Vai a Europa seguir os passos do Japão na flexibilização quantitativa?

Vai a Europa seguir os passos do Japão na flexibilização quantitativa?
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A chamada flexibilização quantitativa é um recurso utilizado por alguns dos bancos centrais mais poderosos do mundo. O Japão provocou uma onda de choque no mundo financeiro ao anunciar o alargamento dos estímulos monetários através da injeção massiva de liquidez na sua economia. O BCE também estará a ponderar um cenário idêntico, até porque pretende contornar a possibilidade de deflação na zona euro. Trata-se de uma medida que comporta o risco de uma guerra cambial. Mas será que pode trazer benefícios para o Médio Oriente?

Uma flexibilização quantitativa é um estímulo monetário radical implementado no seio de uma economia onde o crescimento é muito reduzido ou mesmo nulo. O banco central do Japão decidiu reforçar drasticamente a compra de títulos do Tesouro, aumentando em um terço o dinheiro injetado na Bolsa de Tóquio. O anúncio fez disparar o valor das ações na capital nipónica. Mas vários economistas alertaram para os riscos de uma guerra entre moedas nacionais, sobretudo na Ásia.

Este cenário pode incluir políticas de desvalorização monetária, nas quais os preços dos produtos a exportar são reduzidos de forma a torná-los mais competitivos comercialmente. Sendo o Japão a terceira maior economia mundial, com indústrias poderosas nos setores automóvel e eletrónico, o impacto seria global.

Cabe agora também à zona euro decidir implementar ou não um plano de flexibilização quantitativa, ou QE – “quantitative easing” -, para fazer face à ameaça de deflação. O presidente do BCE, Mario Draghi, afirmou recentemente que estão a ser preparadas medidas excecionais que podem ser aplicadas caso seja necessário. Tudo isto acontece depois de a Reserva Federal dos Estados Unidos anunciar o fim da sua própria flexibilização quantitativa, após a consolidação da economia americana.

Como sempre, a jornalista da euronews Daleen Hassan entrevistou Nour Eldeen Al-Hammoury, analista da ADS Securities, para desenvolver esta questão.

euronews: A experiência americana parece indicar que o processo de flexibilização quantitativa funciona realmente. É mesmo assim?

Nour Eldeen Al-hammoury: É claro que não é assim tão simples. A chamada política do dinheiro barato produziu resultados positivos em alguns setores, mas ao mesmo tempo alimentou as especulações de que as coisas estão piores agora do que dantes. O programa do QE impulsionou o valor das ações e beneficiou os mercados. No entanto, não ajudou a economia real. Tal como vimos no Japão, por agora o dinheiro continua a entrar. A curto prazo, o impacto é positivo. Mas não a longo prazo, porque os bancos centrais apresentam uma folha de balanços cada vez maior, a atingir níveis recorde mesmo. E é impossível revertê-las sem prejudicar o mercado global e os mercados de ações.

euronews: Se houver uma guerra cambial, e o iéne enfraquecer ainda mais, quais serão as consequências sobre as economias mundiais e os mercados de ações, sobretudo no Médio Oriente?

NAH: Primeiro, a dimensão global: o QE lançado pelo Banco do Japão impulsionou títulos no mundo inteiro. Escassos dias depois do anúncio, o índice Nikkei 225 aumentou mais de 10%. Um cenário no qual todos os bancos centrais tentam desvalorizar as suas moedas, é positivo pelo menos para o Médio Oriente. Vimos os impactos positivos que a política do dinheiro barato do Banco do Japão gerou em todo o mundo, mesmo no Médio Oriente, apesar de o impacto sobre os mercados bolsistas desta região ser limitado. No entanto, os importadores vão beneficiar do enfraquecimento do iéne, porque podem trazer cada vez mais produtos do Japão por preços mais baratos.

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