Laura Boldrini: "É preciso caminhar para uma União Federal de Estados"

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Em entrevista exclusiva à Euronews, Laura Boldrini, a presidente da Câmara dos Deputados em Itália, comentou os desafios com que a Europa se depara

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Em entrevista exclusiva à Euronews, Laura Boldrini, a presidente da Câmara dos Deputados em Itália, comentou os desafios com que a Europa se depara.

Margherita Sforza, euronews – O primeiro-ministro italiano Matteo Renzi lançou uma provocação nas redes sociais ao referir que “se a Europa não mudar de estratégia, as instituições europeias correm o risco de se tornarem aliadas de Marine Le Pen e da Frente Nacional.” Concorda com esta afirmação?

Laura Boldrini, presidente da Câmara dos Deputados em Itália – Acredito que o resultado da Frente Nacional se baseia no descontentamento, nos sacrifícios, na austeridade, na falta de perspetiva e no medo. Como é que se pode dissuadir os cidadãos de pensar que este é o caminho para a solução dos problemas? Mostrando que a solução está nas mãos da Europa e que se a Europa não se mexer fará um favor a todos os que querem a desintegração do velho continente.
Por isso, a Europa precisa de se mexer agora e de tomar medidas que beneficiem as pessoas, de maneira a que essas pessoas possam perceber que é uma vantagem estar na Europa. Este é um momento de escolhas históricas.

euronews – A Europa parece já não fazer sonhar. Mesmo em países como Itália, tradicionalmente bastante europeístas. De acordo com dados do Eurobarómetro, apenas quatro em dez italianos acredita que a adesão à União Europeia beneficiou o país. Como fazer os italianos e os cidadãos europeus voltarem a apaixonar-se pela Europa?

Laura Boldrini – Temos de valorizar tudo o que a Europa nos deu até agora. Mas não podemos esquecer que gerações de jovens, nascidos nos anos 90, apenas conhecem uma Europa que é sinónimo de sacrifício. Em muitos países europeus é assim. A Europa é sinónimo de falta de perspetiva, de futuro. Precisamos de ver a Europa como um carro que nos transportou por um longo caminho, mas agora a família cresceu e o motor antigo já não é suficiente. Precisamos de um modelo atual. Para fazê-lo, temos de regressar aos nossos valores, a uma política económica que não se baseia apenas na austeridade e em que o crescimento é central.

euronews – Esteve em Bruxelas para apresentar um documento que já foi partilhado por nove parlamentos nacionais, apelando a mais integração europeia. No entanto, existem outros Estados-membros que pedem menos Europa. Não é um pouco anacrónico falar de mais Europa?

Laura Boldrini – De todo. Deparamo-nos com uma crise enorme, com desafios, com ameaças – de terrorismo a alterações climáticas – com o fluxo migratório.Podemos superar tudo isto se estivermos unidos, se decidirmos em conjunto as políticas a serem implementadas. Fruto do medo, da confusão que reina na Europa, algumas pessoas aproveitam a oportunidade para dizer que temos de deitar tudo fora. Mas isso não seria um favor para os cidadãos europeus, seria induzi-los em erro. Nós, porta-vozes de Parlamentos, que assinámos este documento, estamos prontos para uma soberania partilhada. Queremos uma Europa mais cuidadosa com matérias sociais, uma política económica que não negligencia o impacto social. Dizemos que é preciso caminhar para uma União Federal de Estados.

euronews – Foi porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados durante bastante tempo. Como é que se sente ao ver tantos países europeus fecharem as portas a milhares de refugiados?

Laura Boldrini – Todos os nossos tratados fundadores contemplam o direito ao asilo, que é um direito fundamental na União Europeia, faz parte da identidade da União. Se fossemos capazes de encontrar uma solução com todos os Estados-membros não haveria crise. Recordo que países como o Líbano acolhem 1.5 milhões de refugiados numa população local de 4.5 milhões de pessoas. Como é que a União Europeia, com 28 Estados-membros, diz que 800 mil pessoas é demasiado? Não é credível. Perdemos a nossa reputação se não conseguirmos organizar uma receção digna para pessoas que os nossos tratados nos pedem para proteger. Temos de proteger requerentes de asilo em vez de nos protegermos deles.

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