Dois jornalistas passaram 9 dias com "jihadistas": "Chegámos a ter pesadelos"

Dois jornalistas passaram 9 dias com "jihadistas": "Chegámos a ter pesadelos"
Direitos de autor 
De  Euronews
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button

Farouk Atig e Yacine Benrabia realizaram uma série de reportagens para uma página de internet, revelando o dia-a-dia dos combatentes do grupo Ansar al-Aquida, que combate o regime de Bashar Al-Assad n

PUBLICIDADE

Farouk Atig e Yacine Benrabia realizaram uma série de reportagens para uma página de internet, revelando o dia-a-dia dos combatentes do grupo Ansar al-Aquida, que combate o regime de Bashar Al-Assad na Síria. Tal como o grupo Estado Islâmico, o objetivo destes radicais é implantar um califado e impor a “sharia”

Fala-se muito de “jihadistas”, por estes dias, mas pouco se sabe da vida de um destes combatentes radicais islâmicos para lá das histórias de guerra ou tortura que se contam. Entre eles, também há pais, filhos, famílias.

Dois jornalistas passaram alguns dias com um grupo de “jihadistas” no norte da Síria. Farouk Atig e Yacine Benrabia produziram uma série de reportagens em vídeo para a página de internet Spicee tentando mostrar o quotidiano destes combatentes extremistas que também brincam com os filhos, fazem grelhadas com os amigos e discutem os resultados do futebol ao fim de semana.

O objetivo deste trabalho teve por base responder a duas perguntas: Quem são e o que motiva os “jihadistas”? Para isso, Farouk e Yacine passaram 9 dias integrados no grupo Ansar al-Aquida, que foi formado há alguns meses por um antigo líder da Frente al-Nusra, Abu Muhammad al-Halabi.

Na reportagem “Os Esquadrões da ‘Jihad’”, por exemplo, podemos ver estes rebeldes em combate contra as forças armadas sírias. São incluídos testemunhos de mulheres combatentes e revelam-se algumas missões dos guerrilheiros. Mas são também mostrados os muitos momentos de descontração, algo difícil de imaginar pelo que se ouve ser o “inferno” da guerra na Síria, da qual já fugiram milhões.

Em torno de um campo de futebol, com sinais evidentes de explosões, veículos blindados e peças de artilharia completam um cenário pouco convencional. Há “jihadistas” a discutir táticas de jogo e, dentro das “quatro linhas”, alguns mostram as suas habilidades com uma bola que já levará demasiados minutos de jogo.

O objetivo dos “jihadistas” é a implementação de um califado na região. Ou mais além — há alguns que sonham conquistar a Europa. Querem impor a “sharia”, a lei islâmica, mas são gente que também gosta de pescar e de conviver à volta de uma grelhada. As armas é que nunca ficam longe da mão.

O “contraste chega a ser chocante”, reconhece Farouk Atig, numa entrevista por telefone: “Uma das diferenças entre o autoproclamado grupo Estado Islâmico [ISIL, na sigla inglesa] e os combatentes do Ansar al-Aquida tem a ver com o ‘haraam’ [tr: o que é proibido]. Não é pecado a diversão, o desfrutar da vida e ter uma vida privada.”

Faruk Atig tem experiência de outros campos de batalha, como a Líbia. Para ele, foi chocante deparar-se com horríveis cenas de guerra lado a lado com uma aparente vida “súper normal” que testemunhou no dia-a-dia destes combatentes. “Chegámos a ter pesadelos, eu e o meu operador de câmara”, confidenciou Atig à euronews.

Outra grande diferença é a presença de mulheres combatentes. Mulheres que também puderam falar à vontade para as câmaras. O ISIL, por outro lado, nem sequer mostra muito as mulheres na propaganda que faz e alguma para atrair exatamente mulheres.

O Ansar al-Aquida também é quase exclusivamente formado por sírios. O ISIL é composto por uma legião de “jihadistas” internacionais, recrutados um pouco por todo o mundo.

Apesar de uma ideal e métodos radicais — a reportagem também acompanha a derradeira viagem de um bombista suicida — “eles são pessoas como nós”, garante Faruk Atig. “Usam ‘smart phones’ e há uma cena em que recebem uma encomenda de ‘drones’ e brincam com eles. Podíamos até dizer que pareciam crianças com a última versão da Playstation, tal a forma como se divertiam a experimentá-los. Mas, depois, também os usaram para lançar um ‘rocket’ contra o exército de Bashar Al-Assad ou para vigiar o inimigo”, revelou o jornalista.

Atig admite ser difícil entender os valores por que se regem os “jihadistas”. “São parte de um projeto global mais abrangente. A própria vida não é importante, embora gostem de a desfrutar. A diversão é o oxigénio de que dispõem após quatro anos a combater. Estão prontos para tudo o que for preciso para derrubar ‘o ditador’ [Bashar Al-Assad]”, garantiu o autor da reportagem.

Os “jihadistas” do Ansar al-Aquida respeitam cada uma das orações e preceitos da religião muçulmana. São muito religiosos, mas não alimentam a propaganda fanática como o ISIL. “O mais chocante, para mim, foi a determinação revelada por eles em atingir o objetivo, a implementação do califado. Não vou dizer que eles são ‘gajos fixes’, não é o meu trabalho julga-los. Estão completamente focados no objetivo, na luta e, de repente, transformam-se em ‘seres humanos’. Riem-se entre eles e desfrutam dos tempos livres como qualquer um de nós. É muito estranho”, reconhece Faruk Atig.

Quem os financia? A essa pergunta nunca responderam. Mas também são muito autónomos. Reciclam tudo e revelam-se muito eficientes. Há muitos que tiveram a hipótese de estudar no estrangeiro, adianta Atig, depois regressaram e agora, se tiver de ser, estão prontos para se fazerem explodir e matar inimigos, mesmo que atinjam alguns civis inocentes de forma colateral.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Israel ataca unidade de defesa aérea no sul da Síria com mísseis

Embaixador iraniano na Síria promete retaliação após alegado ataque israelita destruir consulado

Ataque israelita destrói consulado iraniano em Damasco e mata alta patente militar