Há soluções para ajudar a Síria?

Há soluções para ajudar a Síria?
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Em vésperas da conferência humanitária de Londres, perguntamos: como responder à tragédia que o conflito sírio continua a provocar? É possível uma

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Em vésperas daconferência humanitária de Londres, perguntamos: como responder à tragédia que o conflito sírio continua a provocar? É possível uma solução política comum?

As ajudas internacionais são manchadas pelas acusações do governo sírio, que diz que os rebeldes intercetam os alimentos enviados à população. Por seu lado, os rebeldes acusam o poder de matar à fome os habitantes das cidades cercadas. Que soluções estão em cima da mesa, numa altura em que o grupo Estado Islâmico controla grande parte do país? Até que ponto é possível pensar em planos de longo prazo – na Educação, por exemplo -, quando o conflito parece estar longe de terminado?

Os nossos convidados no Parlamento Europeu, em Bruxelas, foram: Alyn Smith, membro da Comissão de Assuntos Externos, do Grupo dos Verdes no parlamento e do Partido Nacional Escocês; Alexandre Polack, porta-voz da Comissão Europeia para a Ajuda Humanitária, Cooperação Internacional e Desenvolvimento; e Sara Tesorieri, conselheira sobre políticas humanitárias na Oxfam;

Chris Burns, euronews: Numa altura em que há mais de quatro milhões de refugiados e uma guerra que dura há cinco anos, porquê este encontro agora em Londres e que medidas podem ser tomadas?

Alyn Smith: Foram cinco anos de sofrimento e de muitos milhões de pessoas deslocadas, feridas, mortas, que ficaram sem familiares. A conferência humanitária de Londres é importante. Mas o que é urgente é um cessar-fogo humanitário, para evitar que as pessoas continuem a fugir das suas casas. O enviado da ONU, Staffan de Mistura, apresentou várias propostas construtivas. Temos de concertar esforços para alcançar uma solução política durável.

euronews: Se não houver um cessar-fogo, não é possível haver mais ajuda?

Alexandre Polack: Esta é uma crise sem precedentes, talvez uma das piores crises humanitárias desde a Segunda Guerra Mundial. A União Europeia já mobilizou 5 mil milhões de euros. Mas não é suficiente porque temos de conseguir chegar às pessoas. Temos de criar mecanismos de apoio a longo prazo, assim que haja uma solução política, de forma a construir um futuro para aquele país. Mas ainda não chegamos aí.

euronews: Porque é que não se consegue canalizar ajudas neste momento?

Sara Tesorieri: Um dos grandes problemas é, de facto, o acesso às pessoas. É preciso dinheiro. Neste momento, o financiamento cobre apenas cerca de 60% das necessidades. Mas também temos de poder concretizar as coisas no terreno. Há várias resoluções da ONU que ainda não foram implementadas. E isso tem de acontecer, caso contrário as pessoas que precisam de ajuda não a vão ter.

euronews: Os combates prosseguem, não há acesso ao terreno ou é limitado, e não se aplica um cessar-fogo. Como é que se convence a comunidade internacional, já desgastada, a providenciar mais dinheiro?

Alyn Smith: O problema não está em canalizar fundos estrangeiros para a Síria. O problema é que a maior parte do dinheiro é utilizado para comprar armas, tanques e bombas, não para a ajuda humanitária. É uma guerra por procuração, que envolve vários Estados do Golfo, incluindo o Irão. O conflito internacionalizou-se, mas não a procura de uma solução conjunta. A União Europeia tem realmente de se mobilizar a nível político para alcançar uma solução durável, que não inclua Assad, para que haja paz.

euronews: Porque é que a Comissão Europeia não está a tomar mais medidas?

Alexandre Polack: Só a Comissão já mobilizou mais de 500 milhões de euros para ajuda humanitária. Não chega porque a crise é global e toda a gente tem de participar. O dinheiro está a ajudar as pessoas em necessidade. Há várias missões humanitárias. O comissário Christos Stylianides desloca-se frequentemente ao terreno, acabou de visitar a fronteira entre a Turquia e a Síria. Fazemos a diferença para salvar vidas.

euronews: As ajudas estão realmente a chegar onde devem?

Sara Tesorieri: As ajudas estão a chegar a muita gente em necessidade. É possível dar apoio na Síria, é o que estamos a fazer. Não conseguimos aceder a todos. Eles não têm acesso a nós. Isso tem de mudar e há várias oportunidades para o fazer. É uma questão que todos os envolvidos têm de colocar no topo da agenda política. Há membros do Conselho de Segurança da ONU envolvidos no conflito. E eles têm de fazer a parte deles em relação aos aliados no terreno.

euronews: Tal como vimos na peça inicial, ambos os lados se acusam de impedirem o acesso aos alimentos enviados. A ajuda alimentar tornou-se, neste sentido, numa espécie de arma. Como é que se evita isso? As conversações de paz podem dar uma resposta a esta questão?

Alyn Smith: O enviado da ONU propôs o cessar-fogo em zonas específicas para fins humanitários. É este tipo de iniciativas que devem ser apoiadas. O trabalho que a Comissão Europeia tem feito é louvável. Mas vive-se num impasse, como acontece no Conselho de Segurança da ONU. Se os Estados-membros não defenderem os mesmos objetivos, a margem de manobra torna-se muito limitada. Só assim as coisas podem avançar.

euronews: Como é que a ajuda humanitária pode avançar quando a fome se tornou numa arma de guerra?

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Sara Tesorieri: É, mais uma vez, a questão do acesso. Só estando no terreno é que podemos garantir que as ajudas cheguem às pessoas certas. Os trabalhadores humanitários empenham-se arduamente para isso. Há formas de monitorizar, mas temos de estar no terreno. Por isso é que é tão importante haver conversações internacionais. É aí que a diplomacia serve o propósito humanitário e não o contrário.

euronews: É necessário criar corredores seguros ou zonas de exclusão aérea?

Alexandre Polack: O acesso incondicional às pessoas necessitadas é uma prioridade. O público e os trabalhadores humanitários sabem que há cenários extremos de fome. A União Europeia tem de estar na linha da frente desse combate. Estamos a financiar, por exemplo, o envio de ajuda para a cidade de Madaya. Outra questão que ainda não abordamos é a Educação. Qualquer solução política tem de passar por aí. Se as crianças – a geração perdida na Síria e nos países vizinhos – não tiverem acesso à Educação, podemos fazer tudo e mais alguma coisa, que não será possível construir um futuro.

euronews: A mesma pergunta: corredores seguros ou zonas de exclusão aérea?

Alyn Smith: Sem dúvida, as duas opções. Mas é preciso um acordo para forçar a aplicação.

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euronews: Cabe a quem fazê-lo?

Alyn Smith: É possível influenciarmos politicamente nesse sentido. Temos armas à nossa disposição. Literalmente, embora tenha reticências quanto à solução militar. Nós dispomos de fortes recursos políticos para negociar um processo de paz do qual Assad não faça parte.

euronews: No que diz respeito ao longo prazo, à educação e ao emprego. De que forma é que podemos planear soluções de longo termo, sobretudo para os campos de refugiados em torno da Síria?

Sara Tesorieri: Temos de ter em conta que muitos dos refugiados não vivem nos campos. Na verdade, até é melhor para muitos deles, porque assim têm mais acesso a empregos, a educação e a outras oportunidades. E podem sentir-se produtivos. Esta será uma questão muito relevante na conferência de Londres. Vários sinais indicam que os governos daquela região vão apresentar planos sobre esta matéria. E a comunidade internacional, incluindo a Europa, tem de estar preparada para fazer a sua parte.

euronews: Onde se situa a crise dos refugiados no encontro de Londres? É um argumento que pode convencer mais países a participar financeiramente?

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Alexandre Polack: A ajuda humanitária, a ajuda ao desenvolvimento contribui para combater as raízes dos problemas que são a pobreza e a guerra. A Comissão Europeia criou um fundo para a crise síria para onde canalizou 500 milhões de euros. É um começo. Nós queremos que os Estados-membros participem, queremos que outros países contribuam, queremos apoiar projetos muito específicos na Jordânia, no Líbano, na Turquia, nos países à volta. No Líbano, por exemplo: neste momento, 20% da população são refugiados. Não vivem em campos. Temos de ajudar a criar emprego. Mas é difícil, toda a gente tem de ajudar. Não pode ser apenas com o dinheiro dos contribuintes europeus, o setor privado também tem de se juntar. A crise é global, as respostas têm de ser globais.

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