José María Olazábal é um dos golfistas mais prestigiados no planeta. Aos 47 anos, o espanhol não tem problemas em reconhecer que a carreira se aproxima do final. Para trás ficam cinco vitórias na Ryder Cup, uma como capitão, e duas no Masters de Augusta. Agora, tem também no seu palmarés o Prémio Príncipe das Astúrias para o desporto. A euronews esteve à conversa com Olazábal em Oviedo.
euronews: Que significado tem para si ser galardoado com o Prémio Príncipe das Astúrias, reservado aos grandes astros do desporto, sendo apenas o segundo golfista a recebê-lo, depois de Severiano Ballesteros?
Olazábal: É um grande orgulho, enche-me de satisfação… mas é também uma responsabilidade. É verdade que sigo os passos de Severiano e nesse sentido é um prémio muito especial. É único porque é atribuído com base no mérito desportivo mas há outros valores que contam e aos quais é atribuída uma grande importância.
euronews: A atribuição deste prémio deveu-se em grande parte ao triunfo da seleção da Europa na Ryder Cup de 2012. O que se passou naquele dia 30 de setembro e que produziu esta vitória histórica?
Olazábal: Bom, há coisas que ficam dentro da equipa, não? O meu trabalho era lidar com os jogadores e tentar extrair o melhor de cada um, fazê-los acreditar que nada estava perdido e que era possível dar a volta ao marcador no domingo. Convencer os jogadores que tinham de sair para o campo de forma agressiva, sem medo. Tudo isso se conjugou de tal forma que conseguimos ganhar o torneio.
euronews: Em que medida foi Severiano Ballesteros um dos responsáveis na vitória da equipa europeia?
Olazábal: Sem dúvida que o triunfo foi conseguido, em parte, graças a ele. Quando preparei a equipa tive a preocupação de ter a imagem e a memória de Severiano Ballesteros sempre presente. No domingo, por exemplo, vestimos de azul-marinho e branco, que eram as cores que usava habitualmente. Além disso, bordámos no equipamento a sua imagem e os anos em que nasceu e em que nos deixou. Alguns jogadores, como o Justin Rose, disseram-me que enquanto jogavam, no último dia, nos momentos complicados olhavam para a manga, viam a imagem de Severiano e ganhavam motivação para continuar a lutar.
euronews: Tem uma relação muito especial com este torneio. Há alguma possibilidade de vê-lo ao lado do capitão Paul McGinley na próxima edição?
Olazábal: A Ryder Cup, como acabou de dizer, é um torneio que trago no coração. Se o Paul McGinley me oferecer a possibilidade de ser vice-capitão, ou de ajudar de alguma forma a equipa, sem dúvida que me vou sentar com ele e discutir o assunto. Não vou dizer já que sim ou que não mas certamente que seria um caso a pensar.
euronews: Vemos atualmente muitos golfistas a apostar no circuito PGA, em detrimento do circuito europeu. A que se deve isto? Como se pode inverter esta situação?
Olazábal: Penso que isso tem vindo a acontecer devido à situação económica que atravessamos na Europa, em todos os sentidos. É mais difícil conseguir patrocinadores. Nesse aspeto os Estados Unidos estão em melhor situação mas estou convencido que apesar de se terem juntado ao circuito PGA, esses jogadores vão continuar a viver na Europa e mesmo a competir aqui. Creio que não nos vão deixar.
euronews: Que opinião tem acerca da polémica em torno do tamanho dos tacos usados para putt?
Olazábal: Penso que há coisas que se devem deixar como estão. O golfe tem certas características. Em teoria, na sua origem as mãos eram a única parte do corpo que podia estar em contacto com o taco. Durante muitos anos existiu uma certa tolerância e penso que bem. O que não me parece lógico, por exemplo, é ver jovens de 13, 14, 15 anos praticamente a chutar com um putt longo.
euronews: Quem é o melhor golfista da história?
Olazábal: Penso que é preciso dividir por épocas, não? Creio que a era de Arnold Palmer e Jack Nicklaus foi o que foi… e penso que Tom Watson também teria uma palavra a dizer. Na era moderna, sem dúvida que Tiger Woods foi o número um e continua a sê-lo. Os tempos são diferentes, os campos são diferentes, os materiais são diferentes… não seria justo escolher um jogador em particular.
euronews: Se olharmos para o palmarés, Jack Nicklaus é o golfista com mais vitórias em Majors. Tiger Woods vai conseguir superá-lo?
Olazábal: Quando toda a gente dizia que o Tiger não voltaria a ser o mesmo, sempre me mantive fiel ao meu instinto. Quando joguei com ele, pude constatar que fisicamente é um grande atleta, um portento, mas a sua maior força está na cabeça, é mental. Isso nunca mudou e por isso sempre disse que vai voltar a ganhar Majors. Não sei se vai conseguir os quatro ou cinco que necessita para ultrapassar o Nicklaus mas estou convencido que vai chegar perto.
euronews: E quanto vamos ter de esperar para voltar a ver um espanhol ganhar um dos quatro grandes torneios?
Olazábal: Não é fácil. É verdade que vivemos anos muito bons, anos dourados. Temos atualmente no Sergio García um jogador com potencial suficiente e todas as características para o fazer. Penso que mais cedo ou mais tarde isso vai acontecer. Tem muitos anos pela frente e neste momento é a nossa melhor aposta.
euronews: Quando os resultados não aparecem e se tem uma certa dificuldade em manter o cartão do circuito europeu, a reforma surge como possibilidade?
Olazábal: Como em tudo na vida, tudo começa e acaba. Nesse sentido estou consciente de que estou mais próximo do meu final. Mas já tive fases duras na vida e que me tornaram mais forte. É com essa perspetiva que vejo as coisas. O único que posso fazer nesses momentos é trabalhar arduamente para continuar no topo, é esse o meu objetivo.
euronews: E depois do golfe? Já tem algum plano? Comentador na televisão, desenhar campos de golfe…
Olazábal: Há muitas coisas que se podem fazer. Obviamente que me sinto atraído pelo desafio de desenhar campos de golfe, é algo que gosto, mas há mais possibilidades. Existem jovens que começaram agora a praticar a modalidade, eu tenho experiência e conhecimentos que os poderiam ajudar. Nunca se sabe, podia criar uma escola. Há várias possibilidades, não apenas ser comentador. Penso que se podem fazer muitas coisas.