Seis dias depois do ataque terrorista que dizimou a redação do jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris, a conferência de imprensa dos sobreviventes
Seis dias depois do ataque terrorista que dizimou a redação do jornal satírico Charlie Hebdo, em Paris, a conferência de imprensa dos sobreviventes foi realizada sob forte emoção e dor. O desenhador Luz, ligado ao Charlie há mais de 20 anos, disse o intraduzível…na totalidade (putain de une):
- Eu escrevi: “Está tudo perdoado” e depois chorei. Foi a manchete. Tínhamos encontrado a manchete.
Em entrevista ao Libération, Luz (Renald Luzier) explicou a sua escolha pessoal: “cada número é uma tortura para a memória daqueles que se foram, passo noites sem dormir, a pensar nos nossos mortos.”
Luz já tinha anunciado que não redesenharia Maomé.
O ataque contra o Charlie Hebdo desencadeou uma onda de choque em França e em todo o mundo ocidental: era o símbolo da liberdade de expressão que estava a ser atingido. Milhões de franceses foram para a rua, a 11 de janeiro, sob o lema “Eu sou Charlie”. Todos os defensores da liberdade assumiram ser Charlie.
Os jornalistas sobreviventes deram as mãos nesse dia. Entre eles, Luz, Zineb e Rhazaoui, uma jornalista franco-marroquina que recebeu uma carta de recriminação do semanário satírico, na semana passada, e foi suspensa por se atrasar na entrega dos trabalhos. A jornalista está ameaçada pelos jihadistas e revolta-se com a situação que vive e a reação da administração do Charlie Hebdo.
Os lucros inesperados, as tensões provocadas pela gestão do património e as sequelas de que sofrem os redatores, colocam em perigo a sobrevivência do Charlie Hebdo. Luz foi apenas o primeiro “a bater com a porta”.