Jornalista americano no Irão pode ser utilizado como peão por um grupo minoritário

Jornalista americano no Irão pode ser utilizado como peão por um grupo minoritário
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De  Maria-Joao Carvalho com Stefan Grobe, Washington Post
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Julgamento de Jason Rezaian, correspondente do Washington Post, preso há 10 meses no Irão com a acusação de espionagem, é, aparentemente, fruto de um país onde o poder judicial está corrompido e os re

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Jason Rezaian, correspondente do Washington Post, detido no Irão há cerca de 10 meses, acusado de espionagem para os Estados Unidos, vai a julgamento neste 26 de maio.
Rezaian é acusado de espionagem para o governo hostil dos Estados Unidos e de ações de propaganda contra o sistema. O jornal Washington Post descreveu a acusação judicial como mal estruturada.

Douglas Jehl, Foreign Policy Editor, Washington Post: - O nosso objetivo era fazer tudo para tentar devolver a liberdade a Jason. Trabalhámos com todos os que podiam, eventualmente, ajudar: governos, agentes privados e outros, na esperança de que o Irão entenderia a mensagem de que é ridículo acusar um jornalista como acusaram Jason durante 300 dias.

Os especialistas iranianos e americanos consideram o caso Rezaian como um sinal de intensa luta pelo poder entre as fações rivais em Teerão.

Reza Marashi, diretor de investigação, National Iranian American Council, amigo de Jason:

- É uma grande batalha política que se desenrola em Teerão: há os que querem construir pontes entre o Irão e o mundo exterior e os que querem fazer saltar as pontes, com pessoas inocentes pelo meio, como é o caso de Jason.

Jason é um jornalista com dupla nacionalidade, posiciona-se bem longe das batalhas políticas internas do Irão, que nada têm a ver com as relações entre o Irão e os Estados Unidos. Mas, o problema é que pode ser utilizado como peão por um grupo minoritário iraniano.

O fim do processo é imprevisível, num país onde o sistema judicial é descrito, pelos especialistas ocidentais, como ineficaz e corrupto.
Até agora, o caso não teve qualquer impacto sobre as negociações nucleares iranianas. Se Jason for condenado o ambiente diplomático pode ficar envenenado.

Stefan Grobe, euronews: – O irmão de Jason Rezaian vive em São Francisco e está com a euronews. Agradecemos-lhe.
É difícil imaginar o que tem vivido. Como é que está a enfrentar tudo isto, como está a família a enfrentar os últimos 10 meses?

Ali Rezaian, irmão de Jason – Claro. É uma experiência que se arrasta há muito tempo, é incrível. Acho que todos vivemos experiências diferentes. A minha mãe vive sozinha em Istambul, tem um maravilhoso grupo de amigos e familiares em todo o mundo, que a apoiam através das redes sociais ou por telefone. Mas ela está, verdadeiramente, preocupada com o Jason. Ela esteve no Irão quase um ano com o Jason, há dois atrás. Está familiarizada com a cultura e o Jason nunca teve este género de problemas. Por outro lado, temos vários familiares no Irão, a mulher do Jason está lá, com outros membros da família. Também foi detida durante 72 dias e foi libertada sob fiança. Mas, desde então, continuam a convocá-la, a interrogá-la: “onde esteve, porque saiu, e esse tipo de perguntas. A pressão não diminuiu desde que saiu da cadeia, há oito meses. Quanto a mim, tenho trabalhado nisto, a minha vida mudou completamente.

euronews – Como e quando ficou a saber do julgamento?

Rezaian – Sobre o julgamento, já esperávamos que fosse por esta altura, mais ou menos há um mês, mas não havia certezas. Há cerca de 10 dias, o nosso advogado foi avisado de que o julgamento poderia realizar-se nesta data. A meio da semana passada tivemos a confirmação oficial. O que posso dizer é que Jason está isolado, pois não teve acesso, o advogado, nem ao processo, soube que ia ser julgado pelos Media. Estava a ver televisão quando ouviu que “O julgamento de Jason Rezaian começava a 26 de maio.” É assim que funcionam as coisas lá.

euronews – Falemos do papel do governo dos Estados Unidos. Do presidente Obama até às bases, muitos falaram sobre este processo, tentando garantir a libertação de Jason. Qual é o papel de Washington? Era apropriado intervir? Foi feito o suficiente?

Rezaian – Bem, sabe, sou o irmão de Jason, para mim isso não será suficiente até ele sair. Eu não faço política, mas o que posso dizer é que o governo iraniano tomou posições que tornam mais difícil aos Estados Unidos lidar com o assunto. Isto foi feito intencionalmente. O governo dos EUA apoiou-nos em todo o processo. A questão é que se pode realmente afetar o que se está a passar, porque o Irão tem prática na detenção de pessoas, cidadãos com dupla nacionalidade, principalmente, e mantê-las na cadeia por um longo tempo. Fizemos o melhor, tentando perceber o que se ia passando, e eles deram o melhor a explicar-nos o que ia acontecendo. Trabalhámos todos com o governo.

euronews – Há alguma lição a tirar desta história?

*Rezaian – O que penso é que, apesar de ser um país com regras restritas, onde se fala das leis, ninguém lhes tem de obedecer. Não há ninguém responsável por sancionar quem infrinja a lei. Os responsáveis pela lei são os primeiros a desrespeitar os acordos e as leis internacionais que assinaram.
Falei com dezenas de jornalistas, dos Estados Unidos e de outros países, que são correspondentes no Irão, e nunca encontrei alguém que dissesse “nunca me causaram problemas”. Todos foram detidos de um modo ou de outro. Há quem tenha sido mantido durante duas ou três horas na beira da estrada, por dois ou três dias, num quarto de hotel ou até mesmo na prisão durante uma semana, para não poder realizar o trabalho para o qual estava credenciado em determinado momento. Mas eles apenas faziam o que lhes tinha sido pedido que fizessem, com credencial de permissão para estar em determinado local e horário. Esta é a lição que aprendi.*

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