Primeiro-Ministro da Suécia, em entrevista à euronews: articular a austeridade, com a redução dos custos de trabalho, para aumentar competitividade da Europa

Primeiro-Ministro da Suécia, em entrevista à euronews: articular a austeridade, com a redução dos custos de trabalho, para aumentar competitividade da Europa
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A Suécia está no centro das atenções, em Global Conversation. Um país que conseguiu passar, relativamente incólume, pela crise económica e que é considerado um dos mais felizes do mundo.

Ainda que haja desemprego juvenil, imigração e uma extrema-direita em crescimento, temas que são uma preocupação. Discutimos tudo isto, com o primeiro-ministro, Fredrik Reinfeldt.

euronews – O senhor concorda que há uma crescente desconexão, entre a imagem que temos da Suécia e a realidade no terreno?

Fredrik Reinfeldt – Acho que muitas pessoas têm necessidade de conhecer o que acontece na Suécia. Estão presas às ambições mais antigas. Eu acho que somos uma economia orientada por uma reforma que pode ser exemplo para muitos outros países. Se olhar para a Suécia de hoje, verá que fomos capazes de ter um crescimento mais elevado, do que muitos outros países europeus. Somos afetados pela crise financeira, mas não tanto, quanto muitos outros países europeus.

EN – Gostava de citar o Fórum Económico Mundial e a sua avaliação da competitividade. Dizem que “a Suécia é uma das economias mais produtivas e competitivas do mundo”, mas, socialmente, está em dificuldade. O desemprego juvenil é muito elevado, cerca de 25 por cento. Vai responsabilizar-se por isso, o seu governo assume responsabilidades nesta falha?

FR – Concordo que há um momento muito competitivo da vida empresarial, mas já vimos que temos uma desaceleração dos nossos resultados na Educação, há quase 20 anos. Eu acho que, no passado, não analisámos cuidadosa e suficiententemente o tipo de conhecimento que forneciamos, no sistema de ensino. Estamos a moldar isso, agora.

EN – Quando é que essas medidas vão produzir efeitos? Quando é que os números vão começar a baixar?

FR – Acho que isso já está a acontecer. Mas também é necessário crescimento económico. A economia sueca deve crescer 2,5 por cento, em 2014, o que é uma das melhores previsões de crescimento, na União Europeia. Mas ainda precisa de se concretizar. É com essa perspectiva de crescimento que estamos a trabalhar. Muitos desses jovens não são a primeira escolha dos empregadores que procuram o funcionário perfeito, com a experiência perfeita e a educação perfeita. Esses são os que mais facilmente entram, no mercado de trabalho. Temos os drop outs, aqueles que não têm experiência e é com esses que estamos a trabalhar agora. Isso também explica os valores elevados do desemprego dos jovens.

EN – Regressamos a essa ideia de imagem e realidade. A imagem que temos da Suécia, de uma justa e tolerante sociedade, também foi descartada. Quando o senhor olha para isto, do lado de fora, na minha perspectiva, quando os bairros de imigrantes explodiram em Maio, o que foi muito chocante… de repente, a Suécia parece uma sociedade muito polarizada. Há uma polarização, em toda a Suécia?

FR- Parcialmente, mas isso não é novo. Fazemos essa discussão da polarização, nos nossos subúrbios, desde os anos 70.

EN – Os tumultos, os confrontos, com estas proporções, são novos…

FR – Bem, o que vemos é um grupo de jovens, sem emprego, muitas vezes relacionados com atividades criminosas, tráfico de drogas, muitos deles acreditam no uso de violência, violência contra os outros, contra a polícia, contra os bombeiros e, claro, que são problemáticos. Mas também deve ver que, ao longo destes motins, 95 por cento das populações que lá vivem disse que não queria destruir os bairros, não queria destruir os subúrbios.

EN – Mas há pessoas a dizer que o modelo sueco está a ser empurrado para os seus limites, há um nível muito elevado de mistura étnica na Suécia, cerca de 15 por cento, e as pessoas estão a dizer que a Suécia não pode resistir mais a isto.

FR – Eu discordo. Acho que já mostrámos que temos gerações de imigrantes que vieram para a Suécia, integraram-se na sociedade sueca e contribuiram para um tipo muito interessante de sociedade multi-étnica. Tudo isto de uma forma que eu acho que é o caminho a seguir para o futuro. O que eu acho que aconteceu, desde os anos 70 e seguintes, é que as gerações que vieram, não entraram facilmente no mercado de trabalho, como acontecia antes. Isso acontece, porque a complexidade do mercado de trabalho tem crescido. Não é tão fácil, como costumava ser. Muitos dos refugiados, as pessoas que estão a chegar agora têm muito pouca formação escolar, em tudo. Mas o que estou a dizer é que queremos resolver isso. Podemos aumentar as horas de Inglês, no sistema de ensino, porque precisamos deles. Temos uma sociedade em processo de envelhecimento que não tem filhos, em número suficiente, nascidos na Suécia. Por isso, precisamos dessas pessoas, vindas de fora da Suécia, para elevar e manter as nossas ambições de bem-estar.

EN – A Suécia destacou-se, por ser um dos poucos países a dar estatuto de refugiado aos sírios, mas isso voltou-se contra o senhor, baixando a sua popularidade. Considerou essa questão?

FR – Este ano, chegaram sete mil pessoas, da Síria. Devemos reconhecer que já temos alguma gente de origem síria neste país. Mas muitas destas pessoas já tinham relações com a Suécia. Tinham cá parentes e foi por isso que vieram para a Suécia. No passado, os sírios têm sido muito fáceis, em comparação com outros grupos étnicos, em termos de integração na sociedade sueca. São bons empreendedores, são eles próprios que muitas vezes encontram o caminho, para o mercado de trabalho. Sim… há, naturalmente, aquele sistema político sueco que dizem que fecha as fronteiras e não deixa entrar ninguém. Acho que é correto dizer que eles ainda estão à margem, com apoio mais pequeno que a grande maioria da população sueca, que manifestou a ideia de que devemos estar abertos à imigração.

EN – Eles são a minoria, mas é uma minoria crescente. Acho que nas últimas eleições, os Democratas da Suécia, o partido anti-imigração, duplicaram a votação. Eles tinham cinco por cento e agora têm 10 por cento. É qualquer coisa que o senhor deve ter em consideração, quando pensa na política de imigração da Suécia…

FR – São o dobro, nas sondagens. Isso não é o mesmo que o resultado de uma eleição.

EN – Mas o senhor leva em consideração os resultados das sondagens?

FR – Sim, mas não é nada que já não tivéssemos visto, noutros países da Europa. Nós não usamos a mesma linguagem e isso não lhes dá mais influência. Pelo contrário, isso vai isolá-los. Nós acreditamos no nosso modelo aberto. Eu fiz um acordo com minha coligação de centro-direita, com o Partido Verde que é liberal e muito aberto a estas questões. Vamos criar novas alternativas, para as pessoas que queiram trabalhar na Suécia.Temos, provavelmente, o sistema mais aberto de imigração e trabalho, que existe no mundo.
Temos um grande aumento de pessoas com baixas habilitações e também com altas habilitações que estão a entrar no mercado de trabalho, da Suécia. Isso mostra, nas nossas estatísticas, uma parte crescente da força de trabalho que nasceu fora da Suécia.

EN – Se olharmos para o outro lado da fronteira, na Noruega, o partido anti-imigração obteve 16 por cento dos votos. Não acha que isso vai acontecer na Suécia, que pode acontecer nas eleições do próximo ano?

FR – Não acredito nas respostas deles, para as soluções que precisamos na Suécia. Não posso dizer que quero seguir o roteiro que temos visto noutros países. Para usar as suas palavras, as suas leituras, eu diria algo em que não acredito. Eu acredito numa sociedade aberta, acredito que pessoas de religiões diferentes podem viver juntas e acredito que podem trabalhar juntas.

EN – Há quem diga que eles se podem tornar essenciais nas próximas eleições, estão ao lado da sua coligação, nas sondagens. Estaria disposto a negociar com os Democratas da Suécia?

FR – Nós vamos isolá-los, porque a única influência em que estão interessados é no ataque aos imigrantes. E não creio que esse sentimento tenha correspondência política.

EN – Mas alguns argumentam que essa abordagem lhes dá mais ar para respirar. Se não negociar, os argumentos deles podem correr livremente.

FR – Sim, mas também, nos países que fizeram o oposto, onde a extrema-direita foi envolvida em negociações, isso deu-lhes influência política e uma tendência para crescerem. É reflexo de um certo nervosismo, no nosso tempo, quando se é confrontado com a mudança, quando se é confrontado com outros factos que não tenham a ver com os imigrantes. É também o caso da Suécia, onde eles acreditam que o futuro não está aqui, está noutro lugar, é também um tipo de populismo, dizendo que todos os líderes políticos são bandidos e não querem nada de bom da vida. Eles são a força que reúne todas estas pessoas que estão descontentes, que não gostam da Suécia, que não gostam de políticos.

EN – Como eu estava a dizer, a sua coligação e o senhor acham que não é necessário olhar para as sondagens, mas eles estão ao lado da sua coligação, nas mais recentes pesquisas. Entretanto, o seu nome é dado como possível Presidente da Comissão Europeia. As eleições serão, provavelmente, em maio de 2014. Qual é a posiçao que lhe interessa?

FR – Estou a tentar ganhar as eleições suecas, em setembro do próximo ano, pela terceira vez. E não é possível combinar as duas coisas. Também quero deixar claro, neste último período do mandato, que a minha coligação tem 44 ou 48 meses e ainda temos muito pela frente, até ao dia das eleições. O que se vê agora, numa sondagem, não é igual ao que vai realmente acontecer, no dia das eleições.

EN – Então, não está disponível para ser Presidente da Comissão, não está interessado em ser o futuro Presidente da Comissão Europeia?

FR – Não. Estou a tentar ganhar, pela terceira vez, as eleições gerais, em setembro. As duas coisas não são combináveis.

EN – Olhemos então para a Europa, para o que está a acontecer na Europa, e que o senhor viu, a partir do Governo sueco. Não acha que é altura de usar esse instrumento europeu, não é o momento de a Europa começar a praticar aquilo que pregou?

FR – Eu acredito que a Europa deve ser forte, precisamos da Europa, mas há uma tendência para mais burocracia, para mais centralização das decisões de Bruxelas, que na verdade não tem nenhum grande suporte, fora de Bruxelas, quando se olha através da Europa. E isto também é verdadeiro para a Suécia. Precisamos de mais concentração na eficiência, mais concentração na racionalização. Seria bom. Mas isso não quer dizer que não tenhamos uma Europa forte, quando precisamos dela. Podem resolver-se estas duas questões.

EN – Deve ficar frustrado, quando, do seu ponto de vista, repara que os países do sul da Europa levam mais tempo, do que o necessário, para concretizarem as reformas essenciais.

FR – Bem…. eu estive no sul da Europa, eu estive em Portugal, na última primavera e discuti, com os meus colegas do sul da Europa e tenho imenso respeito pelo que eles estão a fazer. E sigo também os protestos.

EN – Mas acha frustrante?

FR – Bem…eu acho que eles têm feito muito. Acho que a Espanha começou agora a fazer as reformas, para reduzir os custos do trabalho, uma questão que vem de longe. Isso é visivel também na Grécia, há uma aceleração das reformas na Itália. Mas é uma situação politicamente difícil, para o governo de Enrico Letta. Por isso, acho que eles têm feito muito. A coisa verdadeiramente frustrante, na Europa, neste momento, é a economia mundial em transformação e nós não somos competitivos.

EN – Partindo do princípio que as coisas estão a melhorar lentamente, o senhor era capaz de dizer que a austeridade foi um sucesso? Uma sondagem recente mostra que a maioria dos europeus pensa que a austeridade falhou.

FR – Sim, há a sensação que a austeridade tenha ferido a economia.

EN – Era capaz de se aliar à Alemanha?

FR – Absolutamente, também diria que é preciso finanças públicas em ordem. É necessário ter boa ordem nas finanças públicas e é preciso fazer outras coisas, as reformas estruturais, para aumentar a competitividade, quando se trata de investigação e desenvolvimento, flexibilidade no mercado de trabalho. Definitivamente, é necessario articular as medidas de austeridade, com uma redução dos custos laborais. É uma boa solução para aumentar a competitividade.

EN – E os gregos que estiveram nas ruas praticamente todos os dias? Como vê isso, da sua perspetiva?

FR -O que é que eu posso dizer? Eles estão muito frustrados e isso dura há muitos anos. A Suécia foi atingida por uma contração muito forte, da nossa economia, nos anos 90 e esse ciclo levou quase 10 anos, até ser invertido. Acho que é o que vemos na Grécia agora. Por isso eu entendo as suas frustrações. Eles também fizeram muitas reformas, mas o nível da sua dívida é muito alto, ainda encontramos uma situação frágil, quando se analisa a Grécia.

EN – Acho que “frustração” é uma expressão muito boa, quando olhamos para a Europa como um todo. E, se olharmos para a Grã-Bretanha, lá com na Europa Continental, podemos ver a força de um referendo. O que sente, quando há paises que podem optar por sair da União Europeia?

FR – Este mundo opta por sair, isso é um pouco ilusório. Se ficar lá dentro, como membro, pode ser decisivo em muitas coisas. O Reino Unido e a Suécia também estão fora de alguma dinâmica da Europa, como é o caso da zona euro. Ambos acreditamos que estamos parcialmente fora.

EN – Mas isto é um pouco mais drástico….

FR – Absolutamente. Para a Suécia, é muito importante que o Reino Unido fique na União Europeia, é um país com um espírito que acredita muito no comércio, na abertura, acredita no alargamento da UE. Para nós, eles estão muito perto de muitos dos nossos valores. Eu acho que eles são parte de uma grande economia, juntamente com a Alemanha e a França, que eu acho que são importantes. Farei o que puder para ajudar a Grã-Bretanha a ficar dentro da União Europeia. E o trabalho de David Cameron, quando ele diz que está a mostrar ao Povo britânico que também ganha com a adesão à União Europeia, também é muito importante. Eu acompanho os media britânicos e esse debate. E, muitas vezes, isso é apresentado, aos olhos do público, como uma ameaça, como se as decisões fossem tomadas noutro lugar.

EN – Se associarmos o referendo na Grã-Bretanha com a ascensão da extrema-direita, na Europa, acha que estamos num ponto em que a democracia não não consegue alcançar tudo o que devia?

FR – Teremos talvez expectativas erradas. Não estamos num tempo em que possamos esperar que os políticos resolvam todos os nossos problemas. Não conseguimos resolver tudo. Devemos ter expectativas ajustadas, devemos ser líderes políticos, para merecer, no longo prazo, a confiança das pessoas. Isso tem sido possível na Suécia e no norte da Europa. Mas vê-se menos, em algumas partes do sul da Europa. Aí, é muito difícil recuperar a confiança perdida. Quando se perde a confiança das pessoas, aparece um novo tipo de dinamismo, que é o populismo e o extremismo. Não quero dizer que estou preocupado com isso, mas acho que muitas vezes também nós, os dirigentes, não podemos prometer resolver tudo, para ficarmos sem problemas. Isso não é liderança. Devemos dizer que temos problemas, mas podemos resolver apenas uma parte deles. Precisamos de fazê-lo em conjunto com outras partes da sociedade.

EN – Os líderes estão a usar muito, as redes sociais, tenho notado que o seu ministro dos Negócios Estrangeiros é muito ativo, com cerca de 250 mil seguidores que acompanham as suas notícias no Twitter. Mas o senhor não tem uma conta no Twitter. Porquê?

FR – É uma escolha que eu fiz. Acho que, ou se usam as redes sociais, como o Twitter, e se faz tudo muito bem e de uma forma articulada, ou, caso contrário, diz-se que só se tem 24 horas por dia, que se tem muita responsabilidade, que se tem uma vida privada, que se quer ter um equilíbrio. Eu escolhi esta última forma. É bastante fácil para o povo sueco, seguir o que eu penso e no que acredito, de outras maneiras, porque estou nos media todos os dias. Para mim, isso é importante, para preservar a minha privada e algumas horas, sem estar a pensar no trabalho.

EN – Vi uma rábula muito engraçada que foi produzida para o Festival da Eurovisão, onde o senhor é castigado, numa reunião de gabinete, por não colocar a sua chávena, na máquina de lavar a louça. Depois sai, muito comprometido, a pedir desculpa, prometendo limpar a máquina de lavar louça. É uma paródia, mas mostra que os líderes, na Escandinávia, são muito mais acessíveis, como a gente vulgar. O que faria, para nos surpreender, com as suas banalidades?

FR – Primeiro de tudo, isto é muito verdadeiro. Pensamos que os nossos líderes estão acima de nós, mas entre nós. Isto é muito importante para o povo sueco. Eles querem ter-me, em cada dia de vida, comprando as minhas refeições, indo a um restaurante, ou qualquer coisa desse género. Isso não é nada estranho. Esa rábula foi inspirada no facto de eu gostar de limpar e lavar. Sempre fiz assim. E sou conhecido por isso. Há também uma realidade e foi por isso que pensámos que poderia ser engraçado.

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