Como Moscovo analisa a Queda do Muro

Como Moscovo analisa a Queda do Muro
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De  Andrei Belkevich
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“- Senhor Gorbachov, abra esta porta, destrua este muro.”
Com estas palavras o Ppresidente norte-americano Ronald Reagan iniciou o seu mais famoso discurso. Não em Washington, mas em Berlim.

“… Mr. Gorbachev, tear down this wall ….”

Pavel Pavel Palazhchenko era o tradutor oficial das conversações entre Reagan e o presidente soviético. Garante que nenhum dos dois recordava essas frases.

Pavel Palazhchenko, interprete de Mikhail Gorbachev – Foi uma intervenção pública brilhante. Mas Moscovo encarou-a como ação teatral. Quando se perguntava a Gorbachov, ele respondia que todos sabiam que a primeira profissão do presidente Reagan foi a de ator… era óbvio que Gorbachov não ia deitar o muro abaixo. Quando o muro caiu foi por decisão e vontade dos alemães.

No gabinete do antigo líder da União Soviética, um fragmento do Muro de Berlim ocupa um lugar de destaque.

Mas há um quarto de século, nem Gorbachev nem o chanceler alemão Helmut Kohl podiam imaginar que a unificação ia ser tão rápida. Margaret Thatcher e François Mitterrand não sabiam ao certo o que se ia passar.

Pavel Palazhchenko – A primeira ministra britânica, Margareth Tatcher, estava muito preocupada. Posso afirmá-lo com segurança . Vi-a nesse estado durante meses, anos. Posso mesmo dizer que estava muito preocupada com “as revoluções de veludo” na Europa Central. Era um paradoxo porque, eram revoluções capitalistas e, se alguém apoiava o capitalismo não regulamentado, era Thatcher. Mas ela também era uma pessoa que preferia a estabilidade.
Mitterrand estava numa posição similar. Apoiou-nos ativamente, impedindo a criação de novas infraestruturas militares na Alemanha de Leste, para prevenir o carregamento de armas nucleares e destacamento de tropas suplementares na Alemanha. Ele contribuiu para reduzir a presença militar.
Em 1989, Igor Maksimychev era ministro conselheiro da embaixada da URSS na Alemanha. Lembra que a queda do Muro não foi encarada em Berlim como uma tragédia.

Igor Maksimychev – Gorbatchev estava feliz. Feliz porque o problema da Cortina de Ferro foi eliminado, deixara de existir. E, melhor, tinha sido resolvido pelos próprios alemães. Nós não participámos e, portanto, não éramos responsáveis pelas consequências.

Hoje, a análise dos acontecimentos da época, no Kremlin, é diferente. Há quem considera que Gorbachev devia ter sido mais duro e ter exigido, em troca da reunificação alemã, a garantia da proteção dos interesses de Moscovo na Europa.

Igor Maksimychev – Fizeram-nos promessas, mas nada ficou escrito. Não se elaboraram documentos oficiais. Depois concluiu-se que ninguém nos devia nada. Afinal a NATO alargou para o Leste, sim.

Pavel Palazhchenko – Nesse tempo, não podiam ser dadas garantias quanto à Europa de Leste, porque os países eram membros do Pacto de Varsóvia. Mesmo depois da extinção do Pacto, a questão da adesão destes países à NATO nunca foi sugerida.

A história do grande xadrez geopolítico foi conservada, em parte, pelo Museu do Exército soviético em Moscovo.

Andrei Rakhmanin – Estes mísseis estavam na Alemanha antes da retirada das nossas tropas. Alguns ainda estão no exército, atualmente.

Andreï e Alexander estavam destacados no grupo ocidental das forças soviéticas. No dia 9 de novembro, dia da “abertura” do Muro e da fronteira interior alemã, Andrei estava de serviço no checkpoint. Em frente da porta da sua undade, um grupo de alemães festejava, bebia e gritava.

Andrei Rachmanin – Saí e disse-lhes: compreendo que é um grande acontecimento mas este não é o local certo para beber e festejar. Eles responderam: “um grande acontecimento, sim, uma terrível tragédia. Aqueles idiotas decidiram unir-nos aos ocidentais. Venha beber connosco, oficial russo”.

Os 11 meses que separaram a Queda do Muro da reunificação alemã foram difíceis para os soldados soviéticos. Estavam habituados a ser tratados como aliados e passaram ser tratados como ocupantes.

Alexander Balashov – As crianças de 10 anos brincavam à guerra. Tinham bastões para usar como armas. Quando a nossa coluna militar passava, faziam de conta disparar contra nós. Não era agradável.

Nas lojas de lembranças da Praça Vermelha, que servem de barómetro da política nacional, encontram-se facilmente matriochkas com as imagens dos dirigentes russos mais “duros”: Lenine, Estaline e Putin.
Uma boneca russa com a imagem de Mikhaïl Gorbatchev – um dos atores fundamentais da reunificação alemã e grande amigo do Ocidente, é mais difícil encontrar.

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