O "sacrifício" xiita na Arábia Saudita

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Euronews: Gilles Kepel é especialista sobre o Islão e o mundo árabe contemporâneo. O que pensa desta crise entre a Arábia Saudita e o Irão? Gilles

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Euronews: Gilles Kepel é especialista sobre o Islão e o mundo árabe contemporâneo. O que pensa desta crise entre a Arábia Saudita e o Irão?

Gilles Kepel: “Assistimos a 47 execuções na Arábia Saudita, o que é muito. 43 eram opositores sunitas, radicais ligados à Al-Qaeda ou ao DAESH que, naturalmente, por questões tribais, são muito mais perigosos para o poder da Arábia Saudita, do que as minorias xiitas. Para fazer passar, mais facilmente, a execução de todos os sunitas radicais, o Governo saudita entregou, e ouso dizer, em sacrifício, o pequeno número de xiitas que foi executado. Temos a impressão de que a Arábia Saudita se encontra entre a espada e a parede. Por um lado, e a nível interno, os sauditas sentem-se obrigados a lutar contra o extremismo islâmico, sunita, que um determinado número de empresários sauditas financiou. Financiaram a Al Qaeda e o DAESH, grupos que hoje se voltam contra eles. Ao mesmo tempo, e à frente dos sauditas está o Irão que quer ter uma posição de hegemonia no Golfo. A isso junta-se, também, o preço do barril de petróleo abaixo dos 40 dólares e isto coloca um grande problema de equilíbrio orçamental à Arábia Saudita. Aumenta as reivindicações, sobretudo, entre todos aqueles que foram excluídos da linha sucessão que acaba de ter lugar na Arábia Saudita.”

Euronews: Considera que este comportamento relacionado com o petróleo pode ter consequências para o resto do mundo, nomeadamente, em termos económicos?

Kepel: “O problema é que foram os sauditas que provocaram a queda dos preços, aumentando a produção. Porquê? Porque eles queriam atingir os Estados Unidos que colocam no mercado o petróleo de xisto e ameaçam a supremacia da Arábia Saudita, a supremacia do petróleo no Médio Oriente. Se os preços forem muito baixos, os produtores de petróleo de xisto americanos deixam de poder produzir e os sauditas podem dominar o mercado. O problema é que existe um período de vários meses ou de vários anos até que esta estratégia funcione e durante este tempo, a monarquia pode enfrentar dificuldades financeiras, políticas e sociais terríveis.”

Euronews: Sabemos que as duas potências regionais combatem no terreno, na Síria e no Iémen. Considera que esta situação pode ter consequências nestas duas guerras, em particular?

Kepel : “Algumas potências encaram esta situação com muita inquietude. A Rússia que é hoje uma petromonarquia. A queda do preço do petróleo inquieta e muito o Sr. Lavrov. O ministro dos Negócios Estrangeiros russo ofereceu-se para mediar a crise entre o Irão e a Arábia Saudita, que é extraordinário. Isso significa que os Estados Unidos não o podem fazer. É também uma forma de mostrar que os Estados Unidos, do Presidente Obama, se colocaram – de uma certa forma – fora da corrida no Médio Oriente.”

Euronews: Pode-se dizer que esta situação beneficia o autoproclamado Estado Islâmico?

Kepel: “A crise diplomática entre o Irão e Arábia Saudita afeta os dois países, mas também a região. Isto porque se há uma crise, com esta intensidade, a coligação contra o DAESH não pode funcionar.”

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