Fugiram da guerra para encontrar uma vida na Alemanha

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Numa escola em Hamburgo, no norte da Alemanha, a festa de Natal evoca tradições que vão da Turquia à Síria. Elbinsel é o nome deste estabelecimento

Numa escola em Hamburgo, no norte da Alemanha, a festa de Natal evoca tradições que vão da Turquia à Síria. Elbinsel é o nome deste estabelecimento escolar que se situa numa parte da cidade onde vivem pessoas provenientes de vários cantos do mundo. Há refugiados da Síria, da Somália, da Eritreia… Muitas vezes, o que estas famílias têm em comum é um passado difícil e chegarem aqui sem poder comunicar em alemão, a língua do país que os acolhe. A escola permite que as crianças se integrem mais rapidamente na nova realidade.

Sigrid Skwirblies, uma das professoras, afirma que “a música é uma linguagem universal. Centramo-nos muito nisso aqui. A música pode unir pessoas, culturas, religiões. Dentro de alguns dias, começam as aulas para as crianças refugiadas e vamos arrancar com um projeto musical. A nossa mensagem é: ‘Vocês são bem-vindos’”.

Se em Hamburgo encontrámos esta abertura, mais a sul, em Dresden, deparamo-nos com um cenário bem diferente. Tornou-se um ritual semanal: todas as segundas-feiras, há uma manifestação contra a chamada “islamização da Europa” e contra a política de asilo alemã. No início, os protestos – que são convocados por cidadãos, não por partidos políticos – reuniam algumas dezenas de pessoas; hoje em dia, ultrapassam a dezena de milhar.

Heiko Habbe trabalha para o denominado Serviço Jesuíta, que dá apoio aos refugiados. Considera que é o medo que está a levar cada vez mais gente aos ajuntamentos e defende o ponto de vista oposto. “A Alemanha não corre o risco de colapsar. Pelo contrário, é um país economicamente sólido. Nós podemos receber refugiados sem qualquer problema. Os países vizinhos da Síria acolheram três milhões de pessoas, nos últimos três anos. A Alemanha recebeu 200 mil refugiados, este ano, e o que é que aconteceu? Manifestações contra eles. É uma vergonha”, declara.

Regressamos a Hamburgo, onde todos os meses chegam aproximadamente mil refugiados. As autoridades decidiram instalar tendas e contentores para dar resposta a todos os pedidos. O mesmo cenário repete-se em várias cidades alemãs.

Hermann Hardt faz parte do conselho local para os requerentes de asilo. Está a organizar uma manifestação de apoio aos refugiados no final de janeiro. Segundo Hermann, a cidade de Hamburgo tem de construir mais alojamentos sociais e tomar outras medidas urgentes: “Não se pode colocar pessoas em contentores como se fossem mercadoria. Também não as devíamos instalar em tendas. Há 2300 apartamentos vazios em Hamburgo e milhares e milhares de metros quadrados de escritórios sem ninguém, que podem ser convertidos em habitação. É possível arranjar um lugar para os refugiados. Desde 2011 que existe uma lei na cidade que permite tomar posse de um espaço em caso de emergência.”

Para já, foram criados abrigos de emergência noutras infraestruturas no bairro operário de Kirchdorf Sul. Aqui gerou-se um movimento de solidariedade que deu origem a uma página de Facebook onde são recolhidos apoios e recrutados voluntários para ajudar, como Daniel Peter, que nos explica: “Precisamos de casacos quentes e sapatos que durem. Há pessoas que chegam apenas com sandálias e a roupa no corpo. Não têm luvas, não têm gorros, nada…”

Os voluntários locais apropriaram-se de uma sauna abandonada para a transformar num centro caritativo de recolha. Amar veio de Alepo, na Síria. Tem 34 anos e procura um novo caminho. “Em Alepo, enfrentávamos problemas muito sérios. Tomámos a decisão de fugir da guerra. Toda a gente sabe o que se está a passar na Síria. Agora estamos à procura de paz, de um sítio onde possamos viver em segurança. (…) Eu gostava de conseguir uma autorização de residência, porque tinha outra segurança, podia instalar-me aqui e ter os mesmos direitos do que os alemães”, diz-nos Amar.

Enquanto aguardam uma decisão sobre o pedido de asilo, os adultos não têm direito a receber aulas gratuitas de alemão.Por vezes, os requerimentos demoram muito tempo. Um período que deveria ser aproveitado justamente para aprender a língua. Daí que tenha sido lançado um apelo de voluntariado para ensinar alemão.

Em 2008, havia cerca de 200 mil pedidos de asilo em toda a União Europeia. Agora esse número corresponde aos requerimentos só na Alemanha, que representa atualmente perto de um terço do total europeu. Fomos perguntar aos habitantes deste bairro de Hamburgo até que ponto são os refugiados bem-vindos. Aqui ficam algumas das respostas: “Devia haver uma integração melhor. Devia haver requalificação profissional, uma educação reforçada. Eles precisam de oportunidades de trabalho”; “estamos a falar de gente que fugiu da guerra. Merecem ser bem tratados. Merecem um sítio adequado para dormir, uma casa, não um abrigo numa escola abandonada”; “eu tenho pena deles. Mas não deviam andar a remexer nos baldes do lixo”; “temos espaço suficiente. Já houve demasiados deles a morrerem afogados.”

O governo alemão criou uma linha de crédito no valor de mil milhões de euros para permitir às regiões com mais dificuldades gerir o fenómeno crescente dos refugiados. E fala-se também em facilitar algumas autorizações de residência, caso haja uma integração comprovadamente bem-sucedida. São as medidas consideradas possíveis numa altura em que se costuma falar de esperança.

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