica. Há toda uma geração de jovens nascidos na década de 90, entre os islamitas, e eles não agem assim. É por isso que o partido no poder, o AKP, tenta ver quem está por trás desse movimento. Eles acreditam que esses jovens manifestantes são manipulados. Falar de uma tentativa de golpe parece exagerado, mas acho que há pessoas que querem criar uma dinâmica que poderia conduzir a um golpe de Estado. Vemos sinais, em particular, através do que acontece nos mercados financeiros: há uma reconfiguração das relações entre as organizações políticas.

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