Moscovo, Bruxelas e Budapeste: Triângulo de cirscunstância?

Moscovo, Bruxelas e Budapeste: Triângulo de cirscunstância?
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De  Euronews com António Oliveira e Silva
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Moscovo tem vindo a tentar, por todos os meios, superar as sanções impostas pela União Europeia. A Hungria, como um dos seus mais próximos aliados na União, pode vir a ser recrutada para ajudar.

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O papel da Hungria nas relações entre a Rússia e a União Europeia pode vir a concentrar atenções dos analistas mais uma vez, no momento em que o Primeiro-Ministro húngaro Viktor Orban foi convidado para uma visita a Vladimir Putin em Moscovo, dia 17 de fevereiro. O convite surge depois da viagem do Presidente da Federação Russa a Budapeste no passado, ano exatamente no mesmo dia. De acordo com fontes governamentais e alguns analistas, Putin precisa de aproximar-se dos seus aliados europeus para conseguir que as relações entre o seu país e a UE voltem aos tempos anteriores às sanções impostas por Bruxelas.

Hungria: Como pressionar sem passar dos limites

Orban pode vir a ser alvo de críticas em relação aos seguintes aspetos:

  • O polémico acordo sobre a extensão da central nuclear de Paks, um contrato de mais de 12 mil milhões de euros parcialmente financiado com um empréstimo significativo da parte de Moscovo. Bruxelas diz que a central poderá não cumprir com os requisitos da UE e já lançou várias investigações acerca do projeto.

  • Outros pactos económicos poderiam, por outro lado, prejudicar interesses dos Estados Unidos. A Hungria é membro da NATO, mas poderia vir a comprar cerca de 24 helicópteros militares e 8 helicópteros civis à Rússia, numa operação avaliada em 560 milhões de euros.

  • Fala-se na possibilidade de criar uma nova companhia aérea húngara com fundos russos.

  • Ainda que tal não tenha sido oficialmente confirmado até ao momento, alguns analistas esperam que Orban e Putin venham a debater as sanções Europeias impostas aos russos, assim como a existência de sanções russas contra a Hungria.

Medvedev: “Não fomos nós quem começou com isto, pelo que não somos nós quem deve acabar”

Claro que todos os acordos comerciais com a Hungria são importantes para a Rússia, embora nem sempre o sejam por motivos diretamente ligados aos lucros. Para Moscovo, manter laços fortes com a Hungria é uma forma de demonstrar a Bruxelas que a Rússia tem amigos dentro da União.

Embora alguns países da UE pareçam expressar alguma vontade em que as sanções contra a Rússia sejam, de certa forma, suavizadas, os Estados membros acabam de acordar uma extensão das sanções contra a Federação durante mais seis meses. Entretanto, os preços do crude provocaram uma quebra no crescimento da economia russa, demasiado dependente da venda de petróleo, o que poderia levar a uma necessidade de reatar as relações com Bruxelas.

No entanto e apesar da pressão, a Rússia não deseja apelar diretamente à União Europeia para que as sanções sejam levantadas, preferindo utilizar diferentes intermediários. O Primeiro-Ministro russo, Dimitri Medvedev disse recentemente à Euronews numa entrevista exclusiva que não foram os russos “quem começou com tudo isto e que, portanto, não lhes cabe acabar com a situação.”

De forma disctreta, a Rússia vai fazendo algumas tentativas para que alguns membros da UE apoiem os seus interesses dentro da organização, junto dos 28 Estados membros. De acordo com András Deák, investigador senior no Instituto de Economia Mundial (IWE), Moscovo tem vindo a procurar negociar o levantamento de algumas sanções, oferecendo, em troca, o levantamento de outras sanções retaliatórias contra Estados da União. Deák disse à Euronews que, na sua opinião, os países mais afetados pelas sanções russas (em particular os Estados economicamente mais frágeis, como a Grécia, o Chipre, a Itália e a Hungria) poderão vir a tomar decisões no sentido de uma reaproximação com a Rússia no quadro do Conselho da Europa para aliviar as tensões.

O que deseja a Hungria?

Apesar de que a Hungria apoie as sanções europeias, o facto de ser uma economia orientada para as exportações parece influenciar uma necessidade de resolução do conflito com a Rússia de forma discreta, para poder relançar as suas exportações para aquele país eslavo, exportações que caíram cerca de 50% nos últimos dois anos.

O interesse da Rússia pela Hungria: uma visão alternativa

No entanto, para o antigo Ministro húngaro dos Negócios Estrangeiros Péter Balázs, a Hungria pode ter ido demasiado longe, pelo menos aos olhos de Bruxelas, no que à sua aproximação à Rússia diz respeito. Sobretudo em relação à crescente dependência energética de Moscovo. Balázs acredita que a Hungria não tem sido o melhor dos Estados-membros da NATO e da UE, sobretudo porque tem vindo a procurar aliados no “lado errado.” Balázs diz que a Hungria poderia ajudar a melhorar as relações Rússia-UE, mas apenas no caso em que tal lhe seja pedido pelos parceiros europeus, algo que parece improvável. Balkázs, antigo Comissário Europeu para a Política Regional, pensa que a Rússia apenas vê na Hungria uma ferramenta eficaz para perturbar a estabilidade da União Europeia dentro das suas próprias fronteiras.

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