O Mali e o jihadismo: Uma cronologia

O Mali e o jihadismo: Uma cronologia
De  Antonio Oliveira E Silva com AFP E LE MONDE
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button

O ataque de sexta-feira contra um hotel da capital Bamako foi apenas mais um numa lista que atentados um pouco por todo o território maliano e que provocaram dezenas de vítimas, entre cidadãos malianos e estrangeiros.

PUBLICIDADE

O ataque de sexta-feira no hotel Radisson Blu, situado em Bamako, capital do Mali, durante o qual um grupo de homens armados sequestrou 170 pessoas, terminou com um assalto levado a cabo por forças malianas em cooperação com militares estrangeiros e provocou dezenas mortos de diferentes nacionalidades. Considerado um hotel de luxo em Bamako, Radisson Blu é conhecido na cidade africana como ponto de encontro para os estrangeiros que aí vivem.

US State Department confirms one American is among at least 19 people killed in Mali hotel attack: https://t.co/wS0eoMNhke

— The Associated Press (@AP) 20 Novembre 2015

O ataque foi reivindicado numa página de Internet mauritana pelo grupo jihadista al-Murabitun, liderado pelo argelino Mokhtar Belmokhtar, no próprio dia. Belmokhtar foi dado como morto pelos Estados Unidos em diversas ocasiões. Os militantes islamitas disseram ainda que se tratava de uma operação realizada “em cooperação” com o grupo jihadista Aqmi (al-Qaeda no Magrebe Islâmico).

Mali/FLASH: Al-Mourabitoun claims responsibility for the attack in the hotel in Bamako https://t.co/Rt9jdBqF0b

— ESISC (@EsiscTeam) 20 Novembre 2015

No interior do hotel terá sido encontrada, no entanto, uma bandeira do autoproclamado Estado Islâmico ou Daesh (pela sigla em língua árabe), segundo agências noticiosas no terreno.

Em março deste ano, a agência de notícias mauritana al-Akhbar divulgou uma suposta gravação na qual elementos do al-Murabitun jurariam lealdade a Daesh, informação desmentida dois dias depois pelo próprio Mokhtar Belmokhtar à mesma agência, reiterando “a sua fidelidade a Ayman al-Zawahiri (atual líder da al-Qaeda) nos caminhos da jihad”.

Depois de França, o Mali em estado de emergência

Num discurso transmitido na noite de sexta-feira pela ORTM, a televisão pública do Mali, o Presidente Ibrahim Boubacar Keita agradeceu o profissionalismo das forças de ordem do seu país.

O Presidente maliano anunciou ainda o início do estado de emergência em todo o território durante dez dias, em vigor a partir da meia-noite de sábado, um dia depois dos atentados. Segunda-feira, por outro lado, terá início um luto nacional de 3 dias.

Le Pdt #IBK a décrété l'état d'urgence sur toute l'étendue du territoire national pour dix jours à compter du vendredi 20 novembre 2015

— Presidence Mali (@PresidenceMali) November 21, 2015

MALI | Dans la foulée, le Conseil des ministres extraordinaire a décrété un deuil national de trois jours à partir du lundi 23 novembre 2015

— Presidence Mali (@PresidenceMali) November 21, 2015

Alguns dos clientes do hotel de contaram aos jornalistas que os terroristas falavam inglês entre eles. Foi o que disse também à AFP o conhecido cantor da Guiné-Konacri, Sékouba Bambino Diabaté, um dos primeiros a conseguir sair do hotel.

Foi em março deste ano que Bamako sofreu, pela primeira vez, um atentado terrorista jihadista. O alvo foi um bar da capital, muito frequentado por estrangeiros, tanto turistas como emigrantes, instalados na cidade. Morreram cinco pessoas, um belga e quatro franceses no atentado, posteriormente reivindicado por um grupo jihadista.

O exército francês interveio no Mali neste contexto de tensão, instabilidade e em plena guerra civil com a operação Serval, em janeiro de 2013. A operação foi um sucesso, ainda que os franceses tenham perdido 10 soldados. Em abril de 2013, quatro meses depois do início da operação, as tropas francesas começam a retirar-se. A missão termina de forma oficial em agosto de 2014. Segue-se a operação Barkhane, uma guerra rápida e eficaz, mas que falha a missão de resolver os problemas estruturais do poder no Mali, como as lutas internas e a questão dos rebeldes e dos islamitas.

As Nações Unidas, por seu lado, têm neste momento cerca de 11 mil capacetes azuis no Mali. Mais de 10 elementos de forças de paz na ONU presentes em território maliano foram vítimas de atentados jihadistas nos últimos 3 anos.

Cronologia do terrorismo jihadista no Mali

2012

Janeiro: Um grupo de rebeldes tuaregues do Movimento Nacional para a Libertação de Azawad lançam um ataque no norte do Mali, provocando a fuga em massa de civis para a vizinha Mauritânia.

Março: O Presidente Touré é deposto supostamente por não conseguir resolver a questão tuaregue. A 30 de março, os rebeldes tuaregues tomam o controlo de facto do norte do território maliano e declaram a independência de forma unilateral.

Durante 2012, diversos grupúsculos islamitas radicais passam por um periodo de fusão e reiteram, juntos, a independência do norte do Mali enquanro república islâmica, impondo a charia em cidades como Tombuctu.

2013

Janeiro: Os jihadistas tomam o controlo da cidade de Konna e anunciam a intenção de marchar sobre Bamako. O Mali pede ajuda a França e Paris assume rapidamente o controlo de Tombuctu.

Abril: A França começa a retirar as suas tropas

PUBLICIDADE

Junho:O Governo do Mali assina um cessar-fogo com os rebeldes tuaregues, rumo a novas eleições democráticas.

2014

Maio: O acordo de paz com os tuaregues é posto em causa e o grupo MNLA assume o contro da cidade de Kidal.

Outubro: Um grupo de funcionários das Nações Unidas é assassinado no norte do Mali no que foi o ataque mais violento contra membros da ONU no terreno até aos dias de hoje.

2015

PUBLICIDADE

Março: Cinco mortos em atentado contra um bar em Bamako.

Julho: Seis funcionários das Nações Unidas são assassinados no norte do Mali.

Agosto: Dois soldados malianos morrem em embuscada levada a cabo por jihadistas perto de Nampala. Pelo menos 12 mortos em ataque a hotel em Sevare

Novembro:Pelo 170 pessoas feitas reféns em ataque jihadista em hotel de Bamako que termina com dezenas de mortos depois de intervenção militar.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

ONU abandona Mali no momento em que os Wagner cimentam posição

Ressurgimento do terrorismo no Mali

Vítimas do 11 de março em Madrid lembradas no Dia Europeu em Memória das Vítimas do Terrorismo