Mundial 2014: Portugal com vitória azeda nem aproveita brinde alemão

Mundial 2014: Portugal com vitória azeda nem aproveita brinde alemão
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De  Francisco Marques
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Portugal está eliminado do Mundial do Brasil. Na verdade não é uma grande surpresa, mas a esperança existia e a Alemanha – quem diria – até ajudou. Em Brasília, Portugal venceu o Gana, por 2-1, enquanto os alemães derrotaram, em Pernambuco, os Estados Unidos, por 1-0. Ficaram a faltar três golos à Equipa das Quinas para ultrapassar os americanos na classificação do grupo G. A Alemanha, claro, passou em primeiro.

O Gana também tinha hipóteses, mas, vítima de vários problemas internos nos últimos dias – nomeadamente a expulsão de duas das principais estrelas da equipa, Muntari e Boateng, e uma ameaça de falta de comparência dos jogadores por falta de pagamentos -, nunca mostrou grande determinação na busca do apuramento. Os africanos limitaram-se a dar luta, ou assim pareceu, aos comandados de Paulo Bento.

O selecionador português começou por proceder a duas alterações há muito aguardadas: por um lado, a titularidade de William Carvalho, por outro a saída de Raul Meireles – o jogador do Besiktas passou completamente ao lado do torneio. Com André Almeida lesionado, Miguel Veloso passou para a lateral esquerda e coube a Rúben Amorim acompanhar o “trinco” do Sporting e João Moutinho no meio campo. Na defesa, Pepe retomou o lugar ao lado de Bruno Alves e, na frente, Éder foi o titular face à lesão de Hugo Almeida. A correção do meio-campo, como agora se confirma, já veio tarde neste Mundial. Lá voltaremos.

Portugal até entrou bem no jogo, embora não tão forte como se poderia esperar. “Miolo” do campo melhor controlado, aos 6’, Cristiano Ronaldo num cruzamento remate levou a bola a beijar a trave da baliza de Fatawu Dauda. O Gana mostrava-se do outro lado apenas pelas individualidades e de quando em vez ia levando a bola até Beto, mas sem grande perigo.

Aos 18’, grande cruzamento de João Pereira e Ronaldo, com tudo para marcar, cabeceia à figura de Dauda. Começava aí a tarde de desperdício do melhor jogador do Mundo. O Gana respondeu de pronto, com Gyan a rodar sobre Pepe e a ter igualmente boa oportunidade, mas Beto a fazer defesa oportuna com os pés. Pouco depois, o mesmo Gyan cabeceia para as mãos do guarda-redes português. A equipa das quinas jogava sem consistência.

Até que, à meia hora, após bom lance de Moutinho a soltar Veloso na esquerda, um cruzamento do esquerdino aparentemente fácil para a defesa africana, foi mal abordado por John Boye. O defesa traiu o próprio guarda-redes e inaugurou o marcador. Mais um auto-golo neste mundial. Logo depois, Rúben Amorim tem boa oportunidade para dilatar, mas remata fraco e ao lado.

No outro campo onde Portugal também jogava, em Pernambuco, Alemanha e Estados Unidos continuavam a zero. E foi com Portugal e Gana ainda longe dos oitavos de final que ambas as partidas do grupo G chegaram ao intervalo.

O golo de Müller e o desperdício de CR7

Para a segunda parte, ambos os treinadores mantiveram a aposta nos mesmos “onzes”. O jogo recomeçou equilibrado, com um remate de Nani de um lado e um do inevitável Gyan do outro. E, claro, viria a ser o atual avançado do Al Ain, dos Emirados Árabes, a arrasar com as emoções dos adeptos portugueses. Kwadwo Asamoah bate João Pereira, na direita, evita Pepe e cruza de trivela. Ao segundo poste, Gyan cabeceia para o empate.

Um golo que surgia, curiosamente, escassos dois minutos depois de a Alemanha se ter colocado a ganhar no Arena Pernambuco, por intermédio de Müller, que igualou Neymar e Messi no topo da lista dos goleadores do Mundial, com 4 golos. Os alemães ajudavam Portugal, os “conquistadores” deitavam tudo a perder. Waris ainda desperdiça, de cabeça, a reviravolta no marcador.

Portugal voltava a estar obrigado a passar para a frente do marcador e recuperar ainda mais três golos aos “yankees” para aspirar aos oitavos-de-final. Talvez, por isso, Paulo Bento mexeu, finalmente, na equipa e reforçou o ataque. Primeiro João Pereira cedeu o lugar a Varela. Uns minutos depois, o apagado Éder trocou com Vieirinha. Ronaldo passava a ser a referência do ataque. Infelizmente, em dia não para o capitão. Pelo meio, um remate do ex-portista Christian Atsu e outro do ainda dragão Varela, do outro lado. Ambos por cima.

Appiah também refrescou os ganeses, a quem bastava agora um golo para passarem a ser segundos do grupo. Jordan Ayew entrou para o lugar de Waris, aos 71’, e pouco depois entra Acquah para o lugar de Rabiu. Estranhamente, o recém entrado Jordan entrou algo desnorteado e numa jogada dividida com William Carvalho, na qual o português estava a fazer falta, o ganês respondeu com uma cotovelada no português, nas barbas do árbitro: o africano viu um amarelo. Só um amarelo.

Valeu que logo a seguir chegou aquele que ficará como “o momento CR7” deste Mundial. Nani cruzou da esquerda, o defesa ganês Mensah cabeceia desnorteado para o ar, Dauda afasta mal a bola, colocando-a nos pés de Ronaldo, que, de pé esquerdo, assinou o que viria a ser o seu único golo no Mundial. Mais uma oferta da defesa africana. Appiah mete mais um médio em campo, Mubarak Wakaso, que na primeira intervenção dispara ligeiramente ao lado da baliza de Beto. Um aviso. A que Portugal respondeu como mais um desperdício de Ronaldo. O capitão combinou bem com Veloso, que assistiu atrasado, mas o avançado atirou de novo à figura do guarda-redes.

Varela também atirou para defesa de Dauda , aos 84’. Beto, com notórios problemas físicos, cedeu o lugar a Eduardo e foi para o banco em lágrimas. Os 90 minutos chegaram, entrámos nos descontos e Ronaldo continuou a desperdiçar. Duas excelentes ocasiões que normalmente não desperdiçaria, desta feita – quando Portugal mais necessitava – falhou-as. O melhor do Mundo fica, ainda assim, como o mais rematador da fase de grupos do torneio, com 23 remates, 14 deles à baliza – nove destes remates aconteceram diante do Gana. Atrás do português, no número de remates, surge o francês Benzema, com 20, dos quais, 15 à baliza, três golos e um ao poste. O terceiro foi o ganês Asamoah Gyan, 18 remates, incluindo dois golos. Em termos coletivos, Portugal foi a terceira mais rematadora da primeira fase, com 53, atrás de França (62) e Gana (59).

Portugal ganhou, mas foi, porventura, um dos mais azedos triunfos da Equipa das Quinas, tão fora de prazo surgiu. Portugal está fora do Mundial pela diferença de golos. Nem se pode desculpar com a Alemanha, que fez o que lhe competia e venceu os Estados Unidos. O resto… o resto esteve nas mãos de Paulo Bento, mas as notas no bloco nunca mostraram a “luz” ao treinador.

E o bacalhau?

O selecionador equivocou-se na escolha de uma parte dos 23 eleitos, teve azar com lesões – queremos acreditar que foi mero azar -, faltou-lhe alternativa à baixa de Coentrão e alguns dos elementos que elegeu (Rafa, sobretudo) nem os justificou face ao que se passou nos dois primeiros jogos. Apostou demasiado tarde em William Carvalho e os quatro golos sofridos a abrir diante da Alemanha – mais que a derrota, podemos afirmar agora – acabam por ser decisivos nas contas finais.

Portugal faz as malas de forma precoce e agora fica a dúvida: o que vai fazer a Federação às sobras do espólio alimentar levado para o Brasil? Relembramos que os portugueses levaram para o Mundial, entre outras coisas, 200 kg de bacalhau, 20 kg de chouriço, 15 kg de salpicão, 12 kg de alheiras, 2 pernas de presunto, 12 kg de marmelada de Odivelas, 12 queijos da ilha de São Jorge, 10 kg de orelha fumada e 80 kg de polvo congelado. É melhor pensar na comida, do que ficar a remoer a desastrada passagem de Portugal pelo Mundial. Daqui a quatro anos há novo Mundial. Na Rússia. Antes ainda há um Europeu e, tudo indica, com Paulo Bento como selecionador.

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Equipas

Portugal: Beto (Eduardo 89’), João Pereira (Silvestre Varela 61’), Pepe, Bruno Alves, Miguel Veloso, William Carvalho, João Moutinho, Rúben Amorim, Nani, Éder (Vieirinha 69’), Cristiano Ronaldo

Gana: Fatau Dauda, Kwadwo Asamoah, John Boye, Harrison Afful, Jonathan Mensah, Andre Ayew (Mubarak Wakaso 82’), Christian Atsu, Mohammed Rabiu (Afriyie Acquah 76’), Emmanuel Agyemang-Badu, Majeed Waris (Jordan Ayew 71’), Asamoah Gyan

Reações

Paulo Bento, selecionador de Portugal: “O balanço é negativo. Não conseguimos alcançar o primeiro objetivo. Pelo que foram estes três jogos, tivemos o que merecemos. Quem passou, mereceu passar. Neste jogo, na primeira parte, fomos superiores ao Gana. Na segunda, criámos oportunidades suficientes para conseguir mais golos. Agora temos de analisar o que correu mal e felicitar a Alemanha e os Estados Unidos. Estou triste e dececionado, mas não foi por falta de vontade e empenho. Cometemos erros e assumo-os por inteiro. Demissão? Passadas 24 horas, só se tivesse ensandecido é que teria mudado de ideias.”

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Nani, jogador de Portugal: “Sabíamos que ia ser difícil, mas entrámos com muita motivação para ganhar o jogo. Sabíamos que tínhamos de marcar muitos golos e isso mexeu um bocado com a equipa. Se o selecionador disse que não ia sair é porque não vai sair. Tem feito um bom trabalho na seleção. Agora é continuar a trabalhar e preparar as próximas competições.”

Cristiano Ronaldo, capitão da seleção: “SAímos de cabeça erguida. Tentámos fazer o melhor, mas o futebol é assim. Tivemos muitas oportunidades, mas não as soubemos aproveitar. Era uma tarefa complicada, mas o que fica no final é que era possível.”

Gyan, jogador do Gana: “Tenho de fazer o meu trabalho como capitão. Passámos por momentos difíceis, tivemos várias reuniões, mas isso não é desculpa para a derrota de hoje. Temos de continuar fortes e continuar em frente.”

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