Como chegou o vírus Ébola a Madrid

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O primeiro repatriamento de um europeu infetado pelo vírus do Ébola foi o do missionário espanhol, Miguel Pajares, de 75 anos, a 7 de agosto, da Libéria para os arredores de Madrid. Um impressionante dispositivo de segurança para o transporte, chegada à base militar e transladação do corpo inclui a evacuação de todo o Hospital Carlos III.
No dia 22 de setembro, foi a vez de Manuel García Viejo, 69 anos, também missionário e diretor de um hospital na Serra Leoa ficar gravemente doente e falecer três dias depois. Os dois missionários foram tratados por 30 profissionais de saúde., todos voluntários.
Na terça-feira, a ministra espanhola da Saúde, Ana Mato, deu uma notícia chocante em conferência de imprensa:
“Hoje, foi identificado mais um caso secundário de contágio do vírus Ébola de uma pessoa do nosso país. Estamos a trabalhar de modo coordenado para dar a maior atenção à paciente e garantir a segurança de todos os cidadãos.”
O caso referido é o de uma auxiliar de saúde com 40 anos de idade, do grupo de 30 voluntários que tratou dos dois missionários mortos. No dia 30 de setembro ela comunicou sentir-se mal e com 38,6° de febre, mas não foi hospitalizada por não ter “sintomas clínicos suspeitos”, segundo afirmou um responsável dos serviços de saúde da região de Madrid. A mulher foi hospitalizada apenas na terça-feira seguinte, quando a febre se agravou.
Resta saber como sofreu o contágio, mas depreende-se que terá sido através do paciente Garcia Viejo, admite a diretora-geral de saúde, Mercedes Vinuesa:
“Precisamos perceber o mecanismo de infeção desta profissional, que sabemos ter acedido ao quarto em duas ocasiões: uma antes da morte, para mudar as fraldas do paciente, e outra, quando ele faleceu, para ir recolher material, mas protegida com o equipamento disponível.
Atualmente, muitos espanhois se questionam sobre a necessidade de repatriamentio dos missionários:
“Penso que fizeram mal em trazê-los para Espanha pois, apesar de serem espanhois, já viviam lá há 20 ou 30 anos, o melhor era terem-nos deixado onde estavam.
A comunidade científica também é crítica, como sublinha o convidado de Beatriz Beiras:

euronews – Em Madrid, Marciano Sánchez Bayle, pediatra, nefrologista e porta-voz da Federação de Associações de Defesa da Saúde Pública, vai responder a uma pergunta que se impõe, face aos factos: – Foi um erro repatriar os missionários?
Marciano Sánchez Bayle – Eu considero que sim, porque se trouxe para Espanha uma doença que não existia e além disso se prestou assistência num centro que não reunia, como se viu, as condições de segurança necessárias.
euronews – O contágio de um profissional de saúde com o vírus do Ébola,num hospital da categoria do Carlos III surpreende, não apenas na rua mas também na comunidade científica. Como classifica o facto?
MSB – Não surpreendeu tanto assim, porque o hospital Carlos III é o que o Conselho Sanitário da Comunidade de Madrid tentou desmantelar, com o apoio do ministério de Saúde, e já não era nada do que foi em tempos.
euronews – Em que consistiu esse desmantelamento?
MSM – Todos as unidades de doenças infecto-contagiosas foram encerradas e os profissionais foram deslocados para outros postos de trabalho. O laboratório também foi encerrado, já não existe nesse centro, assim como a unidade de cuidados intensivos. Ou seja, diminuiu-se notavelmente a capacidade para atender doentes com estas características.
euronews – Membros do sindicato de funcionários CSI/F disseram à euronews que, desde maio, o hospital Carlos III está a ser desmantelado mas nem sempre se usou a roupa de proteção 4, obrigatória para o Ébola. Tomou conhecimento destas denúncias?
MSB – Houve muitas denúncias no sentido de que havia pouca informação e formação dos profissionais de saúde que acolhiam estes doentes e que os meios de proteção eram insuficientes e não tinham a qualidade requerida.
euronews – – Há muitas perguntas sobre o protocolo que se seguiu com a auxiliar clínica que teve os primeiros sintomas. Não se esperou demais para a isolar?
MSB – Claro que a deviam ter isolado no momento em que teve os sintomas e tê-la deixado circular por Madrid criou riscos suplementares importantes.
euronews – Muitas pessoas não sabem como se contagia, exatamente, o vírus do Ébola. Pode fazer um breve resumo?
MSB – É um vírus que se contagia exclusivamente quando se entra em contacto com os fluidos corporais dos doentes, ou seja, a saliva, o suor, o sangue, a urina o sémen. Não há contacto por via aérea.
euronews – Como está a decorrer a gestão da crise pelo ministério da Saúde?
MSB – Considero muito grave o que está a suceder e os responsáveis deviam demitir-se imediatamente. Há que dar a responsabilidade de garantir uma solução a alguém capaz e a executivos suficientemente qualificados, o que não é o caso.
Marciano Sánchez Bayle, porta-voz da Federação de Associações de Defesa da Saúde Pública, muito obrigada.

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