É no Mar Negro que pode estar o futuro energético da Europa

É no Mar Negro que pode estar o futuro energético da Europa
Direitos de autor 
De  Euronews
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button

A sede da OMV Petrom, o maior produtor de petróleo e gás da Europa de Leste, situa-se em Bucareste, a capital romena. À entrada, somos recebidos por

A sede da OMV Petrom, o maior produtor de petróleo e gás da Europa de Leste, situa-se em Bucareste, a capital romena. À entrada, somos recebidos por uma exposição que evoca as últimas descobertas no Mar Negro. Entre perfuradoras e explorações em miniatura, o que aqui se ilustra é a possibilidade da mudança completa do mapa energético da Europa.

Recentemente esta empresa descobriu um imenso depósito de gás natural e a maior jazida de petróleo que a Roménia encontrou na última década. “Acabámos de fazer uma grande descoberta. Tenho aqui uma amostra de petróleo do poço Marina 1. Estamos muito confiantes sobre o potencial do Mar Negro para a Europa. A esperança que temos é que a Roménia se torne independente no que respeita às importações de gás. Se os achados e as quantidades forem realmente significativos, então poderemos responder a algumas das necessidades da Europa”, declara Mariana Gheorghe, a diretora executiva.

Para podermos visitar as plataformas no Mar Negro temos de efetuar um treino de preparação, quer pelo rigor das condições atmosféricas, quer pela instabilidade naquela região. Também a Ucrânia depositava grandes expetativas na descoberta de novas reservas. Mas a anexação da Crimeia alterou o cenário, com a Rússia a assumir o controlo de uma grande fatia da plataforma continental.

Durante vários dias, as plataformas de exploração estiveram inacessíveis devido ao intenso nevoeiro. À medida que o inverno se aproxima, os ventos podem ultrapassar os 160 quilómetros por hora. A Roménia produz a maior parte do gás que consome – cerca de 20% provém da Rússia. Mas as descobertas podem trazer a tão desejada autonomia. Gabriel Selischi, do Conselho Executivo da OMV Petrom, garante estar há dez anos “a tentar trazer a Roménia de volta ao mapa petrolífero. As novas tecnologias tornaram o futuro mais promissor. Esta parte do Mar Negro pode passar a exportar hidrocarbonetos para a Europa.”

A queda dos preços do petróleo pode adiar o projeto de novas explorações. Os 120 homens que trabalham aqui fazem turnos de 12 horas durante três semanas, por vezes no meio de ondas que podem atingir os dez metros.

Regressamos a Bucareste para falar com Silviu Negut, um especialista em geopolítica que aposta na Roménia como um centro nevrálgico de distribuição de energia na União Europeia. Uma ideia que parece não agradar a Moscovo. “Há uma atitude agressiva por parte da Rússia, no sentido de tentar controlar toda a energia na região do Mar Negro. Eu acho que a União Europeia deve reagir como um bloco unido. É essa a solução, não há outra alternativa”, salienta Negut.

Putin cancelou o projeto South Stream, um gasoduto que atravessava o Mar Negro rumo ao sul da Europa. A União Europeia quer proteger os fornecimentos face às tensões políticas e propõe um corredor energético alternativo mais a sul, juntando vários operadores nacionais. Pretende-se ainda reforçar a capacidade de transporte de gás liquefeito entre a Geórgia e a Roménia.

Mas a Comissão Europeia avisa Bucareste de que tem de modernizar e terminar urgentemente a ligação das condutas à Bulgária, Hungria e Moldávia. O sistema deveria permitir a circulação de gás nos dois sentidos, o chamado fluxo inverso, de forma a que os países possam importar excedentes entre si e garantir o abastecimento, caso a Rússia decida fechar a torneira. Gheorghe Dutu, presidente da Agência dos Recursos Minerais romena, explica que “numa situação de emergência, há pequenas quantidades de gás natural que podem ser transportadas para os países vizinhos. Mas é muito pouco. O fluxo inverso e a rede de conexões ainda não estão preparados. Temos de renovar todo o sistema.”

A Roménia foi um dos primeiros países europeus a desenvolver a exploração petrolífera em larga escala. As perfurações começaram em 1857. 90% dos poços de petróleo romenos foram sobreutilizados. A produção diminui anualmente 10%. Estima-se que as reservas existentes tenham uma duração ainda de dez anos. As novas tecnologias, como a injeção de vapor, têm permitido alargar essa janela temporal.

Outra forma de alcançar maior autonomia energética é, justamente, através da diminuição do consumo de energia. A Roménia assumiu essa missão de forma particularmente ativa. Em Bucareste, há vários prédios antigos, da era Ceausescu, que são alvo de trabalhos de isolamento térmico. Uma operação financiada, em grande medida, pela União Europeia. Robert Negoita, responsável por uma das juntas da cidade, aponta que “o consumo de energia vai cair para metade. Depois há também o lado visual – a cidade muda. Temos ainda o aspeto da redução das emissões de CO2. Estou muito orgulhoso de tudo isto.”

Outra meta definida tem a ver com as energias renováveis, um setor que na Roménia regista uma das taxas de crescimento mais elevadas da Europa.

OMV Petrom CEO Gheorghe: ‘Black Sea is back on oil & gas map’

Para ouvir a entrevista integral (em inglês) a Mariana Gheorghe, diretora executiva da OMV Petrom, pode clicar nesta ligação

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

França depois dos atentados de 2015

A questão central das eleições alemãs é a transição energética

Certificação do queijo halloumi suscita controvérsia entre UE, cipriotas gregos e turcos