Caso Snowden com sabor a Guerra Fria

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China, Rússia, Equador ou Cuba. Pontos estratégicos do anti-imperialismo americano. Escolha propositada ou pura coincidência? Os destinos de fuga de Edward Snowden são históricos inimigos dos Estados Unidos, uma escolha que dá um sabor de Guerra Fria ao caso da fuga do antigo consultor da agência de segurança dos Estados Unidos. Vladimir Putin veio a publico anunciar a intenção da Rússia de não entregar aos Estados Unidos um indivíduo que sabe tanto de espionagem americana.

“Snowden é um homem livre, não cometeu qualquer crime no nosso país. Não existem acordos internacionais de extradição entre a Rússia e os Estados Unidos. Espero que os nossos parceiros entendam isso”, afirmou Putin durante uma visita à Finlândia.

A resposta dos norte-americanos chegou rapidamente por intermédio do secretário de Estado, John Kerry, que não se alargou, mas deixou um recado a Moscovo: “Como nação soberana que é, a Rússia não tem qualquer interesse em aliar-se a um indivíduo acusado de violar a lei de outro país, o que, de acordo com as normais de direito internacional, fazem dele um fugitivo.”

Os dois históricos inimigos do período da Guerra Fria mantêm atualmente uma relação cordial de fachada, mas os pontos de atrito e discórdia entre as duas potências são numerosos. Aliás, como também o são em relação à China. Não é por acaso que Pequim e Moscovo acolheram um desertor que Washington qualifica de inimigo.

“Isto tudo serve para demonstrar à América que não nos interessam as relações externas. Basicamente nós estamos em plena Guerra Fria: o inimigo do teu governo é nosso amigo. Se não fossem os Estados Unidos, o governo russo não tinha ido tão longe, mas não sabemos o que vai acontecer. De qualquer maneira, Putin criou problemas ao presidente norte-americano e isso provavelmente fá-lo feliz”, comentou Masha Lipman, presidente do centro Carnegie em Moscovo.

Consciente ou não de tudo isto, com estes jogos de manipulação, Snowden está a deixar o governo norte-americano furioso. O antigo consultor da NSA tem escapado por países, que não são conhecidos pela liberdade de expressão e que têm todo o interesse em provocar a hegemonia americana.

Giles Merrit diretor da Agenda de Segurança e Defesa, em Bruxelas, respondeu às questões da euronews, sobre o caso Edward Snowden.

Concluiu que houve excessos do lado americano. E que Vladimir Putin está a aproveitar o caso, para melhorar a sua popularidade interna.

Deixou um aviso: é preciso guardar o guarda, como se dizia na Roma antiga.

euronews: Ouvimos, nos últimos dias, palavras duras. trocadas entre Moscovo e Washington, sobre o caso Edward Snowden. Acredita que a relação entre estes dois “inimigos” da velha guerra fria está prestes a estoirar? Ou é apenas retórica política?

GM: “É claro que Snowden é uma batata quente e os russos estão a manipular, tentando esconder os dedos queimados. Mas a verdadeira questão suspeito que seja a opinião pública. Como acalmar o sentimento que parece existir, em todo o mundo? Está a instalar-se um medo terrível, em relação à segurança dos nossos e-mails e mensagens de texto, por telefone. Todos aqueles que trabalham para os governos são suspeitos de bisbilhotice. É realmente um grande problema e os governos são os culpados disso. E a pergunta agora é como podemos assegurar que há algum tipo de fairplay?”

EN: Disse que é preciso algum tipo de fairplay. O que quer dizer e porquê? Precisamos de alguma base jurídica, antes de fazer qualquer tipo de espionagem?

GM:

“Acho que sim. Penso que há um forte sentimento, parecido com o do Romano antigo que perguntava: ‘quem guarda o guarda?’ Penso que há um crescente sentimento desse género. Nós não precisamos de saber os pormenores, mas precisamos saber que alguém, independente e fiável, está a vigiar os bisbilhoteiros”.

JF: Voltemos à Rússia. O Presidente Vladimri Putin considerou o pedido de extradição de Snowden, feito pelos Estados Unidos, como um “disparate”. O que ganha Putin com estas declarações tão duras, para a América?

GM: “O que estamos a ver, em Putin, é puro oportunismo. Há a questão da Síria, e outros dossiers pendentes. Putin não é assim tão popular, na Rússia, e está a jogar para a opinião pública interna. Mas, ao mesmo tempo, acho que está a crescer a ideia de que, em todo o mundo, há mãos sujas. Os americanos estão a perseguir Edward Snowden e, antes disto, perseguiram outras pessoas. Há toda a questão Wikileaks que nos faz sentir que os americanos também estão a manipular, de uma forma muito desajeitada e um pouco hipócrita”.

EN: Com Snowden agora no centro das atenções, acha que vai haver uma mudança de política, sobre estes programas de vigilância? Como o senhor já disse, parece existir um grande apoio da opinião pública, para ações, como as de Snowden.

GM: “A resposta é sim. Eu acho que vai ser uma enorme pressão, não só a partir de ativistas dos direitos civis, mas dos media e da opinião pública, em geral. Eu acho que vai haver muita pressão para criar sistemas de controle visível, transparente, para que, de alguma forma, fiquemos a saber que os guardas estão a ser vigiados”.

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