Gestapo em França: Relatos do horror na primeira pessoa

Gestapo em França: Relatos do horror na primeira pessoa
De  Ricardo Figueira com LAURENCE ALEXANDROWICZ
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A euronews falou com uma mulher e um homem que passaram, em crianças, pela prisão de Montluc, em Lyon, gerida pela Gestapo durante a Segunda Guerra Mundial.

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Lyon, prisão de Monluc: Um local que deixou marcas para a vida em pessoas como Andrée e Claude, presos juntamente com as mães, quando eram crianças.

A prisão foi requisitada pela Gestapo em 1942. A euronews encontrou-se com quem viveu a história em primeira mão, quando se comemoram 70 anos da libertação de França.

Andrée Gaillard : Fui presa por engano. Tinha oito anos e a minha mãe tinha sido presa em casa do chefe da rede dela, na Resistência. Tinham montado uma armadilha. Fomos recebidas por dois homens, um com um revólver e outro com uma granada. Penso que ficaram surpreendidos ao ver uma mulher com uma criança.

Claude Bloch : Quando fomos presos a 29 de junho de 1944, levaram-nos à Gestapo. Um homem veio buscar o meu avô e a minha mãe para os interrogar. Meia-hora ou três quartos de hora depois, a minha mãe voltou, sozinha, e disse-me ao ouvido que o avô tinha sido morto.

Por aqui passaram mais de oito mil presos – judeus, resistentes e reféns. Muitos foram transportados para a sede da polícia política nazi, o atual Centro de História da Resistência e da Deportação de Lyon, onde foram torturados sob as ordens de Klaus Barbie e outros torcionários. Outros acabaram fuzilados e muitos outros apanharam um comboio para os campos de concentração, sem bilhete de regresso.

Claude Bloch: Vieram buscar-me para por no que chamavam a barraca dos judeus. Davam-nos de comer uma vez por dia, vivíamos no meio dos percevejos, havia milhões deles, mesmo se os estávamos sempre a esmagar.

Andrée Gaillard: Onde colocar uma mulher que não é judia com uma criança? Isso era um problema. Chegámos ao refeitório das mulheres e vi um beliche sem barreira de proteção nem escada. A minha mãe ficou zangada e disse que eu ia cair.

Claude Bloch: De manhã, a porta abre-se e aparece um alemão, que chama as pessoas por ordem alfabética. Sabíamos que a chamada terminava com uma destas duas fórmulas: Com bagagem ou sem bagagem. Das duas vezes que ouvi, ele disse “sem bagagem”. O que significa que as pessoas que eram chamadas iriam ser fuziladas no próprio dia.

Andrée Gaillard: A minha mãe passou por vários interrogatórios e senti a desumanidade das outras detidas. Quando perguntei se devia guardar o jantar para ela, responderam que de qualquer das formas ela não teria vontade de comer quando voltasse.

Claude Bloch: Ouvimos gritos e cães a ladrar. Não sabíamos onde estávamos, só depois soubemos que tínhamos chegado a Birkenau. Tinha 15 anos. Hesitei e fui ter com a minha mãe, já que estávamos no mesmo vagão. Ela empurrou-me brutalmente para o pé dos outros homens. Perdemo-nos de vista, não sabíamos o que nos ia acontecer. Nunca mais a vi.

Andrée Gaillard: A minha mãe foi deportada para Ravensbrück e voltou em junho de 1945. O meu par foi para Dachau, onde morreu, e um dos meus irmãos foi para Mathausen, onde morreu a 24 de março de 1945.

Claude Bloch: Nunca me vou esquecer da forma como perdi a minha mãe. Às vezes, acordo à noite a pensar nela, vejo-a e não me consigo habituar à ideia de a ter perdido daquela forma.

Andrée Gaillard: A minha infância ficou em Montluc. Quando saí daqui, já não era uma criança.

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