Ao fim de 20 anos de reinado, Alberto II da Bélgica, de 79 anos, abdica em favor do filho mais velho, Filipe, de 53, numa data que normalmente já é marcada pela pompa e circunstância. 21 de Julho, dia da festa nacional, assinala um importante capítulo na história do país que se separou do Reino da Holanda em 1830.
Para o jornalista belga especializado em monarquia, Thomas de Bergeyck, “é um presente maravilhoso que o rei Alberto II quis dar ao filho Filipe. Imagine o que é começar um reinado a 21 de julho, o dia em que o primeiro rei dos belgas fez o seu discurso de investidura. Isso aconteceu em 1831, quando Leopoldo I foi coroado na Praça Real e deu início a uma nova monarquia europeia, a da Bélgica. Agora, 180 anos depois, o príncipe Filipe vai ser coroado rei a 21 de julho”.
É a primeira vez que um rei abdica do trono na Bélgica, país marcado por uma divisão cultural e linguística entre os flamengos do norte, de origem germanófila, e os valões do sul, de origem francófona.
A propósito de uma mensagem deixada no livro de honra sobre o evento, colocado na Câmara Municipal de Bruxelas (capital), um dos cidadãos belgas disse que deseja “ardentemente que a Bélgica reencontre o sentido de unidade e que o rei seja o garante dessa mesma unidade”.
“Esse era também o desejo do meu avô, que serviu toda a vida no exército belga e que foi prisioneiro de guerra na Alemanha durante quatro anos. Para ele, a festa do dia nacional era muito importante e colocava sempre a bandeira”, acrescentou o traseunte à euronews.
Numa barbearia de Bruxelas há um adepto incondicional da monarquia que recorda a crise política de 2011 que deixou o país sem governo mais de um ano, um recorde do Guiness.
Mas para outras gerações, tanto o lado festivo como o significado político não ocupam muita atenção.
Este domingo, em frente ao Palácio Real, terão lugar honras militares, seguidas de uma festa popular, com um orçamento que ronda o meio milhão de euros.
Dentro de 10 meses, o rei Filipe será chamado a dar posse ao novo governo, depois das eleições que se avizinham um teste decisivo para a unidade da Bélgica.
A correspondente da euronews em Bruxelas, Audrey Tilve, conversou com Dave Sinardet, doutorado em ciência política e professor na Universidade Livre de Bruxelas sobre a forma diferente como valões (sul) e flamengos (norte) encaram a monarquia.
“No lado flamengo, nomeadamente na classe política, é mais comum fazerem-se abertamente críticas sobre certos aspetos da monarquia. No lado francófono, essas críticas são talvez mais encobertas ou discretas. Isso deve-se ao facto de que todo o debate sobre a monarquia está um pouco misturado com o debate sobre o futuro da Bélgica”, explicou.
“Na Flandres está agora no poder o maior partido flamengo, N-VA, que é assumidamente separatista e muito crítico da monarquia, porque a considera um símbolo da identidade belga. É por isso que se ouvem críticas mais fortes à monarquia na Flandres do que na região da Valónia, francófona. Na Valónia há um certo consenso sobre uma Bélgica federal, o que se traduz também num maior consenso em relação à monarquia”, acrescentou Dave Sinardet.
(veja a entrevista na íntegra em vídeo)