E se a Europa fosse alvo de um ataque de larga escala?

E se a Europa fosse alvo de um ataque de larga escala?
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E se o impensável acontecesse? E se uma grande cidade europeia sofresse um ataque químico ou fosse alvo de uma bomba nuclear? Estamos preparados para

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E se o impensável acontecesse? E se uma grande cidade europeia sofresse um ataque químico ou fosse alvo de uma bomba nuclear? Estamos preparados para enfrentar um pesadelo?

De ataques terroristas de grandes proporções a catástrofes naturais – a História já nos mostrou repetidamente o quão difícil é antecipar situações extremas. A questão é: o que fazer se acontecer o pior? Encontrar uma resposta é uma prioridade para governos e para a União Europeia, que avaliam formas de limitar o impacto potencial destes cenários.

O ataque com gás sarin no metro de Tóquio, em 1995, por exemplo, continua a ser o episódio mais dramático com armas químicas em grandes cidades. Treze pessoas morreram; a megalópole cedeu ao pânico. Começamos por falar com Jamie Shea, especialista da NATO em questões de segurança.

Paul Hackett, euronews: Será só uma questão de tempo até assistirmos a algo de semelhante numa grande cidade europeia, seja uma bomba suja ou um ataque químico?

Jamie Shea: Não acho que seja inevitável, claro que não. Mas sabemos, através de informações que temos recolhido sobre organizações terroristas como a al-Qaeda ou o Estado Islâmico, na Síria e no Iraque, que há um interesse em adquirir armas químicas, biológicas e mesmo nucleares. No entanto, planeá-lo não significa que terão a capacidade de o fazer. Há muita exposição mediática no que toca ao terrorismo. Vimos recentemente no sul de Londres um ataque à faca que matou um soldado. Os terroristas não têm de utilizar grandes meios para gerar a publicidade que procuram.

euronews: Mas há fortes indícios do uso de armas químicas na Síria. Não será ingénuo pensar que não pode acontecer na Europa?

Jamie Shea: Não, não é nada ingénuo. Aliás, é por essa razão que os serviços de informação têm aumentado consideravelmente o número de funcionários, os recursos, a cooperação internacional, precisamente para rastrear esse tipo de situações. Mas tem razão: os terroristas têm mostrado muita habilidade na forma como passam de um tipo de ataque a outro. No entanto, desde o 11 de setembro que a cooperação internacional se tornou mais eficaz no bloqueio de conspirações.

euronews: Luc Rombout é especialista em gestão de crises. Está a Europa preparada para enfrentar um ataque de grande escala como o 11 de setembro ou uma catástrofe como Fukushima?

Luc Rombout: Se a Europa está preparada…? Acho que nenhum país, nenhuma comunidade pode estar preparada, se tivermos em conta tudo o que pode acontecer quando falamos de riscos, de ameaças, de incidentes. É impossível estar preparado para tudo. A questão reside antes em saber onde está o equilíbrio entre o que um Estado ou uma comunidade podem fazer, em termos de probabilidades e capacidades, perante aquilo que é plausível que aconteça.

euronews: Existe algum consenso entre os países sobre os riscos potenciais?

Luc Rombout: Creio que não. Se olharmos para a França, o Reino Unido, a Alemanha, a Dinamarca, e para os dez maiores riscos assinalados em cada um destes países, assim como a forma de os gerir, verificamos que há grandes discrepâncias, pontos de vista muito diferentes.

euronews: Helena Lindberg é diretora geral do gabinete sueco de emergência. Acabamos de ouvir que nem sempre os Estados-membros estão preparados: está a Suécia preparada para qualquer eventualidade?

Helena Lindberg: Nós estamos empenhados nisso e investimos muito na prevenção, na disponibilização de meios e mecanismos para lidar com um acontecimento de larga escala como um ataque, seja de que natureza for.

euronews: Se houver um ataque que atinja mais do que um país, quem é que dirige as operações?

Helena Lindberg: É importante salientar que não há uma pessoa ou uma organização definidas para assumir o controlo. O que é necessário fazer nesses casos é coordenar e cooperar. Existem mecanismos destinados a fornecer assistência e a recebê-la de outros países, nomeadamente através da proteção civil. Se atingir vários Estados-membros, é claro que a coordenação será mais complexa do que num só país.

euronews: No caso de uma resposta concertada a nível internacional, não serão as dificuldades ainda maiores?

Luc Rombout: De um ponto de vista operacional, há um grande desafio que é: quando um incidente ocorre, o tempo de resposta é praticamente nulo. Ou seja, temos de responder imediatamente. As coisas estão a avançar. Há simulações promovidas pela Comissão Europeia e pela União Europeia. Mas há ainda grandes necessidades a colmatar no que diz respeito à hora que se segue ao incidente, à hora crítica, ao dia crítico. Mesmo que tenha havido aperfeiçoamentos, como é que podemos responder em larga escala se a reação internacional é demasiado tardia?

euronews: Qual pode ser o papel da NATO nisto?

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Jamie Shea: Nós intervimos quando um país considera que necessita de ajuda internacional. A NATO pode ser solicitada de várias formas. Existe o Centro Euro-Atlântico de Coordenação de Respostas a Catástrofes, semelhante ao organismo da União Europeia, que pode processar os pedidos de ajuda. Imaginemos que há um ciberataque catastrófico que um país não consegue resolver. Este mecanismo permite colocar rapidamente em marcha cópias de segurança, servidores alternativos, entre outros.

euronews: Se for um grande ataque, a intervenção dos militares é quase automática…?

Jamie Shea: É preciso distinguir as situações. Por vezes, os ataques de que falámos têm uma abrangência muito localizada. Fala-se muito neles, mas têm uma dimensão local, seja numa linha de metro ou num autocarro. Muitas vezes, é a polícia e os serviços de emergência que tratam destes episódios. Mas os militares estão sempre presentes. O que a NATO faz é preservar uma capacidade de intervenção específica. Já abordámos a questão dos diferentes ataques. Na República Checa, existe um centro que pode analisar imediatamente as substâncias envolvidas, em caso de ataque químico ou biológico. Pode identificar os elementos, organizar a informação e acionar a resposta adequada.

euronews: Se a NATO tem um centro de excelência e mais capacidades do que a União Europeia nessa área, pode assumir logo o controlo duma situação?

Jamie Shea: Não, de todo. Cabe às duas organizações oferecer os meios possíveis ao país afetado. É a melhor forma. Duas pernas são melhores do que uma.

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euronews: Há alguma confusão aqui, não é muito claro. Quem é que pode assumir as operações afinal?

Luc Rombout: Como salientaram os outros convidados, não é, de facto, muito claro. Depende muito das circunstâncias. Comparemos, por exemplo, as diferenças na utilização dos meios militares a nível internacional e nos países da União Europeia. Há países que os utilizam como último recurso; noutros, eles estão envolvidos nos serviços de emergência ou reservados prioritariamente para situações muito específicas.

euronews: Isto não abre a porta ao caos? Fala-se em coordenação, mas o que sobressai é que pode ser tudo bastante caótico…

Helena Lindberg: Se tiver havido treinos e exercícios, se toda a gente souber que papel desempenhar, quais as suas responsabilidades, não tem de ser caótico. Pelo contrário, seria caótico era se houvesse apenas uma organização responsável por lidar com as situações. É preciso conjugar esforços numa perspetiva abrangente dos problemas e ter meios disponíveis para providenciar rapidamente assistência no país onde ela é necessária.

euronews: É preciso alertar os cidadãos para os riscos que existem?

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Luc Rombout: É necessário consciencializar a sociedade, a população civil sobre as formas de resposta a uma situação de emergência e sobre as possibilidades de ajuda na sequência de uma catástrofe. Também porque é preciso incentivar a resiliência em detrimento da vulnerabilidade.

euronews: O que é que a Suécia está a fazer para despertar consciências para os riscos?

Helena Lindberg: É uma questão com que muitos países se debatem: como sensibilizar as pessoas? E como criar o equilíbrio necessário para evitar lançar o pânico? Temos, de facto, de tornar as sociedades menos vulneráveis e mais resilientes. Uma forma de o fazer é tornar os cidadãos mais adaptáveis às circunstâncias – torná-los capazes de cuidarem de si próprios se houver uma catástrofe e de ajudar quem estiver ao lado.

euronews: É preciso fazer mais para promover uma tomada de consciência?

Jamie Shea: Claro que sim. Os cidadãos têm de estar informados, sem que isso altere o seu quotidiano. Nem sempre é possível evitar o golpe. Mas se estivermos bem preparados, bem treinados, bem orientados, se cada um souber o que fazer, os danos podem ser significativamente menores. Nem sempre podemos prever o pior, mas podemos tentar limitar as consequências. É aí que se concentra a gestão de uma crise.

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