Obama/Juncker: um discurso sobre o estado da União a duas velocidades

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O primeiro discurso à nação foi feito por George Washington, antes de uma sessão do congresso, a 8 de janeiro de 1790. Mas a iniciativa política nem

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O primeiro discurso à nação foi feito por George Washington, antes de uma sessão do congresso, a 8 de janeiro de 1790. Mas a iniciativa política nem sempre foi seguida à risca e só em 1913 voltou a haver um discurso anual ao vivo de um presidente com Woodrow Wilson.

O conceito foi importado para a Europa e o discurso do State of the Union passou a ser uma prática anual do Parlamento Europeu a partir de 2010. Mas quais as semelhanças e as diferenças entre estes discursos? Fomos espreitar o último discurso do estado da União de Barack Obama, em Washington, e o de Jean-Claude Juncker em setembro, do ano passado, em Estrasburgo.

Pode encontrar todo o discurso de Obama aqui”:http://www.euronews.com/2016/01/13/state-of-the-union-2016-full-text/ e o de Juncker aqui

O contexto

Para Obama este foi o último discurso. Não precisa de ganhar votos e a mensagem do presidente norte-americano reflete isso mesmo. Destacou o legado histórico da sua administração e criticou os que se mostram contra a mudança dos tempos.“ Referiu que o declínio da economia norte-americana não passa de “uma ficção política” e que os Estados Unidos são a nação mais potente do mundo.” Anunciou, também, uma “nova campanha nacional” contra o cancro em nome dos “entes queridos que todos perdemos e pela família que ainda podemos salvar.”

Já para Juncker foi o primeiro discurso depois de assumir a presidência da Comissão Europeia. O objetivo era definir uma agenda mais precisa para o seu mandato. Tinha mais liberdade para falar sobre os fracassos do passado e optou por uma mensagem mais contundente e mais sombria: “a nossa União Europeia não está bem.”

O formato

O formato do discurso de Obama é mais simples quando comparado com o de Juncker. Além de ser um orador de renome, Obama fala numa única língua: a materna. Conta com um teleponto e, além disso, não é interrompido. Assim sendo, em 59 minutos o presidente norte-americano utiliza 5,481 palavras.

A tarefa de Juncker é mais difícil. Desde logo, trata-se de um discurso com o dobro do tempo – com 10.031 palavras – e em diferentes línguas: alemão, inglês e francês. Além disso, teve de lidar com os comentários de alguns deputados europeus – como Nigel Farage – e de “um membro italiano Liga Norte”: http: //www.euronews.com/2015/09/ 09 / MEP-veste-merkel-mask-in-aparente-anti-imigrantes-protesto / que se aproxima dele com uma máscara de Angela Merkel. Como resultado, Junker acaba por encurtar o discurso. Ainda assim, e mesmo depois de passar mais de 80 minutos a falar, não consegue concluir o discurso.

Nomes e números

Obama faz, frequentemente, referência a figuras históricas dos Estados Unidos: Lincoln, Washington, Roosevelt, Edison, Luther-King, os Irmãos Wright e Sally Ride, entre outros. Mas está a poupar nos números. No discurso deste ano, apenas, fez referência a cerca de uma dúzia de estatísticas e a maioria dos números foram arredondados.

Juncker não faz referência às pessoas que mudaram o rumo da Europa ou estão na origem da sua história. Os nomes evocados são, essencialmente, os de Schulz, Mogherini e Timmermans. Também, não mostra ser um adepto da precisão no que toca a números e a estatísticas (regista 52 referências em 10.031 palavras).

Linguagem h3>

Barack Obama é um homem de ação. Pelo menos é o que revela o discurso do presidente norte-americano a julgar pelo vocabulário utilizado. Entre as palavras mais usadas estão: “América”, “pode”, “mundo”, “vai”, “pessoas”, “trabalho”, “ano” e “justo.” Destaque, ainda, para “amor” empregue cinco vezes por Obama.

A linguagem de Juncker é mais técnica e menos emotiva. A palavra “amor” não entra no vocabulário do luxemburguês neste tipo de discurso ao contrário de palavras como “União Europeia” e “Comissão”. Do léxico do presidente da Comissão Europeia fazem, também, parte termos como “Estados”, “Europa”, “Grécia” e “Euro.”

O arranque do discurso sobre o estado da União é completamente diferente quanto comparamos Junker e Obama. O primeiro começa por explicar que “está expressamente previsto pelo Acordo-Quadro que rege as relações entre o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia.” Enquanto, Obama capta a atenção do público com uma piada: “sei que alguns de vocês estão impacientes para voltar a Iowa.”

h3>Retórica h3>

Habituados a falar em público, Obama e Juncker dominam a arte da oratória e recorrem frequentemente às mesmas técnicas e uma delas é a repetição.

Obama viu e repetiu: “Eu vejo isso no trabalhador … Eu vejo isso no sonhador … Eu vejo isso no soldado …”, na tentativa de enfatizar a reta final do discurso. Ora veja:

Já Juncker lança um apelo à memória: “Já nos esquecemos (…)” com o objetivo de passar a mensagem sobre a situação dos migrantes.

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