Académico sírio repete: "eleições de Assad não têm significado algum"

Académico sírio repete: "eleições de Assad não têm significado algum"
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Imagem surrealista de Bachar al-Assad, descontraído e sorridente na assembleia de voto, esta manhã, acompanhado da mulher. O presidente de um país em guerra há mais de três anos, com mais de 150 mil mortos e quase três milhões de refugiados. Um presidente que organizou as alegadas “primeiras eleições livres” para legitimar a sua autoridade.
Além de Assad, candidatam-se Hassan al-Nouri e Maher al-Hajjar, um advogado, ex-ministro e presidente da Associação Industrial e o outro, deputado.
O escrutínio organizado pelo presidente está ganho à partida. Nas ruas de Damasco, entre hinos e explosões de bombas, a foto do favorito está por todo o lado.
As eleições estão a ser boicitadas pela oposição, que as qualifica de mascarada e denuncia o que se passa à comunidade internacional.
Várias regiões estão em guerra e as imagens definem bem o contraste entre a normalidade de fachada e a anormalidade no terreno.
Alleppo, está cortada em duas: a parte pró Assad, que foi às urnas, e a parte que ignorou a votação e continuou a lutar. Os insurgentes chamam-lhe mesmo a “eleição de sangue”.
Foram chamados às urnas 15 milhões de eleitores em nove mil assembleias eleitorais, mas apenas os que estão em zonas controladas pelo exército regular podem votar, cerca de 40% do território, sob controlo dos observadores iranianos, russos e norte-coreanos.
As últimas sete eleições presidenciais no país foram, na verdade, refrendos para aprovar Bashar ou o pai, Hafez al-Assad. Hafez nunca teve aprovação inferior a 99%, e Assad conquistou 97,6% há sete anos. Os mandatos duram precisamente sete anos.
Os rebeldes são isolados pelo regime e a falta de armas e demais privação logística fragilizam não apenas os combatentes mas uma grande parte da população. O exército regular conta com a preciosa ajuda do Hezbollah libanês, entre outros.
Em 2012, Assad fez votar uma nova constituição para dar abertura nas eleições a outros candidatos. Mas os opositores têm de obter o apoio de 35 deputados dos 250 do parlamento, no qual, 161 pertencem ao partido do presidente.
Até hoje, apenas a candidatura de Assad, o pai, e depois o filho, foi referendada pela população. É assim desde 1970. Quando Bashar, o oftalmologista que vivia em Londres foi chamado ao poder, decorria o ano 2000.
Só nestes últimos três anos morreram mais de 160 mil pessoas nos conflitos armados e há três milhões de síros a viver no exterior.
se refugiaram no exterior.
O secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, declarou a Aliança Atlântica não vai reconhecer os resultados.
Belaïd Mekious, euronews, explica melhor a situação com o convidado em duplex: – Connosco está o Doutor Burhan Ghalioun, pensador sírio, antigo presidente do Conselho Nacional Sírio e, atualmente, e membro da Coligação Nacional Síria.
A Síria organiza hoje a primeira eleição pluralista da sua história. Os resultados parecem já decididos e lavados para um estado de guerra. O que pensa a oposição síria destas eleições?
Burhan Ghalioun – Não podemos considerar aqui um ato eleitoral, que é mais uma peça de teatro cómico, no verdadeiro sentido da expressão. Todos sabem que Teerão está por trás destas eleições, ou seja, o regime dos Pasdaram (Guardiães da Revolução Islâmica), que pretendem utilizar Assad e o prolongamento do mandato como um meio de pressão nas negociações com o Ocidente, depois das conversações sobre a crise nuclear.
euronews – Apesar do apelo da oposição na síria e no estrangeiro para os eleitores boicotarem as eleições, houve grande participação dos sírios no estrangeiro. Como interpretar o facto, nomeadamente em Beirute?
Burhan Ghalioun – Lembram-se dos acontecimentos de Hama, onde o Assad Pai destruiu metade da cidade e matou cerca de 40 mil pessoas, num conflito que nenhum outro povo teve na história. Hoje, esses acontecimentos generalizaram-se no país inteiro. Na sequência do massacre de Assad em Hama, as pessoas sairam à rua para aclamar o apoio ao líder, mesmo aqueles que perderam os filhos e os pais, todos o fizeram sob ameaça. Todos os regimes totalitários são capazes de fazer o mesmo, por isso não me surpreendo por ver as pessoas sairem, tal como fizeram nos últimos anos. Atualmente, não podemos falar, em caso algum, da livre escolha dos sírios. Nestas circunstâncias, as eleições não têm significado algum.
euronews – O grupo dos Amigos da síria confirma, por um lado, que Assad perdeu toda a legitimidade e que a Coligação Nacional Síria é representante legítima do povo sírio. Por outro lado, alguns países autorizaram o voto no seu território. Como explica este paradoxo?
Burhan Ghalioun – Acredito que esta atitude demissionária do Ocidente, nomeadamente dos países árabes, é uma escolha ética, sem compromissos, face à chantagem e às ameaças de violência, aos massacres que o governo faz à 50 anos.
euronews – O presidente Barack Obama, no discurso da semana passada, fez novas promessas à oposição síria e sublinhou que a solução na Síria deve ser política. Concorda com ele?
Burhan Ghalioun – Desde o princípio, dizemos que só há uma solução, que é a política. E o movimento de revolução síria assumiu sempre ser um movimento pacífico, que defende a abertura do diálogo durante um período de transição, aceite pelos dois partidos, para preservar as instituições do Estado e um Estado ativo.

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