A luz no horizonte do Irão e a sombra da força do dólar sobre Obama

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De  Euronews
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Esta semana, o Business Middle East foca-se no "acordo histórico" alcançado entre o governo de Teerão e o grupo P5+1

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Esta semana, em Business Middle East, debatemos o alívio económico que se adivinha para o Irão depois do acordo alcançado com o ocidente e que deverá ser fechado no final de junho. Na rubrica “Business Snapshot”, vamos ver como está a crescente força do dólar a preocupar o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

A euronews enviou a jornalista Rehana Mzharri a Lausana, na Suíça, para acompanhar os últimos desenvolvimentos das negociações do Irão com o grupo P5+1, que reúne os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia) mais a Alemanha e também pode ser referido como grupo E3+3.

Ao longo dos anos, vários setores económicos têm sofrido com as sanções impostas pelo ocidente ao Irão. Os bancos e o setor petrolífero, por exemplo, foram muito atingidos.

O Irão tem estado isolado do sistema bancário internacional e o rial iraniano, a divisa nacional, caiu dois terços contra o dólar americano ( o câmbio atual coloca um dólar a valer 28,040 riais — em abril de 2012, valia 12,239 riais).

A União Europeia também impôs bloqueios a alguns bens do Irão detidos pelo banco central e também a todos os negócios efetuados com ouro ou outros metais preciosos.

O setor petrolífero, que representa 60 por cento das receitas do Irão, sofreu uma forte quebra de exportações, enquanto as despesas do governo de Teerão subiram. Além disso, há mais de 30 milhões de barris de crude parados nos enormes tanques dos portos iranianos a aguardar “luz verde” para serem comercializados.

Na última quinta-feira, um acordo histórico foi alcançado com o grupo P5+1 e que, de acordo com este organismo, pode levar ao levantamento das sanções sobre o Irão. Este princípio de compromisso permite alguma folga para trabalhar a questão nuclear do Irão e preparar o acordo final que deverá ser alcançado a 30 de junho.

Os meios de comunicação têm avançado que o levantamento das sanções ao Irão pelos maiores países irá acontecer por fases e que os efeitos não se deverão fazer sentir na totalidade antes do final do ano.

A nossa enviada especial a Lausana conclui que “com o acordo alcançado, as sanções podem ser levantadas”, mas Rehana Mzharri avisa: “A grande preocupação é saber como tudo isto irá afetar os preços do petróleo.”

“Acordo positivo para o dólar americano”

Para esclarecer um pouco os efeitos provocados por este acordo, Daleen Hassan falou com Nour Eldeen Al Hammoury, responsável pela estratégia de mercados na ADS Securities, em Abu Dhabi.

Daleen Hassan, euronews: Depois das negociações de Lausana, a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) foi rápida a anunciar que o mercado petrolífero não seria afetado a curto prazo. É mesmo assim?Nour Eldeen Al Hammoury: É claro que isto não vai ter efeito imediato no fornecimento (de petróleo) uma vez que as sanções ainda se mantêm e não vai haver um aumento de produção no Irão. Pelo menos até 30 de junho, quando é esperado acontecer a reunião da OPEP. Se eles assinarem o acordo, então, sim, o fornecimento de petróleo será maior com mais um milhão de barris por dia, de acordo com os números avançados pelo Irão. Se a OPEP mantiver os níveis de produção em suspenso, os preços do petróleo podem manter-se sob pressão. **Se as sanções económicas ao Irão fossem levantadas, como é que isso afetaria o câmbio de moeda na região?**Não é apenas na região. Será global. O acordo, claro, é positivo para o dólar americano porque surge como uma vantagem dos Estados Unidos na região em vez de mais uma situação de guerra. Todos vão ter acesso aos negócios do Irão, aos bancos e à indústria petrolífera. Isso abre a porta a novas oportunidades de investimento, a partir do Irão ou vice-versa. Isto vai também aumentar os negócios em riais iranianos e noutras divisas da região. **Como poderá o rial iraniano reagir?**O rial perdeu mais de 80 por cento do valor devido às sanções que começaram em 2011. Por isso, o acordo com o ocidente deverá ser benéfico para a moeda iraniana. O rial pode recuperar nos próximos anos algum do valor perdido, em especial se as sanções ao setor bancário forem levantadas. A maior parte dos negócios com o Irão vão ser fechados na moeda local e em dólares americanos. ### Porque preocupa Obama ter um dólar forte?

Barack Obama revelou, na quinta-feira, preocupação face ao impacto que um dólar forte pode ter nas exportações americanas e também apontou o dedo aos Republicanos (o partido da oposição que controla atualmente o Senado e o Congresso norte-americanos) por defenderem cortes fiscais para os mais ricos.

As palavras de Barack Obama, durante um evento no Kentucky, Estados Unidos (pode escutar o próprio Presidente dos Estados Unidos no vídeo abaixo, a partir dos 7m45seg): “As economias na Europa estão fracas. As economias da Ásia estão fracas. O dólar está a ficar cada vez mais forte porque muitos querem pôr aqui (nos Estados Unidos) o seu dinheiro. Pensam que é mais seguro, por isso estão a investir mais aqui. Mas isso torna as nossas exportações mais caras. Temos de nos manter ávidos. Não podemos apenas sentar-nos e assumir que vamos continuar a crescer ao ritmo que precisamos para darmos oportunidades aos nossos jovens no futuro.”

Daleen Hassan , euronews: Foi a primeira vez que Obama deixou perceber que a economia americana está a ser afetada pela força do dólar. Que mensagem estava ele a tentar passar? Nour aldeen Al Hammoury: A declaração do Presidente sobre o dólar forte pode ser uma tentativa de explicar o abrandamento da economia americana. Em especial, depois do relatório sobre o emprego nos Estados Unidos, que se revelou uma enorme deceção e ficou muito aquém das estimativas dos mercados. Por isso, esta declaração pode ser entendida como uma “dica” para os mercados de que, se o dólar continuar a valorizar-se, a economia americana pode vir a enfrentar um período de crescimento mais lento. Pode ser também uma tentativa do Presidente parar o fortalecimento do dólar ou pelo menos abrandá-lo, como de certa forma já aconteceu, permitindo ao euro passar de valer 1,08 para 1,10 dólares.

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