Renée Fleming brilha no São Silvestre de Dresden

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A estreia da quinta temporada do programa Musica arranca em Dresden, na Alemanha. Como habitual, abrimos o ano com um Concerto de São Silvestre, desta feita pela Staatskapelle Dresden, a orquestra germânica que caminha para o meio milénio de existência (foi fundada em 1548) e que no espetáculo de ano novo, na Ópera de Semper, sob a batuta do maestro Thielemann, de 54 anos, contou com a ilustre voz da soprano americana Renée Fleming, 55, ao lado do tenor alemão Klaus Florian Vogt, 43.

O espetáculo revela-se uma arrojada mistura de “West Side Story” com “My Fair Lady”, com operetas e musicais evocando das obras de George Gershwin, Kurt Weill ou Leonard Bernstein, reforçadas pela forte presença e voz de Renée Fleming.

Foi Renée a estrela mais brilhante nas duas noites de interpretação deste concerto especial de Ano Novo, em Dresden, onde o espírito de Berlim emulou o “show biz” da Broadway. Para ela, tratou-se de um regresso a um país onde confessa sentir-se, agora, como em casa. Mas nem sempre foi assim.

Tudo começou há cerca de 30 anos graças a uma bolsa de estudo Fulbright, que lhe permitiu estudar no estrangeiro. Escolheu a Alemanha. “Foi uma incrível experiência de aprendizagem”, recorda Renée Fleming à euronews: “Tive oportunidade de assimilar e absorver tanta coisa. E continuei. Dei por mim neste caminho, no qual passei os primeiros dez anos a interpretar Mozart – e, para mim, Mozart é um grande professor de canto. Depois mudei-me diretamente para a música de Richard Strauss.”

A entretanto vencedora de quatro prémios Grammy lembra os primeiros anos “sozinha” na Alemanha como uma experiência “desafiante”, sublinhando que “nem era uma mulher especialmente aventureira”. “De facto, quando era uma jovem e vinha no avião a caminho daqui, chorei o tempo todo. Um estranho sentado ao meu lado disse-me: ‘Querida, não acha que devia regressar para casa?’ Mas eu jamais desistiria”, diz agora.

Levou “seis meses” a sentir-se “confortável o suficiente com o idioma para deixar de estar isolada”. “Em termos musicais, porém, senti-me logo em casa”, destaca. E é assim que agora se sente, quando regressa, mas de uma forma mais completa, devido ao idioma que já aprendeu. “É claro que o meu alemão não é perfeito, mas sentir que me posso movimentar sem problemas e comunicar, é muito importante”, explica, destacando, “em segundo lugar”, na ordem das coisas que a faz sentir-se confortável na Alemanha, “a música”. “Está no coração do que faço, nomeadamente a de Richard Strauss, que é, em muito, parte desta cultura germânica”, aponta.

O próprio anfiteatro da Ópera de Semper, em Dresden, não é indiferente a Renée. “Quando penso nas estreias que aqui aconteceram, sinto-me tocada por tudo isto”, confessa, destacando, por fim, a personalidade alemã que aprendeu a apreciar. “Os alemães são muito mais diretos e honestos do que estava habituada. Se canto mal, os meus amigos e colegas vão pedir-me desculpa, mas dizer-me que lhes soou muito mal. Por outro lado, em Nova Iorque, quando era estudante, diziam-me ‘Oh, isso foi formidável’ mesmo quando não o tinha sido. Passei a apreciar esta honestidade. Sabia sempre onde estava e isso foi ótimo”, assume.

Renée Fleming não é apenas uma estrela de ópera. Ela é também uma artista que teve a sorte de conhecer generosos colegas no caminho para o estrelato. Um deles foi a também soprano americana Leontyne Price, ainda hoje uma amiga a quem recorre confessa recorrer.

“Leontyne Price convocou-me para ir a sua casa e disse-me: ‘Percebo em si que precisa de ajuda, que está em luta. Está sob tanta pressão agora, tanto stress, tanto daquilo a que chamamos ruído, e eu quero apenas ajuda-la a perceber que tudo o que tem de fazer é concentrar-se numa coisa: o seu canto, a sua voz’. Ajudou-me imenso. Eu, basicamente, sentei-me e tirei notas. Mantivemo-nos em contacto e a cada dois anos, eu pedia-lhe: ‘Senhora Price, posso ter uma nova sessão, se faz favor?’”, revela-nos Renée.

O espetáculo de Novo ano da Staatskapelle Dresden, com Renée Fleming, esteve em palco nas duas derradeiras noites de 2013. Em março voltam a juntar-se para um novo espetáculo nos Emirados Árabes Unidos. Renée Fleming pode ser escutada em Portugal, entretanto, a 9 de fevereiro, na Culturgest, em Lisboa, através da dupla transmissão (11h e 16h) em diferido da ópera Rusalka, de Dvorak, que estará em cena na Metropolitan Opera, de Nova Iorque entre 23 de janeiro e 15 de fevereiro.

No vídeo deste artigo pode ouvir excertos das seguintes peças:

- Robert Stolz, “Du sollst der Kaiser meiner Seele sein”, da opereta “Der Favorit” (1916), e “Zwei Herzen im Dreivierteltakt”, da opereta homónima (1933); – George Gershwin, “The Lorelei”, retirado do musical “Pardon my English” (1933); – Frederick Loewe, “I could Have Danced All Night”, retirado do musical “My Fair Lady” (1956); – Kurt Weill, “Foolish Heart”, retirado do musical “One Touch of Venus” (1943); – Irving Berlin, “Anything You Can Do”, retirado do musical “Annie Get Your Gun” (1946).

Para mais excertos da nossa entrevista (em inglês) com a soprano americana Renée Fleming, clique na seguinte ligação:
Opera off stage: a diva reveals her ‘extracurricular activities’

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