A crise política e de segurança no Egito está na ordem do dia. A Euronews falou com Hadeem Sabahi o ex-candidato presidencial e um dos líderes da Frente de Salvação Nacional.
Euronews
Há países e organizações humanitárias que descrevem o que aconteceu como um uso desproporcionado da força e, noutros países, foi-se mais longe considerando-se crimes contra a humanidade, como é que a Frente de Salvação Nacional vê a questão?
Hadeem Sabahi
Consideramos que o povo egípcio decidiu quebrar uma rotina, o estado egípcio decidiu-o depois de um período de paciência, deliberação e após o aviso, dentro dos limites da lei. A eficiência deste corte tem a ver com o grau de resistência. Os países europeus que fizeram estas descrições, são livres para o fazer, mas pedimos que estejam conscientes do contexto e das condições desta ação. E pedimos-lhes que compreendam uma coisa muito importante: há uma diferença entre a convicção dos erros, enquanto resultado da implementação da decisão, e uma posição política. Eu pergunto aos países europeus que condenaram, tendo por base o critério humanitário e insuficiente informação, onde estavam quando o terrorismo no Sinai estourou? Onde estavam quando as igrejas foram queimadas no Egito? Onde estavam quando polícias foram abatidos dentro das esquadras? E quando pessoas inocentes foram atacadas nas ruas?
Euronews
A Frente de Salvação Nacional tem sido acusada de um discurso diferente quanto à posição do exército e da polícia, o vosso discurso não é o mesmo na situação atual em comparação com a primeira revolução?
Hadeem Sabahi
Quando o exército decidiu, a 25 de janeiro e a 30 de junho, estar com o povo, nós demos-lhes todo o apoio e respeito, devido à sua posição em relação ao povo egípcio. Fizemos o mesmo com a polícia egípcia, pedimos-lhes para estarem com as pessoas, mas eles levantaram-se contra elas a 25 de janeiro. Então estávamos contra eles. A 30 de junho eles apoiaram as pessoas é por isso que a nossa posição mudou.
Euronews
Há um medo, nas rua egípcias, de um retorno ao que chamam de policiamento de Estado, em plena força e determinação, como vê esse medo?
Hadeem Sabahi
Nem pensar que voltamos a essa situação. O Egito não vai sofrer, novamente, com um estado policial, ou qualquer tipo de aparato de segurança. As pessoas provaram que são capazes de confrontos e de acabar com qualquer tipo de incursão desse género. O significado disso é que as pessoas estão prontas para pôr fim a um retorno a essa realidade. Não voltaremos ao regime de Mubarak depois da queda da Irmandade. E a nossa revolução, de 30 de Junho, não quer dizer que Mubarak caiu para dar lugar à Irmandade Muçulmana e que depois caiu a Irmandade para restaurar o regime de Mubarak.
Euronews
Chamados a reavaliar as relações com o Egito alguns países ocidentais estão a considerar cortar a ajuda, quais são as vossas alternativas, no caso, de isso se concretizar?
Hadeem Sabahi
Quem quer proteger os seus interesses, no Egito, tem de respeitar a vontade do povo egípcio, e nós saudamos o momento em que a nação árabe, ou seja, a Arábia Saudita, Kuwait, os Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Jordânia, os países que declararam que, se a ajuda vai ser cortada, então a nação árabe é rica em homens e dinheiro e vai compensar isso.