Irlanda: Regressar a casa

Irlanda: Regressar a casa
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Na Irlanda, como noutros países, os filhos da terra foram obrigados a emigrar à procura de oportunidades. Mary Gilligan partiu para a Austrália e

Na Irlanda, como noutros países, os filhos da terra foram obrigados a emigrar à procura de oportunidades. Mary Gilligan partiu para a Austrália e passou dois anos a tosquiar ovelhas, a trabalhar no campo ou como empregada num bar. Agora, está de volta.

A mãe, como o país, recebem-na de braços abertos. O pior parece ter passado e foi por isso que Mary decidiu regressar, ainda que na Austrália fosse bem paga e se tivesse divertido:

“Fizemos mergulho, bungee jumping, fomos para o interior tosquiar ovelhas. Aprendemos a pescar e a disparar uma arma… Quando decidimos voltar a casa foi emocionante, mas preocupante. Não sabíamos se encontraríamos emprego, mesmo quando o coração nos dizia que a economia estava a recuperar. Mas foi emocionante pensar: estamos de volta a casa para rever os nossos amigos e família.”

Shirley tem cinco filhos. A crise económica, que começou em 2008, levou alguns a deixarem a Irlanda e a rumarem à Austrália. Mary e o irmão mais velho Kieran regressaram. Para Shirley foi o regresso foi um momento único:

“Eles têm muita esperança, fazem o que têm de fazer e acho que regressam a casa um pouco mais sábios. É maravilhoso ter o Kieran e a Mary de volta a casa.”

Mas não se trata apenas de regressar ao “lar doce lar”. É também doce o sabor de uma economia em recuperação mesmo em Kilrush, uma pequena cidade costeira com uma longa história de emigração.

“A Euronews conheceu Mary em 2012”:
https://www.youtube.com/watch?v=i7jzMnVmfLA, quando esta se preparava para emigrar. Na Austrália, Mary apaixonou-se por um compatriota. Juntos, decidiram regressar mas ele, trabalhador da construção civil, teve de rumar a Londres. Mary encontrou trabalho na sua região, como assistente de reabilitação. Ajuda pessoas com lesões cerebrais:

“Demorei cerca de um mês, desde que cheguei, a encontrar trabalho. Tive sorte de ser na minha região. Acho que a economia está a melhorar, mas devagar. Penso que é preciso trabalhar muito mais para que todos possam voltar a casa.”

No campus da Universidade de Cork a Euronews encontrou Seamus Coffey, um professor de economia otimista em relação à recuperação económica irlandesa:

“A imigração líquida, para 2015, rondará os zero por cento. O número de pessoas que saem será idêntico ao número de pessoas que entram, uma grande mudança em relação ao que acontecia há quatro, cinco anos. Devemos assistir a uma reversão, mais pessoas a chegar à Irlanda do que a partir.”

Aidan, músico autodidata, canta num bar. Escreveu centenas de canções sobre a Irlanda, a crise económica e sobre a questão-chave que pairava nas cabeças dos irlandeses: partir ou ficar? No bar ele apresenta-se ao seu público:

“Sou o Aidan e vou cantar algumas canções. Há uma em particular, chamada «When you are coming home?», que fala de alguém que se questiona sobre se deve ou não emigrar. Mas no final, decide que quer ficar na Irlanda.”

Sobre a evolução na imigração Aidan tem também um pensamento positivo:

“Penso que talvez há quatro, cinco anos as pessoas saiam em grandes grupos e no Natal muitas não regressavam à Irlanda, porque sabiam que não havia emprego. Já não vemos isso acontecer, frequentemente. O meu amigo deixou o país com mais dez pessoas, para ir para a Austrália, e mesmo eles estão a preparar-se para regressar.”

De Xangai, na China, com 24 milhões de habitantes, para Kinvara, uma vila portuária irlandesa com 563 habitantes. Cathal McInerney regressou à sua aldeia natal pela mão de um investidor americano. Baixos impostos, internet de alta velocidade e ligações históricas ao país convenceram uma empresa de consultoria, com sede em Miami, a criar em Kinvara a sua estrutura para a Europa e Médio Oriente:

“Mudei-me para a China em 2011. Mas sempre quis voltar e as coisas estão a melhorar na economia, há mais emprego, as empresas estão a começar a pensar em contratações de longo prazo e na necessidade de trazer as pessoas de volta. Por isso, na minha opinião, as coisas na Irlanda deram uma volta, e estamos a regressar ao bom caminho”, explica Cathal.

Foi a crise na construção civil que empurrou Cathal para o estrangeiro. Na China encontrou a sua cara-metade: Darima, professora, nascida na Sibéria. Quando os primeiros sinais de recuperação irlandesa chegaram a Xangai, decidiu regressar a casa:

“A minha família vive nesta região há 400, 500 anos. O edifício no qual estamos a trabalhar agora foi uma loja de doces da minha tia-avó, nos anos 30, 40 do século passado”, adianta Cathal McInerney.

Nas pastagens que foram do seu avô Vivienne e o irmão Kevin, que nasceram em Xangai, descobrem as maravilhas do campo. O governo irlandês tenta reanimá-lo trazendo de volta imigrados e investidores, pessoas que possam inverter a tendência de desertificação destas regiões:

“Através do Connect Irland, o governo está a trabalhar com pequenas e médias entidades e quer trazê-las, não para as grandes cidades da Irlanda, mas para as localidades do interior do país para tentar impedir as pessoas de abandonarem o campo”, refere Cathal.

Mudar de Xangai para Kinvara foi difícil para Darima. Mas, graças às novas tecnologias, ela mantém contacto com a família na Rússia e na China:

“Hoje é muito fácil: através do Skype ou do telefone falo, muitas vezes, com a minha mãe. Falo quase todos os dias, é como se ela vivesse aqui e me ajudasse a criar os meus filhos”, adianta Darima.

Mas o regresso faz-se ainda a conta-gotas. Parte da família de Aidan, o músico de Cork, mudou-se para Sydney, há sete anos e, apesar de querer voltar a casa, ainda não há certezas.

A distância é colmatada pela internet mas há coisas que as novas tecnologias são incapazes de apagar:

“Sentes saudades de casa?” – Pergunta Aidan ao irmão através do Skype.

“Se tenho saudades de casa? Temos saudades vossas… Nunca se sabe se um dia destes não regressamos.”, desabafa Michael O’Brien.

“Sim, isso era ótimo… – Estão a pensar regressar a casa?”, Pergunta Aidan.

“A economia parece estar a recuperar, o desemprego caiu para cerca de dez por cento… por isso, o país está a recuperar. As pessoas estão a deixar a Austrália para regressar à Irlanda, conhecemos algumas que o fizeram… Se houver oportunidades podemos fazê-lo também, mas tem de ser uma decisão tomada em família”, explica o irmão.

Enquanto a Irlanda multiplica as iniciativas para estabilizar a recuperação económica, ainda frágil, e trazer as pessoas de volta, cada um encontrou o seu próprio caminho como Aidan, com a sua música:

“É uma canção sobre mim. Estava a ponderar sair da Irlanda e a nas razões pelas quais devia ficar ou partir… e no final do refrão percebi que não ia a lado nenhum, e se vocês quiserem voltar para casa isso seria ótimo.”

Seamus Coffey: A imigração rondará os zero por cento

A Euronews falou com o professor de economia Seamus Coffey, no campus da University College Cork, na Irlanda. Para ouvir a sua análise sobre o fluxo migratório irlandês e a situação económica atual do país, em inglês siga esta ligação:

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