Molenbeek, um fio condutor do terrorismo na Europa?

Molenbeek, um fio condutor do terrorismo na Europa?
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De  Pedro Sacadura
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A associação do bairro de Molenbeek, em Bruxelas, a casos de terrorismo já não provoca surpresa. O gueto pobre, castigado pelo desemprego e maioritariamente habitado por emigrantes muçulmanos e do Magrebe é conhecido como um “ninho de terroristas.” Foi aqui que se realizaram grande parte das detenções relacionados com os ataques de Paris.

O meio-dia desta segunda-feira convidou à reflexão e assinalou-se um minuto de silêncio em Molenbeek. A presidente da comuna local, Françoise Schepmans, descreve um bairro aparentemente tranquilo, apesar de ser difícil saber quem é quem: “O dia a dia em Molenbeek decorre com normalidade. Talvez seja por isso que fomos enganados. Não se registaram dificuldades na vida quotidiana. Além disso há pessoas que viveram à margem, deixámo-las viver à margem. Não nos colocámos perguntas.”

O vice-presidente da comuna, Ahmed El Khannouss, acrescenta que o bairro poderá ser aprazível para os jihadistas que queiram passar despercebidos: “Existem bairros em que há casas bastante degradadas, onde as rendas não são caras e onde existe uma grande rotatividade de população. A primeira coisa que fazem aqueles que são mal intencionados é encontrar um lugar onde possam fundir-se com a massa.”

De Molenbeek saíram muitos muçulmanos que foram para a Síria combater ao lado do autoproclamado Estado Islâmico, mas para a população que aqui se encontra o importante é não abusar das generalizações.

“Encontramo-nos numa situação de desordem. Condenamos em voz alta estes atentados, mas ao mesmo tempo os habitantes de Molenbeek não são culpados pelo que se passou. É importante não misturar a religião, porque a religião nunca aconselhou a tirar a vida a quem quer que seja”, sublinha Yasmine Benhammou, do centro médico de Molenbeek.

Em entrevista à Euronews, Claude Moniquet, antigo agente secreto e cofundador do Centro Europeu de Inteligência Estratégica e Segurança, comentou porque é que a Bélgica é cada vez mais considerada a porta de entrada para o terror jihadista na Europa.

Arianna Sgammotta, euronews – Molenbeek é a base do terrorismo jihadista no velho continente?

Claude Moniquet, cofundador do Centro Europeu de Inteligência Estratégica e Segurança – Não. Em muitas matérias francesas, durante muito tempo, ao longo de duas décadas, encontrámos ligações a Bruxelas e a Molenbeek. Quando trabalhei, há 20 anos, na rede do Grupo Islâmico Armado (GIA), que plantou bombas em Paris, encontrámos ligações a Molenbeek. Por isso, é verdade que existe um problema em Molenbeek, que se deve ao fato de haver uma comunidade linguística e de haver uma proximidade com França. Existe uma interpenetração dos movimentos islamitas dos dois lados da fronteira.

euronews – Há um problema belga na luta contra o jihadismo na Europa?

CM – Esta é uma situação difícil de gerir para todos. Para os franceses, mas também para os ingleses e para os belgas. Houve demasiada tolerância durante muito tempo e depois, sem dúvida, muito poucos meios para fazer face a uma ameaça que é, atualmente, massiva. Há dez anos, na época da Al-Qaida, existiam algumas centenas de simpatizantes do terrorismo islamita na Europa. Atualmente, com o autoproclamado Estado Islâmico, existem seis a sete mil pessoas envolvidas na “jihad” ou que querem envolver-se e, sem dúvida, 10 a 15 mil simpatizantes. A ordem de grandeza da ameaça mudou totalmente.

euronews – O ministro belga do Interior anunciou querer fazer limpezas em Molenbeek. O que é que quererá dizer com estas palavras?

CM – Julgo que o termo “limpeza” foi mal escolhido. Existe um problema local em Molenbeek, que é o facto de numa comuna difícil, durante 20 anos, as autoridades locais, por razões eleitoralistas, deixarem desenvolver-se uma situação que atualmente está fora de qualquer controlo. Desencorajaram a polícia local, interditando-a de fazer determinadas investigações, operações de controlo e segurança. Jan Jambon alertou que uma série de decisões adotadas desde janeiro último e que deveriam ser aplicadas pela polícia não o foram, em Molenbeek. Claramente, penso que como ministro do Interior decidiu assumir a responsabilidade e impor à polícia de Molenbeek para se conduzir como a polícia de outros países e cidades na Bélgica.

euronews – O que pensa em relação às medidas que podemos colocar em marcha face a este tipo de ataque na Europa?

CM – São necessárias medidas legais fortes. É o que vai acontecer em França. Haverá uma série de medidas restritivas, incluindo medidas de vigilância que vão ser tomadas. Poderão fazer-se detenções domiciliárias e, se a situação se agravar, a prisão preventiva. A Bélgica não tem o mesmo quadro legal. Por isso, a Bélgica não vai deter amanhã 500 pessoas. É impossível. Mas na Bélgica é possível, julgo que o debate está em curso, votar leis que permitam criminalizar, por exemplo, as pessoas que vêm da Síria, o que não é o caso atualmente. Neste momento, é preciso provar que uma pessoa cometeu um crime num dado lugar, a determinada hora, contra determinada pessoa. É, evidentemente, impossível.

euronews – Considera, também, a possibilidade de se chegar a um sistema europeu centralizado de inteligência?

CM – A inteligência é bastante complexa. Não se pratica da mesma forma em todos os países. Se considerarmos países extremamente liberais, como os países escandinavos ou a Holanda de um lado, ou a França e Inglaterra do outro, percebemos que não existe a mesma inteligência. A começar pelos métodos. Os franceses e os ingleses, por exemplo, têm serviços ofensivos. Quer dizer que atuam no estrangeiro, de forma ilegal, entenda-se, o que permite também conduzir operações de eliminação. Os dinamarqueses, suecos, belgas e luxemburgueses nunca o farão. Não existe a mesma cultura em matéria de inteligência. De forma geral existe um renitência em partilhar o segredo. Procura descobrir-se o segredo, mas não partilhá-lo.

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