Rosa Parks, 60 anos depois: Que mudou para os negros americanos?

Rosa Parks, 60 anos depois: Que mudou para os negros americanos?
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De  Ricardo Figueira
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Há exatamente 60 anos, esta mulher negra norte-americana fez história ao recusar-se a dar o lugar a um branco, no autocarro. Seis décadas depois, em que ponto está a igualdade nos EUA?

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Foi há exatamente 60 anos (1 de dezembro de 1955) que uma costureira negra norte-americana chamada Rosa Parks cometeu um ato de desobediência que veio a fazer história, ao recusar-se a dar o lugar a um homem branco, num autocarro da cidade de Montgomery, no Estado do Alabama. Os Estados a Sul, antigos Estados esclavagistas, viviam então o tempo da segregação racial.

Parks foi presa imediatamente. O caso viria a causar um boicote em larga escala aos autocarros nesta cidade norte-americana. Entre os líderes desse movimento, estava um certo pastor protestante chamado Martin Luther King Jr, que viria a tornar-se no líder incontestado do movimento pelos direitos cívicos, que teve o seu auge na marcha sobre Washington de 28 de agosto de 1963.

Porquê Rosa Parks?

Muitos desconhecem a verdadeira história de Rosa Parks. Por exemplo, ela não foi a primeira mulher negra a recusar-se a dar o lugar a um branco num autocarro nos Estados Unidos.

O caso já se tinha repetido outras vezes, incluindo protagonizado pela própria Rosa Parks. Não se sabe ao certo o que fez com que a desobediência do dia 1 de dezembro tenha sido “especial” e tenha desencadeado toda a bola de neve que se seguiu. Provavelmente, o gesto de Parks foi motivado pela libertação, dias antes, dos responsáveis pelo linchamento de um negro.

Outro facto pouco conhecido é que o lugar onde Rosa Parks estava sentada não era reservado a brancos, mas sim um dos lugares na frente do autocarro, onde os negros podiam sentar-se, mas só se houvesse lugares livres.

Rosa Parks continuou a ser um símbolo da luta pela igualdade até morrer, aos 92 anos, a 24 de outubro de 2005.

A herança, 60 anos depois

60 anos depois do gesto histórico de Rosa Parks, a comunidade negra tem, nos EUA, os mesmos direitos que todos os outros cidadãos. O direito de voto universal foi consagrado em 1965. 43 anos depois, os Estados Unidos elegeram, pela primeira vez, um presidente negro.

No entanto, há muitos aspetos em que, pelo menos a acreditar em certos movimentos de contestação, essa igualdade de direitos não passou do papel.

Além dos níveis de pobreza e desemprego claramente mais elevados, a comunidade negra norte-americana tem-se levantado, nos últimos anos, contra uma alegada desproporção de casos de violência policial. O caso de Ferguson, no verão de 2014, foi sintomático. A morte de um adolescente negro desarmado às mãos de um polícia branco, causou na altura uma onda de motins.

Pouco depois, foi revelado um vídeo mostrando a morte, por estrangulamento, de Eric Garner, ocorrida em julho desse ano. O homem, igualmente desarmado, foi vítima do excesso de brutalidade numa detenção aparentemente sem motivos, por parte da Polícia de Nova Iorque.

A onda de consciencialização para esta desigualdade levou à criação da ONG Black Lives Matter, com vista a lutar contra as injustiças e abusos de que a comunidade é vítima. Há, no entanto, quem responda com All Lives Matter critique esta organização por deixar de lado outros casos em que as vítimas não são negras ou por esquecer o reverso da medalha…

Certo é que, 60 anos depois do gesto histórico de Rosa Parks, mesmo se aos olhos da lei todos os cidadãos americanos são iguais, o mesmo não se pode dizer em termos de posição social e tratamento por parte das autoridades.

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