A explicação das reparações de guerra exigidas pela Grécia à Alemanha

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As relações entre a Grécia e a Alemanha deterioraram-se significativamente desde a eleição de Alexis Tsipras e o partido Syriza. Um dos pontos-chave do mal-estar são as reparações da II Guerra Mundial exigidas por Atenas a Berlim.

Mas porque é que os gregos querem ser compensados?

O primeiro argumento diz respeito à compensação pelos crimes de guerra. Durante a II Guerra Mundial, na primavera de 1941, a Alemanha e a Itália conquistaram a Grécia. Para lá das baixas militares, cerca de 20 mil civis (não existe acordo sobre os números exatos) foram mortos e povoações inteiras foram dizimadas pelas tropas alemães.

O segundo argumento diz respeito aos custos financeiros diretos e indiretos sofridos pela Grécia. Durante a guerra, a convenção de Haia, em vigor desde 1907, previa que os Estado ocupado devia pagar o custo de vida e de manutenção das tropas ocupantes.

No entanto, o tesouro grego foi submetido a custos de 476 milhões de reichsmarks, mais do que o máximo acordado pelos alemães e os italianos. Os submetidos governo grego não outra escolha senão entregar o dinheiro que foi usado para as campanhas nazis no norte de África.

O que foi acordado depois da guerra?

Depois da derrota dos Nazis, os tratados de Paris de 1946 definiram as reparações de guerra que os diferentes países envolvidos tinham que pagar.

A Grécia recebeu 105 milhões de dólares da Itália (um pouco mais do que a União Soviética) e 45 milhões de dólares da Bulgária. Mas a Alemanha apenas honrou este acordo a partir de 1990, pois tinha sido dividida – a República Federal Alemã (RFA) e a República Democrática Alemã (RDA).

No entanto, o Acordo de Compensação de Paris estabeleceu que a Grécia devia receber 2,7% em dinheiro, do total das compensações pagas pela Alemanha, e 4,35% das industrias de transporte, navios e outro tipo de pagamentos. De facto, isto significava 7,1 milhões de dólares nos valores de 1938, cerca de metade do que a Grécia tinha exigido.

(function(d, s, id) {var js,ijs=d.getElementsByTagName(s)[0];if(d.getElementById(id))return;js=d.createElement(s);js.id=id;js.src="//embed.scribblelive.com/widgets/embed.js";ijs.parentNode.insertBefore(js, ijs);}(document, 'script', 'scrbbl-js'));Em fevereiro de 1953, foi assinado um outro pacto, conhecido como o Acordo de Londres, que cobria as dívidas gerais da derrotada Alemanha aos vencedores – os Aliados.

A dívida do pré-guerra foi cortada em cerca de metade e o tempo que a Alemanha tinha para pagar for prolongado para os 30 anos. A dívida de Guerra, em si, foi determinada separadamente por cada país.

Depois de 1952, a RFA concluiu vários acordos para avançar com compensações adicionais. Em 1960, a Alemanha concordou pagar à Grécia 115 milhões de marcos a indivíduos gregos, vítimas da ocupação alemã.

No total, a Alemanha pagou cerca de 72 mil milhões de euros em reparações de guerra, segunda a agência de notícias Reuters.

O que pretedem agora os gregos?

De acordo com um artigo da revista alemã Der Spiegel, estima-se que a Alemanha deve à Grécia 108 mil milhões de euros para reconstruir as infraestruturas danificadas e 54 mil milhões pelo empréstimo forçado da ocupação.

O montante total de 162 mil milhões de Euros representaria 80 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) atual e uma larga fatia dos 240 mil milhões de Euros do resgate financeiro dado à Grécia pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional.

Mas em abril de 2015, o vice-ministro grego das Finanças, Dimitris Mardas, afirmou que a Berlim devia quase 279 mil milhões de euros em reparações de guerra, de acordo com o Serviço Geral de Contabilidade grego.

Oficialmente, o governo alemão afirma que o tema está encerrado desde os acordos “2 mais 4” de 1990, após a reunificação das duas Alemanhas. Em torno da mesa os 4 países “vencedores” da guerra, firmavam um documento em que renunciavam aos direitos sobre os países vencidos. Um acordo aprovado também por Atenas que, no entanto, exigia a assinatura de um Tratado de Paz para poder ter direito a aceder a compensações de guerra.

Dois turistas alemães reembolsam a sua quota parte das indemnizações

A “dívida histórica” alemã, reclamada pela Grécia, poderá não cobrir a totalidade do empréstimo europeu ao sobre-endividado país, mas no confronto recente entre as duas capitais, a perspetiva de uma indemnização pode ajudar Tsipras a, pelo menos, obter até ao final da semana um fundo de emergência reclamado ao Eurogrupo. Uma forma inteligente em Berlim e Atenas, de pôr em prática a solidariedade europeia por entre a inflexibilidade alemã, nem que seja com um pretexto de há 70 anos.

E enquanto o governo alemão hesita, dois cidadãos do país não hesitaram em dar “o primeiro passo”. Ludwig Zacaro e Nina Lahge, dois turistas alemães de visita ao país, não hesitaram em reunir-se com o presidente da câmara de Nfplion, na semana passada, para pagar a sua “quota-parte” das reparações de guerra – 875 euros – o valor alegadamente devido por cada cidadão alemão à Grécia, pelos danos causados durante a II Guerra Mundial.

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