Vice-Presidente da República Islâmica do Irão: "O Irão ambiciona uma nova era ao nível das suas relações com o mundo."

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De  Luis Guita
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Masoumeh Ebtekar é uma política, cientista e conhecida reformista iraniana. Ela foi a primeira mulher nomeada para a vice-presidência da República

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Masoumeh Ebtekar é uma política, cientista e conhecida reformista iraniana. Ela foi a primeira mulher nomeada para a vice-presidência da República Islâmica do Irão.
Ebtekar também é conhecida por ser a voz dos estudantes que ocuparam a embaixada dos Estados Unidos durante a crise dos reféns no Irão, 1979-1980, e como crítica da opressão dos Talibã sobre as mulheres.

Euronews: Vamos começar com uma das principais preocupações, que também é um grande problema no Irão: o meio ambiente. O Irão enfrenta uma crise ao nível da água. Há o perigo de se assistir à destruição total de muitos recursos ambientais. Enquanto líder da Organização de Proteção Ambiental, como pretende enfrentar este perigo?

Masoumeh Ebtekar: Sim, o que mencionou é absolutamente correto. Os primeiros programas, seguidos pelo governo do presidente Rouhani tem como objetivo reformar e mudar a abordagem das estruturas administrativas em relação à gestão e ao uso dos recursos hídricos. Prestamos especial atenção à necessidade de reservar uma parte de água para a natureza. Se tivéssemos tido essa preocupação e se a natureza tivesse sido respeitada, provavelmente não teríamos tido essas crises no lago Urmia e nas zonas húmidas importantes do país. Por isso a agenda do governo é completamente diferente da anterior. Foram feitos planos no Conselho de Água e no Conselho Supremo do Meio Ambiente para que possamos gerir os recursos hídricos, levando em consideração a falta de água e a necessidade de alterar os modelos agrícolas.

E: Até que ponto o povo iraniano está consciente deste perigo? Os meios de comunicação são livres para falar e escrever sobre a questão para que as pessoas sejam informadas? Uma parte desse trabalho é feito por especialistas?

M E: Sim, são temas amplamente falados e as pessoas são informadas sobre essas questões, que são discutidas nos meios de comunicação do Estado e nos meios de comunicação independentes. Grande parte desse debate é feito ao nível científico e ao nível dos especialistas. Felizmente, as universidades e os centros de investigação estão a trabalhar sobre estas questões e dão uma ajuda. Em muitos casos convidamos peritos internacionais.

E: Vamos falar um pouco de política. É uma conhecida figura pró-reformista no Irão. Após o acordo nuclear, o governo do presidente Rouhani encontra-se na extrema necessidade de ter um Parlamento que apoia o governo; por isso, as próximas eleições parlamentares, em Fevereiro, são muito importantes. O presidente tem enfatizado que o próximo Parlamento não deve ser um parlamento de uma só fação mas sim um parlamento multi-fações. Se tivermos em conta o tipo de supervisão eleitoral do Conselho de Guardiães, como pode a expectativa do presidente tornar-se uma realidade?

M E: O Presidente tem dito muitas vezes que o governo é inflexível quanto à necessidade de ter eleições livres Todas as fações políticas, todos aqueles que acreditam na Constituição do Irão e todos aqueles que estão interessados no futuro do Irão devem poder participar nas eleições. O governo, o Ministério do Interior, os Governadores e os Diretores Executivos das Eleições têm uma grande responsabilidade nesta matéria. Há desafios e, como em qualquer país, temos diferenças de pontos de vista. O governo respeita todas essas diferenças de opinião. Consideramos que se trata de uma grande oportunidade, desde que as coisas sejam feitas dentro da lei. A lei tem a palavra final. O nosso presidente é, ele próprio, um advogado. Obviamente, com este ponto de vista sobre a questão, e com a abordagem que o governo adotou, temos esperança de poder realizar boas eleições no Irão, se Deus quiser.

E: Na qualidade de Vice-Presidente foi a primeira mulher a alcançar um nível superior de tomada de decisões políticas. Mas, após 37 anos de Revolução, as mulheres estão pouco presentes em níveis superiores. Porquê? Podemos esperar que, de agora em diante, mais mulheres participem na vida política e em níveis superiores de tomada de decisão?

M E: Temos progredido muito em muitas áreas, em termos de participações das mulheres nos últimos 37 anos. Por exemplo, na área da educação, a presença das mulheres iranianas em diferentes níveis do ensino superior é notável. Em termos de participação política, tivemos altos e baixos como qualquer outro país, mas, em geral, sobretudo agora no 11º governo, presta-se mais atenção à questão da presença das mulheres. Atualmente há três mulheres vice-presidentes: vice-presidente para os assuntos jurídicos, vice-presidente para os assuntos das mulheres e eu, na agência de meio ambiente. Claro, existem mulheres vice-ministros e diretoras gerais em muitos dos ministérios. Na Organização de Proteção do Ambiente, dois dos meus deputados são mulheres, assim como muitas dos gestoras. Além disso, o ponto mais interessante é que as mulheres têm sido muito bem sucedidas no meio rural ao nível dos Conselhos Rurais.

E: Em 1979, estava entre os estudantes mais ativos na crise dos reféns na embaixada dos Estados Unidos. Sabemos que, agora, os EUA e o Irão voltaram ao caminho da diplomacia e as negociações. Qual é o seu sentimento? Acha que, num futuro próximo, poderemos presenciar uma mudança na qualidade das relações entre o Irão e os EUA?

M E: O que aconteceu em 1979 foi o resultado de um longo período de intervenções dos Estados Unidos no Irão. Naquela época, os estudantes estavam muito preocupados com a possível repetição de um evento semelhante ao golpe de 1953 contra o governo popular de Mohammed Mossadegh. Na verdade, eles estavam muito preocupados com a possibilidade de a história se voltar repetir. Foi provavelmente por isso que eles tomaram essas medidas, para evitar essa possibilidade. Agora, o Irão ambiciona uma nova era ao nível das suas relações com o mundo. Espero que sejamos capazes de estabelecer relações lógicas e justas com todos os países, se Deus quiser. Esperamos poder mudar a situação e testemunhar desenvolvimentos positivos nos laços entre o Irão e os EUA, e que o Irão possa desempenhar um papel importante em toda a região.

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