Presidente de Taiwan quer resolver conflitos territoriais

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De  Euronews
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É um conflito que está congelado e que ameaça a Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Estamos em Taiwan, uma ilha que reclama a independência da China, mas a China reivindica a soberania sobre o território.

As relações com Pequim melhoraram muito com o novo presidente, que procura uma parceria comercial com a Europa, para evitar ser englobada na Grande China, pelo menos a nível económico.

Taiwan quer agora ser um mediador na disputa territorial entre o Japão e a China. Falámos sobre tudo isso com o presidente Ma Ying-jeou.

Margherita Sforza, euronews: Sr. Presidente, bem-vindo à euronews. Taiwan é um importante parceiro comercial da União Europeia. Há um projeto para um acordo de comércio livre, mas as negociações ainda não começaram. É um acordo importante para Taiwan?

Ma Ying-jeou: O objetivo de negociarmos com a União Europeia a assinatura de um tratado de comércio livre ou de cooperação económica é, em primeiro lugar, para o benefício das duas partes, porque os negócios bilaterais, no último ano, chegaram aos 48 mil milhões de dólares. A União Europeia é a maior fonte de investimento de Taiwan. Já investiu mais de 32 mil milhões.

Margherita Sforza, euronews: A União Europeia está a fazer progressos nos acordos de comércio livre com vários dos vossos concorrentes na Ásia. Já fez com a Coreia do Sul, com Singapura e agora está a negociar com o Japão. Tem medo que Taiwan seja deixada para trás?

Ma Ying-jeou: A Coreia do Sul e os Estados Unidos assinaram um acordo de comércio livre há dois anos. A Coreia do Sul é o nosso concorrente mais importante nos mercados globais. Isso é uma ameaça considerável ao nosso país.

Ao mesmo tempo, o acordo assinado entre a Coreia e os Estados Unidos, que entrou em vigor no ano passado, já teve efeito nas nossas exportações para América. Já nos atrasámos e temos de recuperar o terreno perdido o mais depressa possível.

Margherita Sforza, euronews: Como é que a União Europeia vai beneficiar com este acordo de comércio livre?

Ma Ying-jeou: Segundo um grupo de reflexão da Dinamarca, o acordo deve permitir a Taiwan aumentar as exportações para a União Europeia em 10 mil milhões de euros. Para a Europa, nos próximos dois a dez anos, o aumento pode ser de 12 mil milhões.

Taiwan está no centro da Ásia Oriental. Muitos países podem usar este acordo, depois de assinado, para melhorar o comércio com a China e com a Europa.

Margherita Sforza, euronews: Com a sua liderança, as relações comerciais entre a China e Taiwan fortaleceram-se. Os dois países estão mais perto. Estarão demasiado perto?

Ma Ying-jeou: Acredito que a nossa relação com a China continental se está a desenvolver normalmente. A China é o nosso principal parceiro comercial desde há dez anos. Na última década, quisemos que o comércio entre os dois países crescesse, mas quisemos também que a nossa fatia no total das trocas comerciais não crescesse demasiado depressa.

Desde que tomei posse, há cinco anos, as nossas trocas diretas com a China cresceram para os 160 mil milhões de dólares por ano, o que não representa uma grande fatia do nosso comércio total, porque as trocas com outros países também aumentou.

Margherita Sforza, euronews: Um dos medos da Europa tem a ver com o facto de vários dos vossos mercados continuarem fechados às empresas europeias. Até onde estão dispostos a abrir os vossos mercados às empresas europeias, por exemplo no setor dos serviços?

Ma Ying-jeou: No que toca aos serviços, os acordos de cooperação económica assinados com a Nova Zelândia e, em breve, com Singapura, cobrem os serviços. Depois desses acordos estarem concluidos, as tarifas de importação para 85% dos produtos vão ser reduzidas a zero. Por isso, se assinarmos um acordo com a União Europeia, o conteúdo será, provavelmente, muito semelhante.

Margherita Sforza, euronews: Como pode este acordo de comércio livre com a Europa ajudar Taiwan a melhorar a posição internacional?

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Ma Ying-jeou: Nos últimos 60 anos, devido à pressão política internacional, estivemos relativamente isolados. No entanto, Taiwan é um país importante, no que toca ao comércio. As exportações e importações estão no décimo sétimo ou décimo oitavo lugar, a nível global. Este facto não pode ser menosprezado. Quando assinamos acordos de cooperação económica com outros países, o espaço de manobra internacional aumenta. Com certeza, não podemos apoiar-nos só no comércio e no investimento.

No campo internacional, tentamos desempenhar o papel de fazedores de paz e de fornecedores de ajuda humanitária. Assim provamos que somos uma mais-valia, e não um problema, para a comunidade internacional.

Margherita Sforza, euronews: Uma das maiores ameaças para a região, neste momento, é a disputa territorial sobre as ilhas Diaoyutai. Estas ilhas desertas, ricas em petróleo e gás, são reclamadas pelo Japão, pela China e por Taiwan. Promoveu a iniciativa de paz da China Oriental, mas pensa que, depois da tensão do último verão, ainda é possível partilhar estes recursos?

Ma Ying-jeou: As ilhas Diaoyutai são parte do território soberano da República da China, ou Taiwan. Isso causou algum conflito com o Japão nos últimos 40 anos. Em abril deste ano assinámos um acordo de pescas com o Japão, que acaba por ser uma solução temporária nesse campo. Mesmo se as questões de soberania ainda estão por resolver, a nossa posição é que a soberania não pode ser dividida, mas os recursos podem ser partilhados.

Quando resolvemos a questão dos recursos, o tema da soberania deixa de ser tão importante e pode ser resolvido mais tarde.

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Margherita Sforza, euronews: Até que ponto modelou este plano de paz com base em exemplos europeus?

Ma Ying-jeou: No que toca a este assunto, tomámos sempre como exemplo a forma como os europeus resolveram a contenda a respeito do petróleo do Mar do Norte. Penso que este precedente tem implicações importantes em muitas áreas onde há disputas de recursos. Se vamos, ou não, conseguir chegar a uma resolução semelhante, tudo vai depender da determinação e vontade dos países vizinhos.

Margherita Sforza, euronews: Na sua proposta, no final, a questão da soberania continua por resolver. Qual será a solução política?

Ma Ying-jeou: Uma resolução final para assuntos como este tem de ser, necessariamente, uma solução política. No processo de encontrar essa solução, às vezes é possível unir o desenvolvimento dos recursos, o que suaviza o caminho para que se encontre um acordo político. O problema das ilhas Diaoyutai envolve o Japão, a China e Taiwan. Estamos à procura de um acordo detalhado sobre esse assunto.

Mas, a curto prazo, enquanto aguardamos, resolvemos a questão dos direitos de pesca com o Japão, o que aumenta as hipóteses de resolvermos a contenda territorial. Acredito que isso é benéfico para a paz na região, como um todo.

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