Vincent Lemire: "Jerusalém é o ponto de confronto de dois projetos nacionais"

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De  Euronews
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Apelando a mais tolerância, responsáveis religiosos cristãos, judeus e muçulmanos reuniram-se à entrada da sinagoga de Jerusalém ocidental onde, na terça-feira, dois palestinianos atacaram e mataram várias pessoas no interior.

“Viemos aqui para expressar a nossa posição contra este ato criminoso, que envolveu o assalto a uma casa de Deus e a crentes desarmados”, disse o Sheikh Samir Assi, imã da mesquita Al-Jazzar em Acre:

Entretanto, as forças israelitas demoliram a casa do palestiniano que, em outubro, numa estação de comboios de Jerusalém atropelou várias pessoas, matando duas e ferindo cinco.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou que o seu Governo tomará medidas punitivas para impedir novos ataques contra os israelitas, entre as quais a destruição das casas dos seus autores e anunciou a construção de mais colonatos nas zonas ocupadas.

“Há trabalhadores palestinianos em Israel. Legal e ilegalmente, o que é aproveitado para introduzir terroristas do Hamas e terroristas infelizmente instigados pelo Presidente da Autoridade Palestiniana. Faremos tudo o que podermos para nos prevenirmos contra esse perigo”, disse recentemente Benjamin Netanyahu.

O ataque à sinagoga foi o mais mortífero desde 2008, o que levou à implementação do reforço das medidas de segurança em Jerusalém ocidental.

Vincent Lemire, historiador especializado em Jerusalém, investigador e diretor do projeto “Open Jerusalém”, é nosso convidado.

Raphaëlle Tavernier, euronews – Como está em Jerusalém pode dizer-nos que ambiente se vive na Cidade Santa?

Vincent Lemire – Durante o dia a situação parece normal, mas a partir da tarde as ruas ficam completamente vazias. À noite, as pessoas evitam sair e a ir para casa tarde. Por outro lado, há diferentes Jerusalém – oeste e leste, e os diferentes bairros de Jerusalém onde há confrontos, às vezes, muito violentos, todas as noites. Varia de bairro para bairro.

euronews – Há risco de piorar?’
Vincent Lemire – De facto, há novos modos operacionais, incontroláveis para os serviços de segurança, como os ataques com armas brancas. Dá ideia de um movimento mais espontâneo, menos organizado, menos estruturado mas, de um certo modo, muito mais inquietante para os serviços de segurança israelitas.

euronews – A construção de mais colonatos, em Jerusalém, é o único fator que explica o aumento da violência?

Vincent Lemire – A continuação e a aceleração da colonização israelita na Cisjordânia e em Jerusalém é o fator determinante de longa duração, mas não acredito que explique a explosão das violências atuais. O fator que desencadeou, nestes últimos meses, foi a repetição das visitas dos extremistas judeus religiosos, à esplanada das mesquitas, com provocações voluntárias da parte deles.
Depois tem havido substituições no governo do Likud: o deputado Moshe Feglin, que é responsável pela ação na esplanada das mesquitas e, no governo, Naftali Bennet, que apoia estas ações.

euronews – A Suécia reconheceu o Estado Palestiniano no fim de outubro, os deputados espanhois apelaram no mesmo sentido, como o fizeram, simbolicamente, os deputados britânicos. Como é que Israel interpreta o que se passa?

Vincent Lemire – Há um discurso ofiial, com uma interpretação mais íntima. O discurso oficial defende que não há nenhum incidente, não tem qualuqe importância, é simbólico. Mas quando aprofundamos, percebemos que todos os israelitas sabem que o Estado de Israel nasceu de um voto da Assembleia Geral das Nações Unidas, em novembro de 1947 e todos sabem que a nova estratégia de Mahmmoud Abbas e da direção palestiniana é procurar o reconhecimento internacional, o que não é nada simbólico e terá implicações políticas em termos de relações internacionais. Consequências extremamente fortes a meio e longo prazo.

euronews – Diz, no seu livro “Jerusalém 1900”, que, há não muito tempo, Jerusalém era um modelo de coabitação entre as comunidades. Esse tempo passou de vez?

Vincent Lemire :- Sim, na verdade esse tempo passou, no momento em que estamos, o que não quer dizer
que não voltará. Depois da época bíblica, Jerusalém foi sempre uma espécie de joia de uma coroa imperial e nesse contexto imperial, supranacional, podia viver-se em conjunto. A partir da primeira guerra mundial, Jerusalém entrou num contexto completamente novo. Tornou-se no ponto de confronto de dois projetos nacionais concorrentes. O projeto sionista de um lado, israelita, e o projeto árabe palestiniano. Neste contexto, as duas cidadanias concorrentes e que se confrontam, impedem os cidadãos de Jerusalém, de viver juntos em harmonia.

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