Merkel vacila no apoio a Juncker

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Jean-Claude Juncker continua a procurar o apoio unânime do Partido Popular Europeu, à sua candidatura à presidência da Comissão Europeia.

Um apoio que vai depender da vontade da chanceler alemã, Angela Merkel.

A chefe do Governo de Berlim acha que o Conselho Europeu tem uma palavra a dizer. E aí, tudo se pode alterar. É preciso cumprir o Tratado de Lisboa, sublinha a chanceler:

“Como membro do Partido Popular Europeu, apoiei Jean-Claude Juncker, como nosso candidato à Presidência da Comissão Europeia, e ainda não me esqueci disso. Mas eu tenho que respeitar o Tratado”.

Fora dos corredores do poder, Jean-Claude Juncker procura também somar apoios.

Nas ruas, há manifestações a favor do antigo Primeiro-Ministro do Luxembro e ex-presidente do Eurogrupo.

Mas existem diferentes interpretações da letra do Tratado de Lisboa.

Uns dizem que a escolha é da exclusiva responsabilidade do parlamento.

Outros defendem que ao parlamento cabe apenas ratificar a escolha do Conselho Europeu.

A jornalista da euronews Andrea Büring interrogou sobre esta questão Nikolaus Blome, um dos Editores-Executivos da revista alemã “Der Spiegel”.

Andrea Büring:
Será Juncker ou Schulz? Ou espera-nos uma surpresa?

Após as eleições europeias, supunha-se que a presidência da Comissão Europeia fosse assumida pelo candidato do partido mais votado. Aos eleitores, foi dito isto, precisamente. O Partido Popular Europeu foi o mais votado e esperava-se que Jean-Claude Juncker, antigo presidente do Eurogrupo, fosse o candidato apoiado pela chanceler alemã Angela Merkel.

Todavia, este poker está ainda no início. Começaram as negociações dos chefes de Estado e de Governo. O Parlamento Europeu apoia também Juncker. Quem é hoje obstáculo no caminho de Juncker?

Nikolaus Blome:
No caminho de Juncker está a segunda instituição da estrutura europeia. De um lado, está o Parlamento Europeu, do outro os chefes de estado e de Governo dos 28 Estados-membros, também eles legitimamente eleitos – e portanto com direito a discutir a questão. Tem de existir um entendimento entre ambas as instituições. E por alguma razão que desconhecemos, os chefes de Estado e de Governo querem ter mais tempo para discutir.

Andrea Büring:
Durante a campanha, os conservadores focaram-se na chanceler Angela Merkel. Juncker não teve destaque, enquanto o socialista Martin Schulz esteve bastante visível nos cartazes eleitorais. Porque razão está Merkel contra Juncker?

Nikolaus Blome:
Os dois conhecem-se bem, partilharam um longo caminho. Juncker tem estado em funções na Europa nos últimos 30 anos, durante a maior parte deste tempo como primeiro-ministro do Luxemburgo. Nenhum chefe de Estado ou de Governo governou tanto tempo quanto Angela Merkel. Conhecem-se muito bem,e já se enfrentaram por várias vezes. E desde o início a ideia de nomear um candidato da liderança não agradava à chanceler, por receio de que viesse a acontecer precisamente isto – que o destaque dos candidatos de primeira fila nas eleições viesse a limitar a escolha dos chefes de Estado e de Governo. Isto é algo que não agrada a Merkel.

Andrea Büring:
Qual é o peso de Angela Merkel em Bruxelas? É ela quem dirige, uma vez mais?

Nikolaus Blome:
Veremos. Creio que ela terá, hoje mais que nunca, de assumir comando na Europa, pois os outros chefes de Estado e de Governo, como François Hollande e David Cameron perderam muito terreno nos seus países, nestas eleições europeias. Outros partidos, especialemtne os eurocáticos, tomaram a dianteira, como aconteceu com o Frente Nacional em França, ou com o UKIP na Inglaterra, o que fragilizou as lideranças. Alterou-se o equilíbrio de forças e será ainda mais difícil encontrar um compromisso.

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Andrea Büring:
Se for escolhido outro candidato, não estarão a trair os eleitores? Não será uma prova de que as decisões são tomadas nos bastidores?

Nikolaus Blome:
É como um jogo de poker, uma luta de poder entre duas instituições democraticamente legítimas. No fundo, não é algo negativo. O mesmo acontece na Alemanha, entre o parlamento e o conselho federal (Bundestag e o Bundesrat). Mas neste caso as coisas podem complicar-se se a vontade dos eleitores for ignorada. Todos terão de refletir muito bem. E podemos apostar que, caso os chefes de Estado e de governo apontem um terceiro candidato e o enviarem ao Parlamento Europeu para ser eleito, este vai necessitar de uma maioria e o mais porovável é que se veja rejeitado.

Andrea Büring:
Quem será o próximo presidente da Comissão Europeia?

Nikolaus Blome:
Acho que apesar de tudo, acabará por ser Jean-Claude Juncker. Eles vão ter de encontrar um compromisso para equilibrar outros interesses no círculo dos chefes de Estado e de governo dos 28, em troca de alterações na distribuição de cargos como o do chefe adjunto da Comissão Europeia, que decide também da política externa, ou do Presidente do Conselho Europeu – neste caso, Herman van Rompuy será substituído. Terão de ser encontrados compromissos. Mas quanto a Juncker e à presidência da Comissão Europeia, não creio que exista alguma margem de negociação possível com o Parlamento Europeu.

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