Paolo Ferri: "Depois da Rosetta, a ciência dos cometas será diferente"

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O despertar de Rosetta deixou a Agência Espacial Europeia em suspenso e em silêncio… Todos os olhos estiveram postos no ecrã à espera de um sinal da sonda espacial… Um sinal que gerou uma explosão de alegria. Estava acordada Rosetta, a sonda-espacial que esteve em hibernação mais de dois anos.

O engenho da ESA foi lançado há quase dez anos, para estudar, em profundidade, o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. A missão poderá ajudar a conhecer as origens do Sistema Solar e a clarificar o aparecimento da vida na Terra.

Em maio, Rosetta vai começar a aproximação ao cometa e em agosto vai mover-se na sua órbita. Em novembro, Rosetta deve lançar sobre o cometa o módulo de aterragem: Philae. Uma operação difícil, já que o movimento dos cometas é pouco previsível.

Vai recolher amostras, até 30 centímetros de profundidade, dos materiais da superfície do núcleo.

Depois, vai seguir o cometa até à fase de máxima atividade, quando se aproxima do Sol. O plano consiste em que o satélite monitorize as mudanças que ocorrem no corpo celeste através das informações enviadas pelo Philae da superfície.

O cometa aproxima-se da órbita do Sol a cada 6,6 anos, mas continua a ser um mistério.

A sonda espacial leva a bordo programas para onze experiências científicas.

Foram investidos mil milhões de euros, mais de 30% do orçamento anual da agência até agora, para colocar a Rosetta na rampa de lançamento para o seu destino.

A missão deve prolongar-se até dezembro do próximo ano.

Para nos ajudar a compreender a importância da missão Rosetta, Claudio Rosmino entrevistou Paolo Ferri, responsável pelas Operações de Missão da Agência Espacial Europeia.

Claudio Rosmino: Podemos dizer que esta missão inédita e com as ambições científicas que tem é comparável ao primeiro voo de Gagarin?

Paolo Ferri: Certamente que é comparável no sentido em que não há precedentes, mas é uma coisa diferente. Não temos um homem a bordo, mas é uma revolução no sentido que nunca se permaneceu num cometa. Houve imensas passagens e sobrevoos de cometas, mas o difícil é chegar e ficar. Também nunca ninguém tentou aterrar e, portanto, é uma viagem histórica nos voos espaciais.

CR: O despertar da Rosetta foi um sucesso, mas é apenas o início. Quais são as próximas etapas da missão que são particularmente difíceis?

PF: A próxima etapa crítica, muito crítica, é aquela que nós chamamos “manobra de encontro”. Atualmente, a sonda viaja a uma velocidade diferente da do cometa em cerca de 1 quilómetro por segundo. Não podemos continuar assim. Devemos viajar mais ou menos à mesma velocidade que o cometa para voar à volta dele. Essa manobra vai ter lugar em maio e vai durar vários dias. Devemos ter êxito. Se não funcionar, não aterraremos no cometa.

A fase que se segue à aterragem vai prolongar-se durante algumas semanas. Vamos reaprender a voar, porque nunca se voou em torno de um cometa. É um ambiente muito dinâmico. Não é como voar no espaço como o fazem todos os satélites, num ambiente tranquilo somente com a energia gravitacional dos planetas e do sol e o resto é vazio.

Aqui voamos num ambiente de gases, poeiras, com um campo gravitacional praticamente inexistente, comparável aquele da radiação da luz solar.

É preciso procurar um ponto de aterragem. Devemos cartografar a superfície e a aterragem em si será difícil. Foi uma coisa que planificámos, mas vamos a ver como se vai fazer.

CR: Muitos cientistas compararam este evento a uma viagem no tempo, até 4,5 mil milhões de anos atrás. O que esperam descobrir?

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PF: Com a Rosetta nós vamos ficar dois anos no cometa. Portanto, vamos seguir a evolução ou pelo menos uma grande parte dela, da vida desse cometa que demora seis anos a dar a volta ao sol.

Nós vamos chegar ao cometa num momento em que ele ainda vai estar pouco ativo. Vamos seguir essa atividade à medida que ele se aproximar do sol e que, por conseguinte, vai começar a emitir, cada vez mais, gases e poeiras, e depois com o Philae vamos aterrar no cometa. Isto quer dizer que depois da Rosetta, a ciência dos cometas será completamente diferente. E um passo de gigante.

CR: Professor Ferri, vários dos seus colegas da ESA descreveram o sinal de retorno da Rosetta como a chamada que um filho faz para casa, anos depois de ter partido. O que sentiu com esta missão?

PF: Estivemos em contacto quase permanente com a sonda durante muitos anos, antes e após o seu lançamento, mas depois deixámos de a ver durante dois anos e meio, pelo que foi um momento emotivo.
Além disso, simplesmente o facto de sabermos que não teríamos um sinal até esse momento preciso, como um filho com quem acordámos que nos ligasse dois anos depois, fez com que esses três quartos de hora – mesmo se estivessem dentro da margem de uma hora – fossem os mais longos da minha vida.

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