Uma semana depois da ofensiva jihadista no Iraque, que já permitiu aos islamitas a tomada de cidades como Mossul, Tikrit ou Kirkuk, e com os insurgentes a meia centena de quilómetros de Bagdade, a comunidade internacional preocupa-se, cada vez mais, com a estabilidade da região.
Tanto mais que o governo iraquiano dá provas de fraqueza, incapaz de fazer face ao avanço dos combatentes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante.
A euronews quis perceber melhor o que se passa na região e entrevistou Arash Aramesh, analista para o Médio Oriente, da universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
Euronews:
Quem, na região, beneficia com a divisão do Iraque?
Arash Aramesh:
No curto prazo, a influência do Irão ficaria muito reduzida no Médio Oriente. Se o Iraque se transformasse num país federativo, com uma parte na mão dos sunitas, outra que seria o Curdistão e o centro e sul fosse controlado pelos xiitas, essa influência seria reduzida em algumas partes da região. Mas, a longo prazo, poderia ser a causa da instabilidade e levar à criação de um Curdistão independente, o que pode ser perigoso para o Irão e para a Turquia. Por outro lado, um país sunita, independente, dentro das fronteiras entre a Síria e o Iraque, em terras que não estão sob o controlo de ninguém, poderia ser perigoso mesmo para aqueles Estados que apoiam grupos extremistas. Mesmo para os países do Golfo Pérsico, que estão a apoiar esses grupos.
Euronews:
Há vários relatos sobre o envio de efetivos da Guarda Revolucionária Iraniana para o Iraque. Mas as autoridades iranianas negaram isso. Porque é que o regime do Irão esconde apoiar o Estado iraquiano?
Arash Aramesh:
Mesmo os xiitas podem estar em desacordo com o envio de forças militares para solo do Iraque. Não se esqueça que o Irão e o Iraque estiveram em guerra oito anos e há um histórico de competição entre estas duas potências regionais. Além disso, o governo de Al-Maleki não enviou qualquer pedido. Se o Irão enviou duas unidades das forças do IRGC para o Iraque quer mantê-lo em silêncio e confidencial. Eles não querem que isso se vire contra eles próprios, não querem pôr-se nas mãos de extremistas sunitas. Uma das críticas que se ouve é que o governo de Nouri Al-Maleki é mais leal a Teerão que ao povo iraquiano.
Euronews:
O porta-voz do Pentágono, o contra-Almirante John Kirby, disse: “não há planos para conversações com o Irão sobre as atividades militares no Iraque”. Mas, por outro lado, o Secretário de Estado John Kerry disse: “estamos abertos a qualquer processo construtivo que possa reduzir a violência no Iraque”. Qual é a possibilidade de haver uma colaboração entre o Irão e os Estados Unidos? E poderá ser vista como uma ação militar?
Arash Aramesh:
A possibilidade de haver uma colaboração, confidencial, é elevada. Como sabe, eles têm um histórico de colaboração: em 2001 após o ataque ao Afeganistão e o Irão também ajudou os Estados Unidos em 2003. Mas depois de alguns desafios e mudanças políticas, no governo de Bush, o Irão ficou dececionado. As pessoas que lideram o Estado do Irão têm um histórico de desconfiança e hostilidade para com o Ocidente. Mas os interesses estratégicos, de curto e longo prazo, de ambos, na região, são convergentes. Estados Unidos e Irão estão interessados em ver um governo sunita moderado e um Estado estável no Iraque. É para isso que eles podem ter cooperar. É importantes saber que as lacunas entre Irão e EUA são muito profundas e, a colaboração entre ambos nesta questão, não será a causa da unidade militar ou unidade estratégica, mas eles podem trabalhar juntos em alguns períodos e alguns casos.